Café Alexandrino - O lado aromático da vida

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

"Eu sou o sol..."

Poesia


O que está no leste sou eu
e que sempre nascido
vivido e morrido
efêmero
como a vida
plural como os amigos
pois duro mais que o dia
vivo eternamente
no pensamento de quem me escuta
o sol sou eu
o centro de tudo
de tudo que meu mundo é...
na hora
na HORA sempre exato
vivo pelo tempo e espaço
afinal eu vivo,
eu sou o sol.

Antonio Moraes Filho (a leste do amigo, a oeste dos inimigos)

Dedico este poema a Ismael Alexandrino pela atenção. Ah!, e, é claro, pelo tema. Grande abraço companheiro. Como diria aquele que já se foi: "Força sempre!".

Dr.Antonio Moraes, obrigado pela homenagem que me fizeste. Fiquei lisonjeado e até mesmo emocionado com o poema que me dedicaste. São atitudes como essas que fazem valer a pena cultivarmos boas amizades, pautadas sempre em gentilezas sinceras e recíprocas. Amigo, já dizia a canção, é coisa pra se guardar no lado esquerdo do peito...e é aí que eu te guardo debaixo de sete chaves. Um fraterno abraço! Do seu colega e amigo, Ismael.


Ao som de 'Canção da América' - Milton Nascimento
Degustando Cafezinho Preto com Pão de Queijo
Imagem:'Eu aprendi...' - Ikki

Para Vanis, a valina de minha proteína

Poesia

Você nega respostas;
Mas não poupa perguntas;
Eu não sou como você me quer;
eu avanço os sinais, eu dispenso o doutor...

Te nego respostas que não tenho;
Te pergunto poque quero saber;
Eu também não sou como você me quer;
Observo os sinais, e disparo no doutor...

Respondo quando souber as respostas;
Não perguntarei quando te conhecer por inteiro;
Pode ser que nunca seja como você me quer;
Passarei a sentir os sinais, mas continuarei disparando...

Sempre no DOUTOR!

Antonio Moraes Filho e Vanis


Dedico este poema a Vanis, que tem o dom de escutar.


Ao som de 'Harmonia natural' - Elisa Queiroga
Degustando Chá de Menta com Chocolate
Imagem:'Casal' - Desirée Cabral

Dia dos pais

Poesia










Lembro de você e penso na possibilidade

prática do teorema probabilístico de "Chêiquispiri":
"Ser ou nao ser, eis a questão".
Ser ou não ser é a questão.
Mas ser é mandatório,
ser é singularidade,
ser não é opção,
ser é ser,
por si só e sem condições.
Por isso sou!...

Sou mais você!

Antonio Moraes Filho

Dedico este poema ao meu pai.


Ao som de 'Pai' - Fábio Júnior
Degustando Frapê de Pêssego
Imagem:'Pai e Filho' - Fla Barbieri

Trigenição

Poesia










Sou bruto de pai e
[ignorante de mãe.
DISCURSIVO de pai,
[POÉTICO de mãe.
PERNAS TORTAS de pai,
[CHARME de mãe.
CONTESTADOR de pai,
[PACIÊNCIA de mãe.
Com minha qualidades fui presenteado,
[no momento exato de rebentar.
Tudo que nasci, foi de pai e de mãe.

O resto aprendi com a outra,
[que chamam de vida,
[a filha da outra.
Que me ensinou os defeitos que tenho,
[e que amo.
Pois sem eles não seria quem sou.
E eu sou...

Antonio Moraes Filho

Dedico este poema ao Profº Dr. Gilberto Moura, que apesar de intransigente e inconsolável, nos ensinou com louvor o que é "trigenição", ou melhor "dupla genição".


Ao som de 'Coisas da vida' - Elisa Queiroga
Degustando Café Com Chantilly e Calda de Amarulas

Imagem:'O pensador moderno e a dúvida' - Fla Barbieri

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Britney Spears fez cesárea

Crônica


Quem nunca viu a Britney Spears sem calcinha? Eu já vi. Ela é até interessante, mas muito mal acabada.

É impressionante como essas mulheres famosas gostam de andar com saia sem calcinha por baixo. Fico imaginando se as anônimas que vemos todos os dias nas ruas têm esse distinto costume também.

As famosas, quando não estão sem calcinha, estão sem sutiã deixando, "por descuido", as tetas à mostra. Tenho grata satisfação em observá-las, claro. Algumas são até bonitas, redondinhas ou em formato de pêra. Outras não passam de geléias sob o desesperador efeito da gravidade. Mas fico imaginando o que pensam seus namorados. Com toda sinceridade do mundo, eu teria muito ciúmes se alguma namorada minha saísse por aí "descuidada" mostrando a vulva e os seios para as câmeras voyers do mundo todo.

Há poucos dias foi noticiado que a Britney foi internada numa clínica para desintoxicação. Ainda presente na mídia, noticiou-se também que ela rapara a cabeça. Fotos e mais fotos foram veiculadas dela com a cabeça raspada. E mais, com o sexo raspado também.

Quanta divulgação para um produto tão mal acabado! Sim, um produto. Pois a Britney Spears nada mais é que um produto da mídia. Ela faz questão de ser assim. E muito mal acabado. Pois, observando fotos que ela não está maquiada e photoshopada, logo se percebe que ela é cheia de espinhas, tem o cabelo muito seboso e as nádegas quadradas. Com um pouquinho mais de atenção na avaliação, facilmente se percebe que as partes fotografadas sem calcinha da pop-star estão bem assadas. Eu indicaria hipoglós (pomada) e o uso de calcinhas limpas de algodão.

Há, nisso tudo, um acalento para quem ainda a tem como símbolo e desejo sexual. Com um olhar um pouco mais clínico, pode-se concluir que sua elasticidade anatômica não fora prejudicada pelo nascimento dos seus dois filhos. Digo isso porque ela não teve seus partos normais, mas sim cesárea. Não pensem que fui eu quem fez, pois estes não foram. No entanto, é só olhar a cicatriz horrível que ela tem acima do seu sítio sexual. Para fazer um estrago deste, certamente o obstetra estava com muita pressa de fechar logo a cirurgia e pôr a mão na grana da milionária.

Quem tiver mais contato com ela, diga-lhe, por favor, que posso melhorar sua estética íntima. Cobrando alguns milhares de dólares a menos, posso tirar a grosseira cicatriz de sua cesárea com uma reparação plástica e cuidadosos pontos intra-dérmicos.

Pelo menos isso ela pode melhorar, coitada. Afinal, já bastam as assaduras, os porres alcoólicos, a cabeça raspada do cabelo seboso, os olhos roxos, a toxicomania e o enorme vazio que ela tem nos seus recônditos mais íntimos.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Sex Machine' - James Brown
Degustando Johnnie Walker Blue Label
Imagem:'Gravidez' - Giselle Negro Rocha

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Cuide bem dos meus olhos

Conto de bolso


Recentemente, li uma historinha intrigante. Num vilarejo perto de Viena, na Áustria, havia uma garota que era cega. Este fato deixava a garota muito triste e revoltada. Quando queria fazer alguma coisa e não conseguia, se irritava, chorava e passava longos momentos deprimida. Tinha raiva de si mesma e de quem a rodeava, exceto de uma pessoa: seu namorado.

Certo dia, no final da tarde, seu namorado a levou para passear numa encosta de uma montanha. Lá, ele descreveu para ela todos os detalhes daquele pôr-do-sol. Cada nuance, cada feixe de luz, cada gaivota que cruzava o céu compondo um lindo cenário.

A garota estava encantada com aquele momento. Eufórica, ela o abraçou e disse que se um dia ela pudesse ver o mundo, ela se casaria com ele.

Pouco tempo depois, ela foi abençoada. Alguém com um coração muito bondoso lhe doou um par de olhos. Ficou radiante de felicidade. Poderia ver o mundo como sempre sonhara.

Já recuperada da cirurgia do transplante, seu namorado foi visitá-la. “Agora que você pode ver, minha amada, você se casará comigo?”.

A garota ficou pasmada quando viu que seu namorado era cego. “Eu sinto muito, mas não posso me casar com você, pois você é cego!”.

O namorado soltou suas mãos e, afastando-se dela com o coração em lágrimas, disse: “Tudo bem...mas, se puder, aprenda daqui para frente a ver um mundo diferente e, por favor, cuide bem dos meus olhos.”

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Guarde nos olhos' - Elisa Queiroga
Degustando Suco de Uva
Imagem:'Amour' - Marcos Alex

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

O amor no tempo da república

Conto


Era uma casinha de taipa. A região de grandes platôs recortados por imensos paredões delineava o quintal daquele casebre no Planalto Central. Quem nunca ouvira falar no Planalto Central? Aquele mesmo. Aquele que fora escolhido para se edificar a capital federal. Justamente naquele rincão sem fim começa nossa história.

O alpendre baixinho, me fazia curvar todas as vezes que eu queria entrar. Curvava-me triplamente. Pois ainda curvava retirando o chapéu para o Seu Sinhô pai da moça e também quando a mão dela eu ia beijar. Que tez era aquela! Ainda posso senti-la nos lábios. Parecia a moça ideal. Fora ali bem perto, bem pertinho de onde se ergueria a capital federal.

Logo após meados do século, no afã da minha juventude, entrei num bom emprego e consegui um contra-cheque. Naquele mesmo ano, assumia a presidência Juscelino Kubitschek. Vibrei muito e, como entregador de cartas, sabia que o encontraria nos corredores. Aquilo para mim, que vinha de uma família de lavradores, era o máximo. Quem diria, Adalberto da Silva trocar a enxada pela bicicleta; parar de capinar e entregar marmita para entregar cartas todinhas em ordem?! Que progresso!

Todo sábado, depois de separar as cartas que entregaria na segunda, montava na possante amarela e pedalava nos corredores das chácaras rumo à casa da minha menina. Naquele corre-corre, parecia um lobbysta. Durante a semana nas salas provisórias da presidência e nos períodos de folga nos corredores rurais.

Pouco tempo empregado, fiquei noivo. Casaria no final do ano. De fato estava muito animado. Era uma época de uma euforia total em torno da construção da nova sede do governo. Enquanto a capital crescia, explodia no meu peito um amor cada vez maior por aquela donzela. Na verdade, confesso que não me lembro se ela ainda era donzela naquelas datas. Seu Sinhô que me perdoe, mas é que realmente a euforia era grande.

Toda a equipe do governo foi transferida pr'aquelas bandas. Em meados de junho, quando separava as correspondências do dia para serem entregues, uma delas me chamou a atenção: "À Senhorita Eleonora Lemes (Chácara Ribeirão das Perdizes, km 14)". Fiquei ansioso, pois estavam recrutando muitas pessoas para trabalhar no governo naquele período. Se Eleonora conseguisse um emprego, poderíamos antecipar nosso casamento para agosto. "Maravilha!" Pensei. Montei na cargueira-canarinho e voei naquele cerradão. Deixei a carta no vaso de plantas que ficava em baixo da janela do quarto do meu futuro sogro – Seu Sinhô –, pois haviam saído pra visitar um tio.

Custou-me esperar a chegada do sábado para tomar conhecimento do teor da correspondência. De longe, avistei Lê sentada debaixo de um pé de pequi perto da casa. Ela e dona Benta. Dona Benta me cumprimentou com um gesto e retirou-se para dentro do casebre. Achei um pouco estranho. Então Eleonora me disse que havia recebido uma proposta para mudar para cidade, para ser secretária do procurador da república e morar com ele. Sorri amarelo, peguei na sua mão e, por um breve instante, ouvi o silêncio gritar. Ela estava decidida. Queria melhorar de vida.

Depois de quase meio século, debruçado em pernas cansadas e repousando em cabelos grisalhos, ainda sinto aquela euforia me sufocar. Já com a vista um pouco embaçada, vejo uma estrada que levava até aquela casinha. Também vejo a porta do planalto em que tantas vezes entrei para levar cartas para o procurador. Sinto o perfume da secretária, vestida de terninho e cabelo amarrado, a filha de Dona Benta e do Seu Sinhô. Não conformo, contudo, que um simples carteiro entregara a propina, e fora o lobbysta do seu próprio amor.

Ismael Alexandrino


Ao som 'Esperando na janela' - Gilberto Gil
Degustando Cafezinho Preto
Imagem:'Casinha da Eleonora' - Ismael Alexandrino

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

No Carnaval, a mulher vira inimiga do feminismo

Crônica



O signatário do blog
'Josias de Souza - bastidores do poder' é um entusiasta da causa feminista. Repetindo: um arrebatado entusiasta. E é como simpatizante que o repórter dirige meia dúzia de frases às mulheres. Para começar, um conselho: esqueçam o homem. O macho já não é o grande inimigo. O maior adversário da causa feminina é a mulher.

Sim, isso mesmo. A mulher arrisca-se a virar um Silvério, um Judas do feminismo. Está-se falando de um tipo específico de traidora: a fêmea-foliã. Pode-se enxergar o Carnaval de diversos ângulos. Do ponto de vista sociológico, é uma manifestação genuína de nossa cultura popular. Submetido à ótica da Igreja, não passa de uma festa pagã.

Finalmente, filtrado pela lente da câmera de TV, o Carnaval transforma-se na bastilha do feminismo. A cada nova temporada carnavalesca, a luta libertária da mulher é como que esquartejada em meia dúzia de cenas. O cinegrafista a serve em pedaços. Esfrega na cara do telespectador ora o seio, ora a nádega. Ora o umbigo, ora o púbis.

Como se fosse pouco, a TV, por vezes, dá forma auditiva à degradação feminina. Despeja diante do telespectador pequenas entrevistas em que certas fêmeas expõem a pior forma de nudez: a nudez cerebral.

A mulher passa o ano tentando provar sua superioridade. E, nos escassos quatro dias de Carnaval, torna-se o mais suicida dos seres. As imagens acima dão uma idéia do desafio imposto pelas foliãs às feministas.

O repórter, embora simpatizante da causa, não é cego. Por isso, exime-se de condenar os machos que queiram testemunhar a autodegradação da fêmea. Elas, as feministas, que voltem a queimar sutiãs em praça pública. O retorno ao passado talvez seja, a essa altura, o único modo de salvar o movimento tradicional, hoje reduzido a um movimento de quadris.

Josias de Souza


Ao som da Sapucaí
Degustando Mousse de Limão
Imagem:'Mulata sambando' - Videolog TV

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Justifica-se em minha poesia

Poesia


Mulher, tu és minha temática.
Dramática, mas irresistível,
Faz-me ceder aos teus caprichos,
Tiques e chiliques.
E são muitos! – bem sei –,
Mas me é maior o prazer
De te ver sorrindo com os olhos
Apaixonada por mim.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'London London' - Caetano Veloso
Degustando Capuccino de Chocolate com Chantilly de Menta
Imagem:'Orquídea' - Marcelo F. Silva

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Urticária carnavalesca

Crônica

Não me ensinaram a gostar de carnaval. Definitivamente, não me ensinaram. E esta não-lição, aprendi muito bem.

Deixar de gostar de carnaval pra quem mora no Brasil é uma posição impopular, eu sei. Respeito profundamente quem gosta, mas peço de todo coração, que não tentem me converter. Podem ir “brincar” à vontade nas ruas imundas, ensolaradas, mal-cheirosas, lotadas de gente de toda espécie. Mas, por favor, me deixem. De preferência, em paz!

Mesmo sozinho em casa, não me sentirei solitário. Prometo. Não precisem achar o contrário e ligarem bêbados(as) em meu celular pra eu ir pra avenida. Primeiro: não gosto de telefone, menos ainda de celular. Segundo: não irei, mesmo que haja muita insistência. Se quiserem demonstrar que se lembraram de mim em um momento de muita euforia e demasiada alegria, mande-me uma mensagem de texto. Lê-la-ei em silêncio, feliz por ser lembrado, feliz porque você está feliz no meio da muvuca e mais feliz ainda por eu não estar e, mesmo assim, ser respeitado nos meus gostos mais peculiares.

Do carnaval – sempre disse –, gosto mesmo é do feriado e do ócio que este me proporciona. Sim, eu amo o ócio. Principalmente o contemplativo e o elaborativo.

Pular, ser empurrado, quase estuprado, ouvir buzinaço no pé do ouvido, urinar no pé dos outros, ter os pés, pernas e cabeça urinadas são coisas que pouco me atraem. Aquela coisa tudo muito colorida também não me apraz. Gosto muito de um mundo colorido, mas com a suavidade das cores de um arco-íris. Aquelas cores brilhosas e cintilantes típicas de carnaval não. Acho-as piegas, de muito mau gosto, feias mesmo.

Escolas de samba de São Paulo, o corredor da Sapucaí no Rio, o tão badalado carnaval da Bahia, o Galo da Madrugada no sol calorento de Recife, os Bonecos de Olinda em Olinda...não me perguntem nada sobre isso daqui a 5 dias. Pois não terei visto nenhum deles, não saberei opinar sobre quaisquer sambas-enredos. Aliás, já opino agora, de antemão: não gostei. Ponto.

Quem gosta, no entanto, que aproveite a festa com todos os prazeres que ela puder proporcionar. Cheire muito lança-perfume como se fosse o último dia da vida, pois, após uma parada cardio-respiratória, realmente, poderá ter sido. Transe bastante, com o máximo de pessoas que conseguir; de preferência, sem camisinha, para pegar o maior número de doenças possíveis. Brigue como um marginal possuído pelo demônio. Ingira álcool até entrar em coma alcoólico, bater a cabeça no meio-fio e ficar mais seqüelado que já é para o resto da vida. Bata o carro seu carro, o do seu pai, de mais uns dois membros da família e, também, o do seu melhor amigo. Amigo é pra essas coisas. Fume todos os baseados que conseguir antes de seus pulmões entrarem em colapso e sua cabeça explodir de loucura. Discuta com a namorada, com o namorado, com o pai, com a mãe e com todos os filhos das mães que aparecerem em sua frente.

Curta bastante o carnaval e, se alguma vida lhe restar, volte pra casa.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'All those thing' - John Pizzarelli
Degustando Torta de Abacaxi
Imagem:'Caminho' - Kelly Fernandez

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Não quero saúde, quero é carnaval

Crônica


O Governo Brasileiro acabou de cortar mais de 5 bilhões de reais da verba destinada à saúde, segundo a Folha Dinheiro em Brasília.

Ah!, mas para quê ter saúde? Para quê saúde para seu filho? Para quê saúde para o povo? O negócio é carnaval e esmola. Saúde é para quem não tem com o quê se divertir. E nós temos! Afinal, somos o país do carnaval, a maior e melhor festa surubal do país.

Às vezes, falta-se papel para solicitação de exames nos hospitais públicos. Mas, para quê papel? Médico tem que fazer milagres. Papel, exames, campo cirúrgico, soro fisiológico, fios cirúrgicos, antibióticos para os pacientes...isso tudo são coisas desnecessárias, supérfluas! Coisa de gente que não tem o que fazer!

Hoje, durante uma cesárea que eu estava no CISAM (Maternidade da Encruzilhada, Recife-PE, referência em atendimento materno-infantil), a energia do hospital acabou nada mais nada menos que 4 (isso mesmo: quatro!) vezes durante a cirurgia. Sim, claro que o hospital tem gerador elétrico e depois de algum tempo ele assume a energia. Mas, imagine quão agradável você estar com o bisturi na mão, fazendo um corte no útero para retirar um bebê pré-maturo que está em sofrimento fetal, e você tendo que retirá-lo o mais rápido possível, e a energia simplesmente acaba, você fica no escuro com o útero sangrando, sem poder retirar o bebê! Que coisa mais agradável, não é?! E depois, você precisa de mais um fio cirúrgico para fechar a cirurgia e, simplesmente, não tem mais um fio cirúrgico (cat-gut simples 2.0) no hospital!

Depois os culpados são os médicos! Só não se fala que o número de atendimentos aumentou demais e a verba não foi repassada para o hospital. Assim, as contas de energias não foram devidamente pagas e os materiais básicos necessários não foram comprados.

Bom, mas isso é besteira! Para que energia no hospital se o FREVO em Recife está completando 100 anos e precisa de muita energia para alimentar as dezenas de Trios Elétricos que estão na rua comemorando?

Agora é hora do circo! Ruim disso tudo é que os palhaços otários somos nós, contribuintes, médicos, pacientes, pessoas em geral que necessitam de atendimento com um mínimo de decência e respeito.

Papel para solicitação de exames? Energia para ligar luz dentro de uma sala de cirurgia? Energia para manter respirador em UTI ligado para não matar gente? Fio cirúrgico? Que grande besteira isso tudo, não se precisa disso!

Papel é para fazer bandeirolas, ‘fru-fru’ e confetes... Energia é para Trio Elétrico e festas de Colarinho Branco... Fios são para amarrar bandeirolas piegas coloridas nos postes da cidade escrito "é tempo de carnaval, é tempo de festa"!

Vamos lá, gente, em uníssono: "É ritmoooo, é ritmo de festa! Rárráê!" . Grande festa! Belo palco! Que fantástico são os Bonecos de Olinda, os fantoches do Brasil, os palhaços cidadãos.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Bye bye tristeza' - Sandra de Sá
Degustando Café Preto com Raspas de Canela
Imagem:'O Fastino' - Pedro, o viajante

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Saudade

Poesia

Saudade é como coceira: não temos
como negar a nós mesmos. – Sentimos...
Apenas sentimos... Se desistimos
de sentir, volta e de novo sofremos!

E se dentro da saudade, insistimos
em negá-la, grave erro cometemos.
Melhor sentir aquilo que não vemos,
mas sentimos, do que negar que ouvimos!

Sim... Ouvimos sua voz, cochichando!
Falando das lembranças que ficaram;
fazendo-nos reviver os enlevos.

Saudade já chega nos acordando.
Saúda os sentimentos, os relevos,
e nos leva a lugares que passaram!

Avaniel Marinho


Ao som de 'Chega de saudade' - Tom jobim e Vinícius de Moraes
Degustando Leite achocolatado
Imagem:'Amizade colorida' - Franchetti

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Desenho de mulher

Poesia


Dê-me, Senhor, por obséquio,
Lápis-de-cor e alguma inspiração,
Pois preciso dar forma ao meu amor.

Pretendo desenhar com o preto seus cabelos longos
Pintarei com o rosa-claro sua aveludada têz
Precisarei do verde para dar forma aos seus lindos olhos
Peço, também, o vermelho para criar seus lábios macios
Presumo que o rosa e o bege me servirão para delinear seu corpo
Por capricho, ainda com eles, far-lhe-ei um par de pés
Para caminharem - tão somente - em minha direção.

E aí, meu Senhor, Te pedirei o branco
Pois quero criar um coração cheio de paz e amor.
Só então, esculpirei suas mãos delicadas
Bem entrelaçadas com as minhas.

Assim, pedirei, por fim, que cries, meu Deus,
Um lápis transparente e, com cuidado,
Manuseio-o soprando vida nesse meu amor
A fim de que possamos caminhar felizes
Pelos canteiros floridos da eternidade.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Se todas fossem iguais a você' - Tom Jobim
Degustando Café Preto com Pão de Queijo
Imagem:'Ila, meu amor' - Ismael Alexandrino

sábado, 10 de fevereiro de 2007

Quero viver

Crônica


Quero viver sem as exigências religiosas que não consideram que sou pó. Não aceito mais que continuem demonizando minhas inadequações; não admito que tentem me oprimir com culpas legalistas. Estou, a duras penas, me construindo, portanto, não me submeterei a pedradas. Tento, Deus sabe como, ser sensível à voz do Nazareno e não tolero gritos demagógicos de falsos santos, que procuram mostrar ao mundo o que nunca foram.

Quero viver sem as cobranças impiedosas de quem só deseja me usar. Não, não pemitirei amizades pontuais e interesseiras. Decidi não mais conviver com colegas que cobram a correção dogmática de seus pares. Quero ser livre para pensar e não escandalizar, sonhar e não constranger, rir e não decepcionar, chorar e não entristecer. Para mim, chega de ambientes ajeitadinhos. Não quero ser hipócrita para só mostrar minha vida ou família através de fotografias, em que todos posam sorrindo.

Quero viver sem discursos idealizados. Não quero papagaiar conceitos e verdades tirados de livros teológicos, mas que não têm liga nenhuma com o drama humano. Chega de sermões recheados de jargões, que impressionam pela euforia, mas não significam coisa nenhuma na hora em que uma família tem que esperar no corredor da Unidade de Tratamento Intensivo ou retorna do cemitério. Recuso continuar promovendo ambientes religiosos emocionantes, restritos a momentos esporádicos. Não quero voltar para casa em paz e, cinicamente, abandonar os que me ouviram à dureza da vida.

Quero viver sem a obrigatoriedade de manter-me sempre coerente, grave, e acima de tudo, correto em minhas inquietações existenciais, filosóficas ou espirituais. Não quero continuar me conformando às expectativas dos fariseus de plantão. Não temerei os cenhos franzidos dos doutores da lei, que conhecem a raiz grega de cada palavra da Bíblia, mas são indiferentes ao sofrimento das multidões; prefiro caminhar ao lado de pecadores aos ambientes asfixiantes dos fundamentalistas, onde as opiniões são tão fortes que não se toleram contradições.

Quero viver sem medo de rótulos. Quero carregar a memória do meu pai, que foi preso político, mas nunca cedeu em suas convicções, mesmo sob as ameaças da ditadura militar. Ele não escondeu seu socialismo quando isso significava receber o estigma de subversivo e terrorista.

Quero viver parecido com Jesus, meu grande herói. Ele foi livre, descompromissado com as instituições e amigo de marginalizados. Quero seguir seus passos ainda que incoerente, claudicante, perplexo ou apavorado.

Sei que essa aventura me consumirá pelo resto de minha vida, mas é o que quero.

Ricardo Gondim


Ao som de 'O que é o que é' - Gonzaguinha
Degustando Kiwi com Leite Condensado
Imagem:'Pulo sincronizado' - Carlos Henrique

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Tempo que foge

Crônica


Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo.

Não vou mais a workshops onde se ensina como converter milhões usando uma fórmula de poucos pontos. Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos. Não gosto de assembléias ordinárias em que as organizações procuram se proteger e perpetuar através de infindáveis detalhes organizacionais.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de "confrontação", onde "tiramos fatos à limpo". Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.

Já não tenho tempo para debater vírgulas, detalhes gramaticais sutis, ou sobre as diferentes traduções da Bíblia. Não quero ficar explicando porque gosto da Nova Versão Internacional das Escrituras, só porque há um grupo que a considera herética. Minha resposta será curta e delicada: - Gosto, e ponto final! Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos". Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.

Já não tenho tempo para ficar dando explicação aos medianos se estou ou não perdendo a fé, porque admiro a poesia do Chico Buarque e do Vinicius de Moraes; a voz da Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis, Thomas Mann, Ernest Hemingway e José Lins do Rego.

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a "última hora"; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus.

Caminhar perto dessas pessoas nunca será perda de tempo.

Ricardo Gondim


Ao som de 'Sou feliz' - Horatio Gates Spafford
Degustando Chá de Camomila
Imagem:'Nuança da paz' - Anderson Alarcão

Receita de Mulher

Poesia


As muito feias que me perdoem,
Mas beleza é fundamental.
É preciso que haja qualquer coisa de dança,
qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República [Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da [aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que tudo seja belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Eluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como ao âmbar de uma tarde. Ah, deixai-e dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos, então
Nem se fala, que olhem com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) e também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é, porém, o problema das saboneteiras: uma mulher sem [saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mais que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de 5 velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas bem haja um certo volume de [coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima [penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!)
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos, nos braços, no dorso e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca [inferior
A 37° centígrados podendo eventualmente provocar queimaduras
Do 1° grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro da paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que, se se fechar os olhos
Ao abri-los ela não mais estará presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer [beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ele não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.

Vinícius de Moraes


Ao som de 'Garota de Ipanema' - Tom Jobim
Degustando Chá de Menta
Imagem:'Living Statue' - João Freitas

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

GLOBO proibe documentário no Brasil

Provocações - Documentário

O Brasil, desde seu nascimento para o mundo ocidental, tem sofrido seguidas ameaças, sejam elas de fora, sejam elas de dentro. Mas depois dos Portugueses voltarem para o Velho Mundo, uma rede sofisticada de exploração vem sendo mantida. E com a tecnologia do Século XX maravilha, tudo ficou mais fácil. Agora pode-se difundir a inércia política e o ócio da mente -- algo já estereotipado nos silvículas do passado -- através da tecnologia maravilha. Maravilha de país, sem nada para discutir, maravilha de moral, maravilha de venda. Minha mãe eu vendo por R$1,00. O país e minha alma estão em promoção, faço por R$0,50. Agora o que é mais caro é o meu voto. Um saco de cimento você já leva.

Ah, pede para o Jabor comentar esse documentário no fantástico. Gostaria de ouvir o lado deles também, afinal, são realmente dois lados: o do grande Império do Século XIX e o deles.

André Santana

Desligue a rádio no menu da coluna à direita e assista ao documentário abaixo feito sobre a Rede Globo que foi proibido de passar no Brasil.


Caso tenha qualquer tipo de problema com o player acima, clique aqui para assistí-lo.


Ao som de 'Luis Inácio Falou' - Paralamas do Sucesso
Degustando Chá de Maçã e Canela com Pão de Queijo
Imagem:'Documentário sobre a Rede Globo

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Tapa

Poesia

Com um sorriso amarelo e encardido
E com um peculiar (unilateral!) rubor facial,
Abano a poeira nas nádegas da minha calça
Jurando nunca mais olhar-te face a face.

Pego meu pingente dourado no chão,
Jogo-o no meio do matinho perto
Para que o santinho não testemunhe
O que acabara de me fazer.

Acabaste com um sorriso,
Intentaste contra minha moral;
Pior: acabaste com uma esperança!

Não haverá descaminho futuro
Que me faça retroceder
A ponto de me aproximar
A menos de uma légua de ti.

Engolirás daqui para frente lágrimas amargas
Que rolarão para dentro do teu profundo vazio,
O vazio de não mais me ver passar em tua porta.

Tiveste-me a um palmo dos teus lábios;
Tiveste-me a um palmo do amor eterno.

Mas não foste suficientemente sábia,
Não foste delicada, merecedora de mim.
De ímpeto, deferiste-me um golpe na face
Que me jogou na poeira do caminho...
Caminho longe do teu.

Tua pena será cumprida dia após dia
Com toda liberdade que te verás presa.
Nunca mais terás meus pedidos singelos,
Nunca mais tentarei dar-te um beijo.

Vai!...
Vai viver com tua insanidade,
Vai perecer em teu leito de amargura,
Vai morrer fria e desamada,
Vai!...

Deus me livre de ti, mulher!

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Encontros e Despedidas' - Maria Rita
Degustando Chá Preto
Imagem:'O andarilho' - Thiago Fernandes Barbosa

domingo, 4 de fevereiro de 2007

Polidez

Poesia


Falta-lhe o verso
Nesses lábios
Arredios.

Falta-lhe a canção
Nessa voz
Monotônica.

Pois verso e canção
Detêm toda inflexão
Que carece a linguagem
Adequada para falar
Aos moucos (porém loucos!)
Ouvidos do meu coração.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Samba de uma nota só' - Tom Jobim
Degustando Leite em Pó
Imagem:'Sax' - Fernando Braun

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Fruta de verão

Poesia

Quanta vida se perdeu
Neste lapso de tempo
Que separa nós dois!

Dizem os cartógrafos
Que é a distância que
Separa dois entes pontuais.

Ouso deles todos discordar
Simplesmente por acreditar
Que a distância é o que
Menos nos separa.

Este hiato entre mim e ti
É meramente temporal:
Vivemos tempos diferentes,
Ainda que polinizados
Gêmeos de alma.

És gostosa maçã, fruta temporã
Viçosa, de véspera, no verão.
E eu, talvez até mais doce,
Porém, mais comum, previsível,
Amadureço devagarzinho
E só frutifico no outono.

Quando eu (amadurecido)
Chegar a dar água na boca,
Já terás sido (precocemente)
Apanhada com a mão
E, vorazmente, degustada
Por outra faminta boca.

Jamais frutificaremos
Numa mesma estação!
Não pela distância,
Mas pelo tempo:

Sem pressa,
Sou de outono;
Temporã,
És de verão.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Pra ser sincero' - Engenheiros do Hawaí
Degustando Tinto com Maçã
Imagem:'Doce Pecado' - P.Bernadelli