Café Alexandrino - O lado aromático da vida

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Soprando duas dúzias de velas

Crônica


Hoje acordei mais velho, com um ano a menos de vida. 24 já se foram. Quantos ainda me restarão? Imagino que ainda terei 66 anos pela frente até piscar para sempre. Não sei o porquê, mas acho que morrerei aos 90, com saúde e em paz. Assim como estou hoje. Só que com cabelos grisalhos, pele mais ressequida e com rugas. Pode ser que eu esteja mais experiente. É razoável acreditar nisso. Torcerei muito para que esteja mais sábio. Mas o que peço mesmo a DEUS, é que eu esteja com um coração de menino.

Assim como hoje, naquele dia futuro, agradecerei a ELE pela vida, pelo espetáculo que é viver. E, se me for concedido, agradecerei o viver menino, o viver criança, o viver com simplicidade e com alegria.

Não temo a morte, nunca a temi. Vejo-a como uma das etapas da vida. Contudo, não me restam quaisquer dúvidas de que amo as etapas anteriores. Claro. Amo tanto, que comemoro cada dia vivido, cada dia gasto com prazer, sem amarras, sem ponderações desnecessárias, despreocupadamente. Óbvio que tenho minhas ocupações cotidianas, é natural tê-las. Metas, desafios, planos, esperança precisam habitar o coração de qualquer um que ama a vida. Tudo isso nos norteia, nos dá o prumo, o rumo. Ocupar antecipadamente, no entanto, — ou seja, preocupar — pouco ajuda nas realizações. Ao contrário, ao fazê-lo desperdiça-se grande quantidade de energia, se perde a saúde, se adquire rugas antes da hora. As rugas (marcas do tempo decorrido) virão, eu sei. Só não as quero de véspera.

Num belo poema bíblico está escrito que para tudo há um tempo debaixo do sol. E eu quero vivê-lo sem atropelos, em profunda paz, sentindo um raio de sol de cada vez.

E hoje, particularmente, é tempo de eu regozijar com a família, com o amor, com os amigos meus anos vividos. Na infância, quando eu descobri que uma dúzia eram doze unidades, lembro que sempre achava muito quando minha mãe pedia que eu fosse à frutaria comprar duas dúzias de laranja para ela fazer suco. Mas, olhando meu bolo de aniversário, não acho duas dúzias tantas velas assim.

Vou lá soprá-las logo, pois estão todos me chamando, querendo comer bolo de chocolate com pedaços de morango. Mas que fique claro: soprá-las-ei logo só porque já começaram os “parabéns pra você”, mas viverei sem pressa alguma, um dia de cada vez. Afinal, ainda me restarão cinco dúzias e meia de velas para serem sopradas. Acredito.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Oh happy day' - Jota Quest
Degustando Bolo de Chocolate com Morango
Imagem: 'Morango Moreno' - Fabi

terça-feira, 10 de julho de 2007

Imagine-se pegando fogo

Crônica

Há algum tempo tenho ficado perplexo com as catástrofes naturais. Alguns que gostam de destruir argumentos com fatos históricos podem argumentar que catástrofes naturais sempre existiram. Que, até na Bíblia há relatos de coisas do gênero como, por exemplo, o dilúvio que assolou a Terra, só preservando os bichinhos que o vovô Noé e sua família colocaram na famosa Arca de Noé. Tudo bem, eu sei. Mas é inegável que a freqüência de tais inquietudes da natureza tem sido assustadora.

Pouco assisto televisão, para não dizer que não assisto. Hoje estava ornamentando uma fonte de água com umas mudas de"Maria sem vergonha", "Era", "Cactos", "Pinheiro", "Lírio da Paz", "Érica", "Begônia" que comprei para enfeitar e dar vida ao alpendre da minha sogra. Enquanto adequava os seixos brancos, procurando uma melhor posição para eles e outras pedras, escutava o Jornal Nacional. Mansões nos Estados Unidos foram destruídas pelo fogo, cidades estão ameaçadas por incêndios nas florestas, o Rio Madeira receberá duas novas hidrelétricas, Buenos Aires neva depois de 90 anos. Percebi que boa parte do noticiário dedicou-se, basicamente, a relatar assuntos climáticos, alterações inesperadas.

A Terra está passando por um mal-estar terrível. Por vezes, com febre. Outras, com calafrios e tremores descontrolados. Seus pulmões -- algas e florestas -- estão insuficientes, seus vasos -- os rios -- estão repletos de placas de ateroma, sujos, contaminados. Há fungos que matam plantações inteiras, há vírus que destroem cardumes por completo. O homem, um macroorganismo egoísta e espoliador das vísceras do planeta, só se importa com a comida de agora. E a Terra agoniza com suspiros profundos, chora chuvas de granizo, e derrama os mares pelas bordas.

Economizar energia não deve ser prática somente dos que tem salário mínimo. Ao contrário, dos que têm um mínimo de consciência. Jogar lixo no lixo deve ser um gesto básico de educação que precisa ser reaprendido, mesmo que existam os garis. Queimar menos combustível, além de diminuir o efeito estufa, ainda pode ser uma forma de desencostar a bicicleta empoeirada e dar mais saúde ao corpo.

Algo, querido leitor, deve urgentemente ser feito. Só não dá para não fazer nada, e morrer afogado ou queimado.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Cio da Terra' - Almir Sater
Degustando Chá de Camomila
Imagem: Somente as do meu pensamento

sábado, 7 de julho de 2007

Sobre autobiografia

Curtas


Quem escreve sobre si mesmo mente muito.

Ruy Castro1


Ao som de 'May it be' - Enya
Degustando Leite com Sucrilhos


Ruy Castro1 é jornalista, tradutor e escritor.

Sincretismo cultural

Ensaio


A diversidade cultural e étnica brasileira é um notável patrimônio. Seu caráter dinâmico, de permanente renovação, caracteriza-se pela "polinização", se assim podemos denominá-la, e pela constante capacidade de assimilação de tantas e tão variadas culturas em todas as regiões do país. Aqui temos uma combinação extraordinariamente fecunda de diferentes hábitos, costumes, crenças, lendas, superstições, com influências tão profundas na formação da nacionalidade.

Não se pode deixar de assinalar a contribuição de origem africana. Por sua força e inegável influência em nossa formação cultural, mereceu, em pleno início da nossa vida independente, a famosa frase de Bernardo Pereira de Vasconcelos: "A África viabiliza o Brasil". Ao mesmo tempo, porém, foi a mais esquecida, a mais perseguida e a maior vítima de discriminação sob todos os aspectos: étnico, religioso, cultural e político.

O Brasil é isso. Felizmente nós nascemos numa encruzilhada internacional, com diversos povos cruzando o Atlântico para desembarcar aqui. E os portugueses trazendo a linguagem de vanguarda européia da época, que era o barroco. E todos tiveram de se reinventar aqui, sob o sol dos trópicos, em contato com as culturas indígenas.

O que é tradicional hoje foi invenção ontem. Por isso, temos que aprender a lida com multimídia, candomblé e hip-hop. Entretanto, não podemos deixar de considerar que no Brasil se formou um novo Portugal e uma nova África, com possibilidades novas. Isso faz com que nossa cultura tenha traços mundiais. Tudo o que se produz aqui é o mais universal que se pode produzir no mundo hoje.

Ila Graebin1


Ao som de 'Aquarela do Brasil' - Ary Barroso
Degustando Chá de Hortelã
Imagem:'Chimba mandando no hip-hop' - Ismael Alexandrino


Ila Graebin1, minha namorada e amiga, é acadêmica de medicina e de fonoaudiologia.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

A pimenta dos blogs

Crônica

É comum alguns blogueiros usarem algumas palavras-chave para serem encontrados nos mecanismos de busca, como o Google, o Yahoo Search, Alta Vista etc. Tais palavras, geralmente, são inseridas ao final dos textos ou até mesmo no corpo deles. Assim, por exemplo, se alguém procura por "mulheres nuas" nesses sites que citei ou similares, e, se no seu blog, em algum lugar dele, contém as palavras "mulheres nuas", então seu site será indicado nas buscas. Isso, naturalmente, aumenta o número de visitas do blog.

Dias atrás, vi uma chamada no blog do Eduardo Carvalho assim: "Isabelli Fontana nua". Daí, mandei uma mensagem para o Eduardo perguntando se aquela chamada havia aumentado o número de visitas dele, de pessoas que haviam visitado seu blog procurado por tais palavras. Respondendo à minha pergunta, no seu post "Luana Piovanni nua", ele disse que havia sim aumentado o número de visitantes em função daquela chamada bem sugestiva.

Confesso que acho ambas, Isabelli e Luana, lindas. No entanto, nunca procurei na internet imagens delas nuas. Queria, sinceramente, vê-las assim, despidas até a alma, mas ao vivo e à cores, e, de preferência, sem ninguém por perto. Certamente não é uma má idéia. Possivelmente seria algo marcante.

Há alguns meses encontrei Luana Piovanni no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Na ocasião, ela ainda namorava o global Dado Dolabella. Minha namorada ainda tirou uma foto com os dois. Tenho certeza que ela queria tirar só com o Dado, o playboy do Brasil. Mas tudo bem...

Fotos são apenas fotos, linguagem visual estática. Fotos de mulheres nuas são fotos de mulheres nuas, linguagem visual estática e atrativa. Não raro, aqui na Terra brasilis, publicidade para cartazes, outdoors, pimenta de cheiro para alguns blogs. Mulheres nuas são mulheres nuas. Linguagem que dispensa comentários.

Ismael Alexandrino


Ao som de ' I Put A Spell On You' - Creedence
Degustando Chá de Gengibre
Imagem:'Pimenta da boa' - Marcelo F. Silva

Sossego

Crônica

Estou de férias. Os últimos dias em Recife foram extenuantes, cansativos por demais. Enfadonhos. Precisava matar a saudade da família, dos amigos, do amor. Não via a hora de respirar outros ares, e os estou respirando. Bem mais frios e secos que os do litoral pernambucano, é verdade. Mas eu gosto.

O fato é que alcei vôo rumo ao interior do Brasil. Passei por Brasília-DF (rapidamente) e São Luís de Montes Belos-GO, onde comi muita picanha e cupim. Agora estou em Goiânia, a bela, verde e florida capital de Goiás.

O melhor de tudo isso não é simplesmente a cidade organizada, ou o povo hospitaleiro, simples e afetivo. Não sou muito afeiçoado a bairrismos. O melhor mesmo é poder curtir o ócio, levantar dez horas da madrugada, comer, cantar, ficar fazendo nada, completamente à toa, ou lendo sem compromisso, sem hora para terminar. É... Por vezes, é bom ficar "ao leo", ao bel-prazer do espírito contemplativo. Por exemplo, como neste instante em que escrevo, e vejo pela janela alguns pardais brincarem numa árvore verdinha que não sei o nome. Nem quero saber agora, o nome da árvore não me importa. Importa-me contemplá-la tão somente, sem cientificismos.

É bom ter sossego. Pensando bem, eu só quero sossego.

Ismael Alexandrino


Ao som de Canto de Pardais
Degustando Leite Frio com Chocolate
Imagem:'Acima das nuvens' - Ismael Alexandrino