Café Alexandrino - O lado aromático da vida

sábado, 29 de setembro de 2007

O dia em que me senti ladrão

Crônica


Tenho o hábito de tomar café numa livraria do shopping, perto de casa, em Recife. Sempre que possível, um grande amigo me acompanha. David também é um amante deste hábito de tomar café enquanto lê ou folheia algum livro. E hoje, logo após o almoço, tivemos o privilégio de irmos lá prosear. Enquanto folheávamos – sem compromisso – alguns livros, tomávamos um cappuccino com chocolate crocante e um espumone light. Ele quase sempre pede um espumone light. Eu costumo variar mais o cardápio. Ele, não raro, diz estar de dieta. Mas adora estar nos restaurantes que disponibilizam rodízios à vontade. Eu também.

Divertíamos vendo um livro sobre filosofia. Na verdade, era filosofia de bar, de salão de beleza, ou de café, enfim, filosofia que não é levada muito a sério. Existiria alguma filosofia levada a sério? Filosofia é a arte de perguntar, de desconfiar da seriedade das coisas. Penso, sinceramente, que nenhuma filosofia leva as coisas muito a sério. Se levar, vira academicismo, protocolos pré-moldados, busca incessante de resultados – esperados ou não, mas busca incessante – tempo para cumprir, metas a alcançar, objetivos gerais, objetivos específicos. Uma distância considerável das divagações filosóficas.

Pois, descontraídos e desprovidos de seriedade, divertíamos. ‘Aquilo que parece ser, mas não é’, este era o título do livro. Bem filosófico. Metalingüístico, diria. Pois a filosofia é algo que parece ser, mas não é. Parece ser séria. O livro não tem uma proposta maior que a de ser lido em cafés, sem preocupação alguma. É um livro para se impressionar, para sorrir de si mesmo. E o sorriso é inevitável quando o autor mostra um dado objeto, por exemplo, que você jura que é uma forma geométrica, e é outra. Num deles, ele mostra uma gravura em que o plano de fundo é formado por alguns losangos pequenos e coloridos e no primeiro plano há círculos concêntricos. Ninguém que olha tal figura diz que os círculos são concêntricos, a impressão é de que são espirais. Mas são círculos, pode até se provar com a ponta de uma caneta rabiscando o trajeto da linha. Há vários exemplos de ilusões de ótica, exemplos em que nossos próprios olhos nos são infiéis. E eu que sempre acreditei na fidelidade, fiquei desconfiado de mim mesmo.

Depois de várias considerações que não vão salvar o mundo, pitadas de piada, poesia, e afagos no paladar, pedimos a conta. Ele, com vários livros na mão, saiu perambulando pela livraria devolvendo os livros nos respectivos lugares (prática que recomendo). Eu, apenas com um, seguia-o por entre as prateleiras, ainda de bom humor.


Saímos da livraria, e caminhávamos pelos longos corredores e galerias rumo aos nossos carros. Comecei a rir. Ele também, imaginando que eu ria de alguma bizarrice do nosso “tratado de filosofia”. Continuei rindo, mas envergonhado. Minha face corou. Ele sorriu sem graça, tentando entender meu riso, imaginar o porquê meu riso variou do humor ao constrangimento. Notei que ele estava confuso, não sabia se ria ou se perguntava a mim o que era. Voltei a rir sem a feição de envergonhado. Mas, no íntimo, meu constrangimento era enorme. O dele aumentava. Penso que gritava dentro de si um “fala logo o que aconteceu”, quase raivoso.

“Preciso voltar, cara.” – eu disse. Os nós na cabeça dele cresciam em número, tamanho e complexidade. “Pode ir para o carro, amanhã a gente se fala. Preciso voltar.” Sua face revelava uma angústia considerável. “Depois a gente se fala.” – insisti, já dando meia volta e lhe estendendo a mão para me despedir.

Ele não se conteve na sua costumeira discrição. “O que é que aconteceu, cara?” – indagou-me, apreensivo.

“Depois eu te conto, David, preciso ir rápido.” – respondi, afastando-me dele a passos largos.

Entrei novamente na livraria, procurei a seção dos livros nacionais. Relativamente aflito, não conseguia encontrar onde estavam os de crônica, o que sempre fazia com facilidade. Eu olhava desconfiado para os lados à procura de um vendedor. Não que quisesse a ajuda de algum deles. Na verdade, eu não queria que nenhum deles me visse. Meu coração palpitava, e eu tinha medo de que alguém pudesse ouvi-lo. Tinha medo de ser notado. Fui sumindo. Minha vontade era me transformar numa poesia parnasiana, e ficar lá, estático, escondido nas páginas de um livro. Dificilmente eu seria encontrado pelo vendedor ou algum leitor.

Ofegante, parei diante da prateleira trinta e quatro. Era ela. Logo acima da minha cabeça. Bem ao lado de um livro de Rubem Braga, o espaço vazio. Estendi a minha mão, e o completei.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Orange Sky' - Alexi Murdoch
Degustando Capuccino com Chantilly de Menta
Imagem:'Livros' - Dickson Júnior

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Sobre a verdadeira pobreza

Curtas

“Tem gente que é tão pobre, mas tão pobre, mas tão pobre, que a única coisa que tem é dinheiro…”



Ao som 'Pescador de Ilusões' - O Rappa
Degustando Suco de Limão


Pedro de Lara¹, ator e humorista, faleceu em 13 de setembro de 2007.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Bate-papo com Paulo coelho

Curtas



Num bate-papo online com Paulo Coelho, promovido pela UOL hoje com o escritor atualmente na Itália, achei isto bem interessante:

"Internauta: Paulo Coelho, fé e razão andam juntas?

Paulo Coelho: Claro. Mas se tiver uma decisão difícil, e as duas derem respostas diferentes, optarei pela fé."

Já me correspondi com Paulo Coelho, inclusive tenho autógrafo dele em papel timbrado pela Academia Brasileira de Letras. Muitos têm preconceito em lê-lo. Só me fez bem.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Metamorfose ambulante' - Raul Seixas
Degustando Café Preto com Raspas de Canela

domingo, 23 de setembro de 2007

Um olhar atento sobre o moralismo religioso

Crônica


Nada me soa tão ignóbil quanto o moralismo religioso. Jesus Cristo veio para que todo aquele que fosse alcançado por sua boa nova tivesse vida, e vida em abundância. O que tenho visto o moralismo religioso produzir são pessoas psicologicamente doentes, encarceradas, cheias de paranóias, bloqueios e toda sorte pulsões, conseqüentes de projeções outrora reprimidas.

A observância da moralidade é fundamental para o bom convívio social. A ética, como um estudo crítico e reflexo sobre a moral, é imprescindível para nortear o bom caminho do indivíduo. O moralismo (muito diferente de um sério estudo sobre moralidade), no entanto, visa tolher a liberdade alegando que esta pode se tornar libertinagem. Uma falácia sofismável!

A ética de Jesus Cristo nos permite vivenciar desde já o paraíso (que é eterno). A moralidade nos aponta parâmetros no caminho. O moralismo nos mostra o cárcere e nos confina nele.

A ética do Mestre deve ser seguida, pois é de caráter imaculado, e, nela, não há dolo. A moralidade é interessante que seja observada, a fim de se compreender contextos e costumes. O moralismo religioso, por sua vez, deve ser desmascarado, e enterrado, pois chega a dar náuseas com cheiro putrefato de morte, muito distante de vida; mais distante ainda de vida em abundância.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Imagine' - John Lennon
Degustando Chimarrão
Imagem:'A janela do paraíso' - Pedro Vieira, o Viajante

sábado, 22 de setembro de 2007

O maior mentiroso do Brasil

Curtas

Eu sou fã do Google. Minha namorada que o diga, pois sempre que me pergunta algo que eu não sei, ou que eu esteja com preguiça de responder, ou até mesmo sei e não estou com preguiça, mas minha resposta seria insuficiente, eu digo: "Procura no Google que tem.". E é verdade, nele se encontra tudo que sua cabeça um dia sonhou existir. O melhor de tudo isso é que ele é extremamente fidedigno, e tem muita credibilidade, principalmente com a ferramenta Google Acadêmico.

Se um dia o dono do Google se candidatasse à Presidência da República, eu votaria nele numa boa. Pelo menos ele não é conhecido no mundo todo como o maior mentiroso do Brasil.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Geni e o Zepelim' - Chico Buarque
Degustando Café Expresso

Tomarei de conta

Poesia

Tomarei de conta
.[e guardarei para ti.
Tomarei de conta
.[e ela esperará por ti.
Junto dela lembrarei de ti
.[amigo de prosa e verso.
Como ela aqui te espero
.[sem se tratar de mero
.[colega
.[em se tratando de amigo
.[que guarda um tesouro
.[e a volta do amigo aguarda.
Estarei rodeado de pontes
.[rios
.[versos e prosa.
E a pedido de quem te espera
.[acolher novamente em teu seio
.[te transmitirei o que dela não irás esquecer.
A poesia do Capibaribe
.[a prosa do Beberibe
.[o queijo e o doce da moça Pernambucana
.[a generosidade do povo
.[e a hospitalidade do leão do norte
.[que abriga em seu peito
.[a terra dos recifes
.[a mulher que te amou
.[te deu carinho e te teve como filho
.[e que vai chorar à despedida
.[mas que sabe que irás voltar
.[pois sempre estará contigo
.[porque te ama
.[e te quer bem.

Antônio Moraes Filhodedicada ao Poeta da Vida, que já pensa na despedida, mas que sabe que a despedida nada mais é que um até breve.

Estimado Antônio,

Muito obrigado pela homenagem. Emocionei-me. A hora de despedir está próxima, mas próximos também sei que estarão os amigos que em Recife eu deixar. E não tenha dúvidas de que, quando despedir eu for, não darei um 'adeus', mas um esperançoso 'até breve'.

Valeu pelo carinho, meu amigo. É por essas e outras que já pré-sinto saudades.

Um abração!

Sinceramente,
Ismael Alexandrino

Ao som de 'Canção da América' - Milton Nascimento

Degustando Pudim de Leite Condensado
Imagem: 'Um homem e o mar do Recife' - Ismael Alexandrino

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Quase despedida

Poesia


Passo-a-passo,
Só, e vagaroso,
Passo pelo Paço inteiro
Até chegar ao terraço
Donde vejo
......[o cair apressado do sol
O Porto
O coxo, o flanelinha, o torto
A senhora enrugada sentada na calçada
......[com a mão estendida e os olhos fechados.
O Marco
O mar, a rede, o barco
O Capibaribe preguiçoso
Deslizando em seus ais
As pontes – muitas –, o cais
As pontas – muitas – das torres
..........[das igrejas históricas
De inumeráveis histórias
Paranóias, crimes, lascívia
Pecados, dores, e milagres.
Os armazéns, a maresia,
E o farol-falo de Brennand.

A fumaça do café preto
Dançante, torta, cheirosa...
Penetrando nas narinas,
Hipnotizando os sentimentos...
A Cultura,
Os livros,
As muitas paixões.

Nem te deixei ainda,
..............[e já tenho saudades.
Lembrarei de Ti? — Por certo.
Terei boas lembranças? — Muitas.
Más? — Também.
Quase sofro de véspera
..............[por ter de partir,
Mas não me chega a doer.

Se os nativos me permitirem,
Ó Recife,
– que te tanto bem quis
e nem um mal lhe fiz –
Chamarei-a de minha,
E levarei-a dentro do peito.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Tu vens' - Alceu Valença
Degustando Café Preto com Raspas de Canela e Chocolate

Imagem: 'Ponte Maurício de Nassau em Recife' - Ismael Alexandrino

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O que escrevo quando não tenho inspiração para escrever

Crônica


Estou sem inspiração. Isso não é raro. E sempre sofro. Mas por que sofrer se não tenho a obrigatoriedade das letras? Por que me angustiar pelo texto que não quer ser escrito? Tais perguntas sempre me questionam. Incomodam-me. Calo-me tentando elaborar algo mais apreciável para respondê-las, tentando encontrar alguma sabedoria escondida bem na curva do ponto de interrogação.

Inútil. As respostas não vêm; as perguntas aumentam. E minha angústia cresce exponencialmente. Sei que não devo ser único. Aliás, já ouvi escritor de cátedra dizendo como lhe é sofrido o processo de escrever. O pior: ele depende da escrita para sobreviver, ele tem de produzir textos o tempo todo, textos que encantem, textos ricos, textos comercializáveis – que lhes dêem um bom dinheiro –, textos imortais. Eu não. Não sobrevivo da escrita, não ganho dinheiro com isso, nem tenho compromisso algum de escrever algum texto que seja imortal.

Mas aí que mais sofro. Justamente por não ter a obrigatoriedade do ato, ele deveria fluir naturalmente. Assim como transpiro gotículas de suor quando caminho na praia sem, necessariamente, pensar em cada gota transpirada, eu deveria transpirar, naturalmente, palavras no papel. Tudo bem, não precisaria somente transpirar. Quem sabe lacrimejar algumas palavras, talvez espirrá-las, tossi-las, expirar frases inteiras. Alguma coisa que me agrade e que construa no meu próximo algo de bom, proveitoso, algo que o encante. Mas não encanto sempre que desejo. Eu não sou encantador. Não com palavras, não com poemas, não com contos, crônicas ou qualquer coisa escrita. Na verdade, nem sei se de alguma forma eu encanto. Em canto, também não me dou bem; já me esforcei, mas desafino fácil. Tocar, também nunca obtive êxito; se retirar a partitura da minha frente, é como se retirasse o piano. Isso não é tocar; isso é insistir naquilo para o qual não nasceu.

Acho que meus dons não são para fora. Não nasci para encantar ninguém. Nasci para me encantar, somente. Sim, sou encantado com quase tudo que me cerca, com as coisas criadas por Deus, pelas manufaturadas pelo homem. Tenho extrema facilidade em apreciar a natureza, e me inebriar diante de uma planta, uma flor, um tronco de árvore parecido com um cavalo marinho. Encanto-me facilmente com o sorriso singelo de uma criança que balança a mãozinha para mim. Encanto-me profundamente com notas afinadas de um violino, de um piano, de um saxofone, ou de um dueto, trio, quarteto, coral. Tenho profunda sensibilidade para perceber as coisas exteriores e me encantar com elas. Mas não encanto ninguém com textos, palavras, conselhos, talvez por ser um egoísta que só quer ser encantado. Acho que, egoísta, todos os meus dons são para dentro.

Falta-me a inspiração dos escritores que comovem, que movem multidões, que se tornam imortais. Lembro de Clarice Lispector dizendo que cada frase é um clímax. Isso sim é inspiração! Mas não a tenho, e não desejava muita a ponto de escrever aforismos em cada frase, tal qual Clarice. Eu não tenho tamanha ambição. Eu só queria um pouquinho de inspiração para escrever uma crônica. Só uma. Uma crônica.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Flake' - Jack Johnson
Degustando Coquetel de Frutas
Imagem: 'Cavalo Marinho no Tronco da Árvore' - Ismael Alexandrino

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Sobre a natureza humana

Curtas

"Sou humano... e nada que é humano me é estranho."

Públios Terêncio1

Ao som de 'Lost for words' - Pink Floyd
Degustando Doce de Leite


Públios Terêncio1 foi dramaturgo e poeta, viveu no séc. II a.C.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

A última crônica

Crônica

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "Parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.

Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.

Fernando Sabino


Ao som de 'Remember' - John Pizarelli
Degustando Café Preto
Imagem:'Girl blowing out candles on pink birthday cake' - Sean Justice

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Sobre os sonhos

Curtas

É muito difícil conseguir aquilo que se sonha; é mais difícil ainda conseguir aquilo que não se sonha.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Miss Sarajevo' - U2 e Luciano Pavarotti
Degustando Chá de Menta com Chocolate

domingo, 9 de setembro de 2007

"O Deus dos crentes"

Crônica

O “Deus dos crentes” é inseguro, ciumento, invejoso e arrogante. Não é justo e nem injusto; depende, pode ser e pode não ser; depende da barganha a oferecer.

O “Deus dos crentes” leva dinheiro a sério para Si mesmo. Ele não aceita esse negócio de ser o dono do ouro e da prata na natureza, e não ser também o grande Banqueiro da Terra.

Onde já se viu? Inventarem uma referência de valor e Deus não ser o dono? Que negocio é esse? Jamais! Que coisa é essa do dinheiro ficar na mão de outros? O “Deus dos crentes” diz: “Não inventei isso, mas já que existe e vale, é meu!”.

Na realidade o “Deus dos crentes” fica feliz quando os Seus representantes e cobradores de impostos declaram em Seu nome que Deus mandou dizer que quer dar dinheiro pros crentes que não forem miseráveis, pois, Ele só dará para quem der a Ele. Mas não explica porque a grana do mundo não está nas mãos dos crentes; e nem tampouco porque Ele tem que tirar o dinheiro do mundo de circulação secular, e fazendo todo o fluxo da economia vir apenas para as mãos dos crentes; os quais, não têm dinheiro.

Foi por essa razão que o “Deus dos crentes” teve que inventar um mover novo; no qual os crentes ficam sabendo que eles é que são os responsáveis por Deus ter ou não dinheiro nesse mundo, conforme a nova revelação do Deus desejoso de que o monopólio do dinheiro do mundo fique nas mãos dos crentes; e, assim, o mercado se equilibre.

“Já pensarem Deus com dinheiro?” — perguntam os Seus fiscais de renda.

Ora, temos bons exemplos de Deus com dinheiro, e de Deus sem dinheiro. Ora, Deus sem dinheiro fica fraco e vira Jesus. E isso o Deus dos crentes não quer nunca mais, e pede aos crentes que o salve de tal humilhação. Já o Deus dos crentes com dinheiro, ah, nesse caso, Ele fica poderosos, mais poderoso que o diabo.

Deus nunca teve dinheiro. Mas nos últimos dois milênios Ele resolver acabar com essa miséria. Assim surgiu o Deus dos crentes. E se alguém quiser mais informações sobre isto, basta ver como Deus foi com dinheiro nesses últimos dois mil anos de “Deus Rico”.

Ora, com grana o “Deus dos crentes” é um Deus surtado. Sim! Ele, que não estava acostumado se não a nada, a tendas, a tabernaculos, a peregrinações livres, e, sobretudo, às incertezas do vento, agora, depois do dinheiro, surtou — surtou com Salomão, com Herodes, o Grande, com Constantino, com os poderes reais do Cristianismo, e, por último, com a prosperidade dos protestantes.

Ora, entre os últimos surgiu um grupo que mais do que qualquer outro, ambiciona por Deus. De fato eles dizem que querem dinheiro para Deus. Outros dizem que o dinheiro é de Deus; e, portanto, se tal grana não estiver no bolso-gaso-falácio da divindade, certamente estará no banco do inferno dos bolsos desigrejados.

Assim, para quem não sabe, o gaso-falácio é o bolso de Deus!

E mais: o “Deus dos crentes” só aceita dinheiro no bolso Dele. No dos outros não é Dele.

Dessa forma o “Deus dos crentes” quer abrir todas as filiais de arrecadação possível. E quem desejar agradá-lo, esforce-se para fazer a franquia que Deus lhe deu tornar-se a mais lucrativa possível. Afinal, o “Deus dos crentes” estabeleceu que o serviço a Ele só pode ser medido em volumes financeiros, de modo que um fiscal que não faça seu posto de cobrança divina crescer, esse não serve para servir ao “Deus dos crentes”.

O “Deus dos crentes” enfim conseguiu alguns bons testemunhos modernos da devoção que Ele busca; e diz: “Viram os servos presos ou acusados de lavagem de dinheiro e de apropriação indébita? Esses são os fieis que fazem toda a minha vontade.”.

Sobre o Seu desejo de ficar com tudo, Ele diz: “Pois, bem — quem disse daí a César o que é de César, estava enganado; pois, as minhas ordens sempre foram outras, posto que para mim o que é de César tem que ser meu. Afinal, como posso eu competir com os poderes de César se ele tem mais dinheiro e poder do que eu?”.

O “Deus dos crentes” teria que fazer umas re-interpretações acerca desse Impostor chamado Jesus; e que um dia tendo tido Sua confiança, mas que, ao chegar aqui, surtou geral.

Então... — nasceu de gente humilde e sem nome, foi parido ao relento e posto para estar numa caverna onde bois dormiam (talvez esse negócio de dormir com bois o tenha deixando vendo boi dormir...); e, adulto, foi sempre escolhendo o lado errado, a começar da identificação “dele” com seu primo pobre, um certo João que batizava, e que só se sentia bem comendo gafanhotos e se vestindo à moda brega de Elias.

Daí pra frente foi uma tragédia só. Sim! Pois o enviado traiu quem o enviou e, assim, fez tudo diferente. Até nas tentações “ele” foi tolo; e, assim, não percebeu que aquilo ali não era tentação, mas sim uma oportunidade mandada por Deus

Mas o tal Jesus estava tão surtado e tão disposto a fazer apenas o que lhe estava na consciência, que nem viu que o diabo era um anjo; e que as três ofertas eram dons divinos — transformar pedras em pães, cometer suicídio devocional no Pináculo do Templo, e aceitar todos os poderes e dinheiros do mundo, e, desse modo, agilizar as coisas de Deus na terra.

Assim, o “Deus dos crentes” pergunta na Epístola de São Judas Traidor: “Já pensarem se “Jesus” tivesse visto que o diabo era o meu mensageiro e que as ofertas não eram tentações, mas oportunidades? Sim! Já pensarem onde nossa causa estaria se “ele” não tivesse estragado tudo?”.

O “Deus dos crentes” sofreu um amadurecimento. A experiência com Jesus o traumatizou. Essa foi a razão Dele ter trocado Cristo por Constantino, e a igreja-povo pela Igreja-Estado, e os servos humildes pelos senhores arrogantes.

Agora o “Deus dos crentes” não comete mais esses erros. Não! Ele só manda quem entende o diabo e vê nas tentações as melhores oportunidades!

Num país como o Brasil, o “Deus dos crentes” diz: “Imaginem-me sem a Record? Imaginem-me sem os meus servos que lá fielmente me atendem? Imaginem-me todo esse poder que agora tenho? O que seria de mim? Aleluia, digo eu, pelos meus servos esforçados, e que arrecadam todo o meu dinheiro! E como são fieis e lidam com dinheiro melhor do que eu (essa é uma coisa nova pra mim, diz o senhor!), entreguei meus bens a eles; e eles só os aumentam; e, por isso, dou graças a mim mesmo por eles terem ficado livres das maldiçoes hereditárias do Jesus simples e pobre, e também por devidamente terem reconhecido e abraçado o Cristo Rei, o qual veio como inspiração do meu amado e fiel Constantino!”

Assim, diz o “Deus dos crentes”: “Lutem meus filhos, pois, infelizmente, essa praga chamada Evangelho ainda insiste, e o surto de Jesus continua a ter muitos seguidores! Lutem! Pois essa praga tem que ser tirada da terra!”.

Desse modo, o “Deus dos crentes” está muito feliz. Tudo está dando certo para Ele depois que Ele acabou com essa briga que Jesus inventou com o diabo; e, assim, devidamente reconciliado com sua criatura favorita, o “Deus dos crentes” diz: “Quem bom! Agora a casa não está mais dividida. Aquele tal de Jesus quase acaba comigo. Mas “nós” vencemos!”.

Por isso é que um de Seus profetas, um tal Isalamias, diz: “Vinde comer e beber, vinho e leite, mas não esqueçam de trazer o dinheiro, pois, de graça, aqui não se oferece nada. Sim! Vinde todos. É caro mais vale a pena!”

Por essa razão Charles Baudelaire teria dito: “O ‘Deus dos crentes’ é o diabo!” Ora, e ainda há quem o chame de herege.

Eu vejo isso e digo: Sai “Deus dos crentes”! Sai em nome de Jesus. Sai daí, do meio do povo de Jesus. Sai espírito do anti-Evangelho!

Caio Fábio


Ao som de 'Esmola' - Skank
Degustando Café Preto
Imagem: 'Esse é o bolso dos brasileiros!' - Soraia A. Guedes

Amigo de Deus

Música



Não existe nada melhor
Do que ser amigo de Deus
Caminhar seguro na luz
Desfrutar do seu amor
Ter a paz no coração
Viver sempre em comunhão
E assim perceber
A grandeza do poder
De Jesus, meu bom pastor.

Carlinhos Félix


Ao som de 'Amigo de Deus' - Carlinhos Félix
Degustando Frapê de Pêssego
Imagem: 'Dedo de Deus (Serra dos Órgãos,Teresópolis-RJ)' - Flávio Moura

sábado, 8 de setembro de 2007

Café Alexandrino é destaque no Portal Mhário Lincoln do Brasil

O jornalista Mhário Lincoln promove aos sábados o Sábado Poético no Portal Mhário Lincoln do Brasil, lido em 25 países.

Como editor-chefe do Portal, Mhário Lincoln destacou o Café Alexandrino™, selecionando uma poesia deste modesto sítio virtual para figurar na programação deste sábado.

Agradeço o destaque dado pelo distinto jornalista, e convido a todos os leitores para participarem com entusiasmo do Sábado Poético.

Ismael Alexandrino

Sobre a cegueira

Curtas


"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.

Mário Quintana


Ao som de 'The Rare Delight Of You' - John Pizarelli
Degustando Pudim de Leite Condensado

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Trialogando sobre mim

Monólogo

– Leonardo Da Vinci poderia até ser "cristão", mas acho que ele mordia a fronha mesmo!

– Cala-te, Id-Ismael! Olha a maledicência, olha a maledicência! O homem não está nem aqui para se defender.

– Homem? Ui!

– Pára com isso, pois não é justo com quem não pode se defender.

– Se defender de quê, Superego-Ismael? Homossexualismo não é crime para ter que se defender. Homossexualismo é pecado! E pecado não se defende. Pecado se reconhece, e se arrepende ou não. Quando se arrepende, abandona-se a prática. Quando não, continua-se com a sem-vergonhice lascívia.

– Mas, mesmo assim, Id-Ismael, é uma opinião dele e você precisa respeitar. Afinal, se ele gosta, você não pode opinar...sexualidade é relativo, você fica com quem você gosta e se sente bem.

– Não é uma opinião dele não, Superego-Ismael. Era! Pois hora dessas, se ele fora mesmo "ambidestro" praticante, está ardendo na chama do inferno e cheirando peido de enxofre do Satanás e do John Lennon. É, porque ouvi falar que o John Lennon era um campeão de flatos com fragrância de enxofre com banana prata madura.

– Id-Ismael, você precisa aceitar as pessoas como elas são!

– Eu as aceito, elas que não se aceitam e querem ser outra pessoa diferente da que nasceu. Ingratas para com Deus. Ingratas! E não há coisa pior que a ingratidão. Só de falar nela, sinto um gosto de fel na garganta.

– Leonardo da Vinci foi um homem que contribuiu muito para a humanidade, ele precisa ser visto dessa forma.

– Contribuiu, mas acho que ele era gay. Só falei isso, nada demais.

– Só falou isso maldizendo-o! E maledicência é pecado.

– Aceitar o pecado e relativizá-lo também é pecado e você vive fazendo isso, conforme a sua vontade, sua conveniência.

– Id-Ismael, você está me chamando de pós-moderno hedonista? Eu só sou politicamente correto!

– Politicamente correto a ponto de ser vomitado fora.

– Credo! Como você é radical, falastrão! Quem fala demais, Id-Ismael, dá bom dia a cavalo, sabia?

– E quem fala de menos o que precisa ser falado, Superego-Ismael, dá bom dia ao Capeta, sabia?! Prefiro a companhia de um cavalo ignorante que os braços doces e quentes do Cão.

– Pois você, Id-Ismael, com essa sua pulsão arrogante, é um grande pecador, isso sim.

– E você, Superego-Ismael, com essa sua salivação nem fria e nem quente é um pecador quadrado, ou melhor, ao quadrado. Aliás, quadrado mesmo... um mamãozão, para dizer a verdade!

– Ego-Ismael, cadê você? O Id-Ismael está muito impetuoso, me atacando.

– Estou aqui, Superego-Ismael, observando tudo e tentando achar o melhor caminho entre vocês dois, entre você e o Id-Ismael.

– Melhor caminho, Ego-Ismael? Você é um oportunista, isso sim. Convive diariamente com uma enorme vontade de ser eu, mas, não raro, cede às falas do Superego-Ismael. Você, Ego-Ismael, se me ouvisse mais, teria muito mais personalidade.

– Muito mais personalidade pecadora, Ego-Ismael, pois esse Id-Ismael metido a besta é impulsivo, um pecador de carteirinha.

– Superego-Ismael e Id-Ismael, parem de discutir. Bem percebem que ambos têm argumentações fortes para mostrar que o outro é pecador. E eu, resultado de vocês dois, acabo sendo o maior pecador manifesto. Portanto, peçam misericórdia de Deus, pois eu, certo de que sou maior pecador que vocês, mas alcançado pela graça restauradora, vou continuar dormindo.

Ismael Alexandrino
– Leonardo Da Vinci poderia até ser "cristão", mas acho que ele mordia a fronha mesmo!

– Cala-te, Id-Ismael! Olha a maledicência, olha a maledicência! O homem não está nem aqui para se defender.

– Homem? Ui!

– Pára com isso, pois não é justo com quem não pode se defender.

– Se defender de quê, Superego-Ismael? Homossexualismo não é crime para ter que se defender. Homossexualismo é pecado! E pecado não se defende. Pecado se reconhece, e se arrepende ou não. Quando se arrepende, abandona-se a prática. Quando não, continua-se com a sem-vergonhice lascívia.

– Mas, mesmo assim, Id-Ismael, é uma opinião dele e você precisa respeitar. Afinal, se ele gosta, você não pode opinar...sexualidade é relativo, você fica com quem você gosta e se sente bem.

– Não é uma opinião dele não, Superego-Ismael. Era! Pois hora dessas, se ele fora mesmo "ambidestro" praticante, está ardendo na chama do inferno e cheirando peido de enxofre do Satanás e do John Lennon. É, porque ouvi falar que o John Lennon era um campeão de flatos com fragrância de enxofre com banana prata madura.

– Id-Ismael, você precisa aceitar as pessoas como elas são!

– Eu as aceito, elas que não se aceitam e querem ser outra pessoa diferente da que nasceu. Ingratas para com Deus. Ingratas! E não há coisa pior que a ingratidão. Só de falar nela, sinto um gosto de fel na garganta.

– Leonardo da Vinci foi um homem que contribuiu muito para a humanidade, ele precisa ser visto dessa forma.

– Contribuiu, mas acho que ele era gay. Só falei isso, nada demais.

– Só falou isso maldizendo-o! E maledicência é pecado.

– Aceitar o pecado e relativizá-lo também é pecado e você vive fazendo isso, conforme a sua vontade, sua conveniência.

– Id-Ismael, você está me chamando de pós-moderno hedonista? Eu só sou politicamente correto!

– Politicamente correto a ponto de ser vomitado fora.

– Credo! Como você é radical, falastrão! Quem fala demais, Id-Ismael, dá bom dia a cavalo, sabia?

– E quem fala de menos o que precisa ser falado, Superego-Ismael, dá bom dia ao Capeta, sabia?! Prefiro a companhia de um cavalo ignorante que os braços doces e quentes do Cão.

– Pois você, Id-Ismael, com essa sua pulsão arrogante, é um grande pecador, isso sim.

– E você, Superego-Ismael, com essa sua salivação nem fria e nem quente é um pecador quadrado, ou melhor, ao quadrado. Aliás, quadrado mesmo... um mamãozão, para dizer a verdade!

– Ego-Ismael, cadê você? O Id-Ismael está muito impetuoso, me atacando.

– Estou aqui, Superego-Ismael, observando tudo e tentando achar o melhor caminho entre vocês dois, entre você e o Id-Ismael.

– Melhor caminho, Ego-Ismael? Você é um oportunista, isso sim. Convive diariamente com uma enorme vontade de ser eu, mas, não raro, cede às falas do Superego-Ismael. Você, Ego-Ismael, se me ouvisse mais, teria muito mais personalidade.

– Muito mais personalidade pecadora, Ego-Ismael, pois esse Id-Ismael metido a besta é impulsivo, um pecador de carteirinha.

– Superego-Ismael e Id-Ismael, parem de discutir. Bem percebem que ambos têm argumentações fortes para mostrar que o outro é pecador. E eu, resultado de vocês dois, acabo sendo o maior pecador manifesto. Portanto, peçam misericórdia de Deus, pois eu, certo de que sou maior pecador que vocês, mas alcançado pela graça restauradora, vou continuar dormindo.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Sou feliz' - Horatio Gates Spafford
Degustando Chá de Maçã com Canela

Imagem: 'Prosseguindo para o alvo' - Ismael Alexandrino