Café Alexandrino - O lado aromático da vida

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Fábio Lisandro, um bom amigo soprando velas

Curtas

Fábio Lisandro é um colega da medicina e das letras. Um provocador, pensador nato. Sobretudo, humano. Gente da qual nosso mundo carece de tê-los em quantidade. E me sinto lisonjeado em desfrutar da sincera amizade dele.

Fábio acabou de me ligar me convidando para o seu aniversário hoje à noite. Apesar de eu estar extremamente ocupado nos últimos dias, ele é o tipo de amigo que não se pode deixar de prestigiar.

Parabéns, nobre amigo! Que Deus te ilumine, te dê muita saúde, paz interior, alegria plena. Até mais tarde, quando passarei, pelo menos, para te abraçar.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'We are the champions' - Queen
Degustando Café com Pão de Queijo

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

O orgulho nosso de cada dia

Crônica


Dia desses, conversando com uma amiga muito querida, comentávamos sobre algumas atitudes de casais de namorados. Camila é uma pessoa fantástica! Educada, gentil, sonhadora, amorosa e, sobretudo, humana. Mas não se animem os possíveis leitores interessados na bela. Cacá está noiva, prestes a casar com um rapaz pelo qual é apaixonada. E admito: formam um belo casal.

É interessante como são alguns relacionamentos afetivos. Sentindo-se sozinhas, as pessoas buscam seus pares. Quando os encontram, querem agir como se continuassem sós. Esbarram no egoísmo; repousam no orgulho. Fazem das suas relações legítimos jogos de tênis. É, jogos de tênis.

Lembro-me do sábio Rubem Alves fazendo analogia dos tipos de casamento. Segundo ele, há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os do tipo frescobol têm grande chance de ter vida longa. Os outros, não. Mas o engraçado é que em ambos os jogos há dois participantes, duas raquetes e uma bolinha. Só que os participantes têm intenções e comportamentos diferentes.
No frescobol, ninguém quer que a bola caia; se ela vem meio torta, sabe-se que foi sem intenção, e apressa-se em ajeitá-la na medida certa para o parceiro. Pois se um errar, os dois perdem. Se um ganhar, os dois são derrotados. Então é melhor ajudar o outro.

Já no jogo de tênis, a intenção é fazer com que o outro erre; o outro vira um adversário a ser batido, vencido. Um sempre sai do jogo perdendo. A alegria do vencedor é a desgraça do derrotado. Está em jogo a capacidade de que se tem de humilhar, de vencer. É um jogo de vaidades no qual se disputa um troféu de orgulho.

Percebo muita semelhança de tais jogos com a forma com que os casais se relacionam. Alguns procuram sempre dar suporte ao seu companheiro, arredondar a bola para que tudo corra bem. Bola para lá, bola para cá...conversa pra lá, conversa para cá. E se às vezes a conversa sai um pouco torta, atravessada, sabe-se que esta não foi a intenção primária, e então se procura logo consertá-la, busca-se a reconciliação. Outros, no entanto, carregam no currículo muita vaidade, e esta o motiva a sempre vencer. Busca-se sempre ter razão, arrasar o adversário. As conversas são atravessadas de propósito, dissimuladas, ensaiadas de forma maquiavélica. Tem-se o gozo de ver o outro em maus lençóis; anseia-se vencer o jogo, colocar a mão na taça, bater no peito e gritar: “Eu venci!”. E aí a coleção de troféus e medalhas folheadas a “ourogulho” cresce cada vez mais.

Penso que se as pessoas refletissem mais nas verdadeiras intenções que as levam a se relacionarem com alguém, inúmeros conflitos poderiam ser evitados. Chateações, mágoas, rancores, toda sorte de sentimentos que desconstroem uma relação poderiam ser amenizados. Mas isso é querer demais num mundo tão disputado e competitivo, em que cada um busca o seu espaço, diriam alguns. Se tiver uma boa química, se o sexo for gostoso, já está bom demais.

Discordo. É fato que a cotidianidade impulsiona a ser competitivo no mercado, a sair de casa cedo, batalhar, trabalhar o dia todo, a se dar bem, promover-se. Mas, sinceramente, relações afetivas não obedecem às regras vorazes do mercado. Ou, pelo menos, não deveriam obedecer. É inegável que os prazeres da carne aceleram os corações apaixonados. Mas relacionar-se com alguém implica em algumas renúncias, em doação de tempo, atenção, companheirismo. Implica até mesmo em ouvir conversas banais no final do dia. Paquera, namoro, casamento, nada disso deve ser baseado somente nos prazeres da cama. Pois estes acabam pela manhã, muito cedo, assim que o sol nasce.

Camila está ansiosa com o seu casamento que está prestes a acontecer. Até já fui convidado. Não tenho bola de cristal – nem pretendo! –, mas imagino que o casamento dela tem tudo para ser agradável e duradouro. Eles já estão há algum tempo jogando frescobol, sonhando juntos, se ajudando. Ah!, e Camila, se reconhecendo orgulhosa, tem se exercitado em controlar o seu inconveniente orgulho.

E você, caro leitor, como anda seu estoque de orgulho?

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Humble Me' - Norah Jones
Degustando Café Preto
Imagem: 'Arara' - Paulo Sousa


sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Poetas são gente

Crônica


Eu vivo pra poesia mas poetas não vivem pra mim. Espero que eles me alimentem como a um coelho faminto. Eles não sabem disso. É melhor mesmo que não percebam o quanto são necessários.

De outro modo seríamos ultrapassados por eles e eles não saberiam quando parar. Um excesso de poetas não seria uma boa idéia pro nosso mundo. Nosso mundo necessita apenas de um certo número. Embora isso ainda não tenha sido atingido é importante que a poesia seja controlada.

Eu sei. Tenho observado poetas vagabundeando por aí, esperando o momento de atacar. É pior do que haker atacando. Uma visão horrível. A pessoa atacada correrá pela rua gritando. Pode até amaldiçoar o sistema, e fugir de casa levando sua filha com ele.

Poemas têm um jeito de infeccionar os pobres idiotas que os escrevem. Poetas ficam em silêncio durante conversações, esperando uma brecha. Subitamente, sem aviso, um poeta falará uma sentença que acabou de pensar, e aqueles em volta gritarão como que atingidos por um curto-circuito.

Você gostaria que isso acontecesse freqüentemente? Levaria meses pra se voltar a qualquer aparência de normalidade. Isso pode ser uma boa de vez em quando, como mudança. Mas pára um momento e procura imaginar o pessoal do governo de Sua Majestade todos os dias fazer suas transmissões, como faz, mas cada uma ser um poderoso poeta.

A confusão seria indescritível. A nação ia parar nos trilhos e colher flores pros vizinhos. Carros iriam se abalroar no tráfego pros motoristas saltarem e apertarem as mãos. Greves seriam desnecessárias pois ninguém trabalharia. A vida seria boa demais pra se perder. Cada dia seria vivido sem plano e cada momento saboreado como vinho novo. Cada pôr-do-sol seria uma revelação e uma promessa pra amanhã.

Todo mundo faria amor. Mesmo os doentes. Melhor seria os poetas não usarem palavras. Melhor que nascessem mudos. Melhor que cortasssem as línguas, se falassem. E melhor ainda, se pensassem, ficassem em silêncio. Deus nos proteja de suas invocações ferozes, pelo menos até termos tempo de praticar exercícios de poetas mortos, pra estarmos em forma a fim de tentar hoje outra vez.

Poetas não percebem. Enquanto vivem são eras daninhas. Quando morrem são fertilizantes.

Millôr Fernandes


Ao som de 'Samba para Vinícius' - Chico Buarque e Toquinho
Degustando Johnnie Walker Black Label
Imagem: 'Sr. Raimundo' - Cláudio Márcio Lopes

Sobre os espetáculos na vida humana

Curtas


O maior espetáculo do mundo, diz certo filósofo, é um homem esforçado lutando contra a adversidade; há, porém, outro ainda mais grandioso, é o ver-se outro homem lançar se em sua ajuda.

Oliver Goldsmith



Ao som de 'A saudade é uma estrada longa' - Almir Sater e Renato Teixeira
Degustando Bolachas de Nata

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Para uma Moça com uma Flor

Poesia





De tantas, única.
De lembranças, poucas;
De esperanças, tantas!
E os sonhos, então?
Devaneios insanos, diriam.

Mas, e daí?
Pouco importa
Impressões parcas,
Percepções remotas,
O balbuciar de um coração desapontado.
Mas coração de poeta
– Menina que passa –
É brincalhão:
Desapontamento
Vira gracejo
Subterfúgio
Desassossego maior
Motivo
Paixão.

Os olhos,
As argolas,
O sorriso doce,
O balanço do cabelo,
O desfilar sutil dos quadris
Sobre duas esbeltas colunas,
“A coisa mais linda que já vi passar...”

Ah!, Marias ...
São tantas! – bem sei.
Gordas
Magras
Ruivas
Pardas
Negras
Amarelas
Santas
Demoníacas
E até angelicais.

Bendita sóis vós entre as mulheres,
Maria,
Maria bela,
Marieta,
Mariinha,
Maria...
Etérea, digna de ser amada.
Carnal, para sempre desejada.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Eu sei que vou te amar' - Vinícius de Moraes
Degustando Purê de Batata
Imagem: 'A mão que balança a rosa' - Marcelo F. Silva

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Dar o peixe também é preciso

Crônica

Quando me mudei para Recife, uma das coisas que mais me impressionou foi a quantidade de pedintes nos semáforos. Adolescentes, jovens, senhores, deficientes físicos, velhinhos, crianças – algumas tão miúdas que mal alcançavam na janela dos carros. Pessoas diversas pedindo vinte centavos, dez centavos, cinco centavos. Pessoas vivendo em condições marginais, na miséria. Pessoas, no entanto. Humanos. Subumanos.

E eu, na minha pretensa posse de conhecimento sociológico e antropológico, sempre com um pensamento fixo: “não se deve dar moedas, é preciso dar trabalho; não se deve dar o peixe, é preciso ensinar a pescar.” Quem nunca ouviu esta frase, esse pensamento verbalizado? Cansei de ouvi-lo, e várias vezes praticá-lo. Mas aquilo me incomodava.

Certa feita, papai estava no banco do passageiro e eu dirigindo o carro. Ele estava me visitando em Recife. Por três semáforos seguidos que parei o carro ele abaixou o vidro e deu um trocado para quem pedia.

— Pai, se o senhor for dar um trocado para todo mundo que pede no semáforo aqui, o senhor não terá dinheiro para o próprio sustento. Se o senhor sempre der, eles sempre vão pedir.

— Mas eles estão com fome, meu filho. – respondeu-me calmamente.

— Mas se o senhor agir assim dando o peixe, pai, eles nunca vão aprender a pescar. – eu insisti.

— Se você pensar na lógica, filho, você tem razão. Mas esses meninos, esses pedintes, estão com fome. E essa lógica é cheia de razão, mas não enche a barriga deles.

Aquele fala do meu pai foi como uma flecha no meu coração. Na verdade, eu concordava com o que ele dizia, e me sentia incomodado até, mas teimava em não dar o peixe.

Papai mansamente continuou:

— O Maior Homem que pisou na Terra, se estivesse no meu lugar, daria. Jesus muitas vezes, não só deu pão e peixe a quem tinha fome, mas os multiplicou milagrosamente e alimentou multidões.

Outra flechada. Papai tinha toda razão, mesmo sem entender de sociologia, antropologia, ou alguma ciência dita humana.

Lembrei-me de Madre Tereza que sabiamente disse: “Às vezes não adianta ensinar a pescar, pois a pessoa pode estar com tanta fome e tão fraca que não conseguirá segurar a vara de pescar.”

Depois disso, tapei os ouvidos para os magistrados que dizem que é errado dar comida ou dinheiro para quem pede na rua.

Sinceramente, não quero mais saber se é errado ou se é certo. A minha lógica se rebelou, não quer mais ter lógica. E eu não quero mais ver um ser humano igual a mim morrendo de fome aos meus pés. Desisti de ser maior pecador.

Ismael Alexandrino

Ao som de 'Pra cima Brasil' - João Alexandre
Degustando Pão

terça-feira, 20 de novembro de 2007

The Secret é um lixo

Artigo



"Saudações meus amigos! Você quer ser tão feliz quanto eu? Você tem o poder dentro de você agora mesmo para conseguir isso, use-o! Envie R$ 1,00 para o "Programa Eu sou feliz", Evergreen Terrace, Springfield. Não se atrase; a felicidade eterna está apenas hum real de você.", Homer Simpson.


O grande segredo é que você nasceu com super poderes para conseguir o que quiser. Basta querer. Basta acreditar. Basta mentalizar. Você pode tudo. "We are the champion, my friend". Você pode tirar nota 10 em todas as matérias da escola, basta pensar nisso. Você pode conquistar todas as garotas do pedaço, das loiras até as orientais, basta se concentrar nelas. Você pode atrair todos os clientes que desejar, basta focar o seu pensamento nos caras.

The Secret, o livro, o dvd, o cd, a palestra, a camiseta e todas as drogas derivadas dessa porcaria é uma das piores baboseiras que surgiram no pedaço nos últimos tempos. Lixo da pior espécie. Circo e pão para as massas! Saída fácil para os preguiçosos!

Você quer saber o The Secret para emagrecer? Pare de comer pão antes de dormir. Se você quer ganhar uma bicicleta, economize a sua mesada. Se você quer um emprego melhor, pare de reclamar da vida, e trabalhe dobrado hoje.

The Secret é uma ofensa em vários aspectos.

1º. Você é culpado pelas coisas ruins que acontecem com você. Insulto a todos os doentes e injustiçados do planeta! Será que os seis milhões de judeus assassinados durante a segunda grande guerra atraíram a maluquice do hitler porque tinham pensamentos negativos? Será que as crianças que morrem na África todos os dias sofrem de mau humor? Será que os cidadãos vítimas de bala perdida pensavam em morte quando foram alvejados? Será que os portadores de HIV pensavam em doenças quando foram vitimados?

2º. O negócio é ser rico. Afinal, The Secret é sobre o quê? Melhorar o mundo? Compaixão? Inovação? Cidadania? The Secret é sobre ficar rico. E para isso, segundo The Secret, você tem que ter coisas. Que coisas? Um carro novo, uma casa nova, uma roupa nova, um computador novo, um corpo novo etc etc etc. Lixo, lixo, lixo! O segredo é justamente aprender que você já tem o suficiente. Felicidade é sobre usar a adversidade da tua vida para criar algo fantástico para você e outras pessoas. A história de Rodolfo Nagai, e sua Assai Atacadista é um exemplo disso. Comprada recentemente pelo grupo Pão de Açúcar por 208 milhões de reais, a Assai cresceu atendendo os dogueiros, pasteleiros e pequenas pizzarias, um público abandonado pelos grandes atacadistas. "Os pequenos comerciantes não tinham tempo de comprar, e eu resolvi ajudá-los", diz Nagai. "Quando me dei conta, estava atendendo dezenas de pequenos comerciantes." Pare de sofrer ao tentar ser o que você não é. O segredo é encontrar significado na tua vidinha atual, e não desejar ser algo que você não é ou não pode ser agora.

3º. Você pode ser tudo, basta acreditar. Não, você não pode!!! Bobeira! Se você é bom em história deve ser terrível em matemática e vice-versa. Se você é bom em finanças, deve ser terrível em marketing e vice-versa.

Você não é bom em tudo e nem deve ser. Se você colocar dez pessoas em uma sala de aula para aprender uma matéria nova seja ela qual for, no final do dia duas pessoas serão crânios no assunto, cinco serão medianas, três serão terríveis, mesmo recebendo o mesmo treinamento na mesma hora do mesmo professor.

Se acreditar fosse o suficiente para ser excelente em alguma coisa, 70% das pequenas empresas não quebrariam antes de completar cinco anos de idade. Ou você acha que os empresários que quebraram não têm suficiente pensamento positivo? Para ser dono do seu próprio negócio é preciso praticar alguns princípios, e não apenas acreditar neles. 9 em cada 10 brasileiros querem ser donos do seu próprio negócio. Infelizmente, ser dono do seu próprio negócio não é uma profissão para qualquer um. Algumas pessoas simplesmente não têm condição para serem empresários, e isso não quer dizer que alguém seja melhor do que alguém por causa disso.

Como empresário você precisa trabalhar três vezes mais do que um funcionário tradicional. Esqueça as horas extras com a família. Esqueça os finais de semana e pontos facultativos por pelo menos 5 anos. Às vezes será preciso limpar a própria privada, entregar a própria venda, e consertar o próprio computador. Você está pronto para isso? A sua família te dá o suporte para seguir em frente?

Ser dono do seu próprio negócio significa ter autodisciplina e confiança ao extremo.

Você é do tipo de acorda todos os dias pronto para DESTRUIR DE VIVER ou você é do tipo que "simplesmente" não tá a fim de encarar as pessoas hoje? Você consegue aprender inglês sozinho ou precisa pagar um cursinho para te ensinarem o que aprender? Você consegue perder peso sozinho em corridas solitárias no parque próximo a sua casa ou precisa pagar um personal em alguma academia para te motivar? Você gosta de vender os produtos e serviços que produz, ou precisa de alguém que converse com os clientes para você?

Ser dono do seu próprio negócio requer que você seja vendedor de carteirinha. Se você não se sente confortável em ser vendedor, você terá grandes dificuldades em tocar um negócio.

Se você tem dificuldades para se motivar, e precisa do The Secret para levantar a tua bola, o teu fim é fazer parte das estatísticas do Sebrae.

The Secret é uma ofensa. Vender tamanha baboseira deveria ser um crime inafiançável. Veja como termina o livro: "Os pássaros cantam para você, as estrelas brilham para você, o sol brilha para você, todas as coisas belas estão aí para você, nada poderia existir sem você. Não importa quem você pensava que era, agora você sabe quem você realmente é. Você é o senhor do universo. Você é a perfeição da vida. E agora você conhece o segredo."

Senhor do Universo? Ah ah ah ah!!! "Pelos poderes de Greyskull!".

The Secret é bom em apenas uma coisa: marketing. Mas mesmo nesse campo eles perdem para outros marketeiros que já revelaram o segredo. Eu acredito que você conhece o slogan deles: "Just do it!".

QUEBRA TUDO! Foi para isso que eu vim! E Você?


Ricardo Jordão Magalhães¹, Lixeiro do The Secret


Ao som de 'Vamos dançar' - Ed Motta
Degustando Degustando Vinho Tinto Seco, o Chileno Viña Carmen
Imagem: 'O segredo está no vinho' - Ismael Alexandrino

Ricardo Jordão Magalhães¹ é consultor de marketing e palestrante, criador e gestor do site BizRevolution, de onde retirei este artigo.

sábado, 17 de novembro de 2007

Sobre como se deve viver

Curtas



Viva de tal maneira que não tenha vergonha de vender seu papagaio falador para a fofoqueira da cidade.

Will Rogers¹


Ao som de 'É preciso saber viver' - Titãs
Degustando Leite Achocolatado Gelado


Will Rogers¹ foi um humorista norte-americano, faleceu em 15 de agosto de 1935.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Tempus Lucidus

Poesia


Quando não resta dúvida,
A interrogação
Exclama-se!
E ponto final.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Procuro um amor' - Frejat
Degustando Suco de Maracujá

terça-feira, 13 de novembro de 2007

O encanto de Severina

Crônica

Ainda era cedo, e havia pouco tempo que eu estava na mesa de reuniões. Mais quatro pessoas a rodeavam esperando o início das atividades. Observava apenas, sem alimentar expectativas. Nem boas, nem más.

De súbito, entra aquele vestido vermelho-maçã. O cabelo oleoso, mas cuidadosamente prendido, e o batom de cor forte combinando com o vestido, revelavam alguma ocasião especial. As orelhas de abano não faziam idéia do que se sussurrava naquele ambiente; os olhos ressaltados não indicavam excesso de atenção. Mas os dois dentes esbanjavam contentamento, sorriam alegremente, um de cada lado da boca. Únicos.

“Me falaram que hoje é o meu aniversário, doutora! Tem como a senhora ver na minha ficha quantos anos estou fazendo?”. Olhei para a doutora também, e, sem hesitar, prontamente respondi, dirigindo-me a quem fizera a pergunta: “Acho que é 25, Severina! Você está muito elegante hoje, sabia?!”. Os dois dentes dela ficaram tão alegres que se distanciaram ainda mais um do outro.

Poucos minutos depois, após a doutora olhar num livro-arquivo, a revelação. “Sim, Severina, realmente hoje é o seu aniversário! Parabéns para você!”. O vestido vermelho-maçã ficara curto com o pulo que a aniversariante deu, ela estava a ponto de explodir de felicidade. Quantos anos, afinal, ela havia completado? O suspense pairava no ar, pude ouvir, num rápido silêncio, aquele coração gritar de alegria. Pulsava tão forte que se confundia com os pulos do vestido rubro.

“Acho que minha filha tem 18 anos! Será que ela tem quantos, doutora? Faz tanto tempo que não a vejo...” – percebi uma rápida nostalgia que logo se desfez. Era muita euforia para ser contida por um flash de lembrança. A doutora fechou o livro, estava pronta para fazer a grande revelação. Nós nos olhávamos – a doutora, Severina, as outras três pessoas e eu – como se esperássemos o resultado de um concurso da loteria, um grande prêmio. E era um grande prêmio realmente. Para Severina, era o maior prêmio que poderia existir naquele momento. Saber sua idade, situar-se no tempo, fazer parte da história cronológica do mundo.

Por um breve instante temi que os dois dentes de Severina pulassem da sua boca. Todo seu corpo tremia. Ela estava completamente extasiada. Teria um aniversário, saberia sua idade, e teria cinco pessoas para comemorar este momento com ela. Algo inimaginável, quase um sonho. E a euforia contagiou a todos os presentes naquela sala. Já estávamos todos de pé para cumprimentá-la, só esperávamos saber quantas velinhas deveriam ser sopradas, quantos pedidos a serem feitos.

Os olhos de nós todos brilhavam; os de Severina já escorriam algumas gotinhas de cristais que rolavam contentes pelo rosto. Ela parecia ter mais de trinta e quatro, mas mesmo assim se achou nova quando soube, e que teria muitos anos pela frente ainda. E a partir dali disse que contaria todos os seus anos, todos os seus aniversários.

Nunca vi tanta alegria num sorriso com tão poucos motivos. Nunca vi tanto encanto em uma vida tão severina.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'TV, Rádio e Jornal' - Elisa Queiroga
Degustando Café com Suco de Laranja e Gelo

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Pare de administrar pobreza

Artigo


No final do ano passado, fui contatado por um leitor que procurava ansiosamente a ajuda de um especialista para tirá-lo do que ele chamava de uma “sinuca” financeira. Segundo ele, a esposa havia perdido há alguns meses um emprego de secretária que garantia uma renda de R$ 800 mensais, um bom reforço ao salário de R$ 1.200 que ele ganhava mensalmente. Mas, às vésperas do Natal, as chances de recolocação em cargos administrativos eram reduzidíssimas, os gastos típicos de final de ano eram inevitáveis e, para piorar, meu leitor não contava com um décimo-terceiro salário, pelo fato de ser autônomo.

Esta família, que há alguns meses estava acostumada a viver com R$ 2.000 de renda total, se via então à beira de um abismo: parecia inevitável ter que recorrer a empréstimos volumosos! Suas dúvidas eram: como proceder para cortar gastos que pareciam inevitáveis – como condomínio, escola, supermercado – e qual seria minha sugestão quanto às alternativas disponíveis de empréstimos? Na prática, a dúvida não era sobre como evitar ou eliminar o problema, mas sim sobre como conviver com ele da melhor forma.

Obviamente, eu poderia alertá-lo sobre o grande erro que seria recorrer às financeiras, ao pagamento parcial do cartão de crédito ou ao cheque especial. Poderia orientá-lo sobre as alternativas mais baratas de empréstimo pessoal, fornecer dicas de economia doméstica, de corte de custos do lar, de compras mais inteligentes e outras estratégias bastante úteis àqueles que querem sair do vermelho.

Mas, se seguissem as orientações, a vida do casal não mudaria para melhor. Na melhor das hipóteses, dividiriam o problema deste Natal ao longo de vários meses, aumentando os gastos mensais da família com um parcelamento de dívidas antes inexistente. Quando a situação da família melhorasse (com um novo emprego, talvez), boa parte da nova renda seria consumida em contas não pagas ou juros acumulados nos meses anteriores. Mas haveria um caminho melhor? Seria possível melhorar a situação ao invés de torná-la “menos pior”?

A resposta a estas perguntas é positiva! Este caso tinha uma particularidade interessante que mudava toda a história. Uma simples pergunta minha a respeito dos objetivos de sua esposa mudou o caminho da orientação. Perguntei o que ela estava fazendo, e obtive como resposta: “Procurando emprego, mas está difícil nesta época”. Esta resposta surpreendeu-me bastante. Em épocas natalinas, quantas oportunidades de trabalho surgem? Não é esta a época em que os trabalhadores recebem seu décimo-terceiro e têm mais recursos para gastar? Não é esta a época em que as pessoas estão mais apressadas e com compromissos acumulados? Quantas oportunidades existirão?

Será que uma pessoa sem emprego não conseguiria reforçar sua renda, por exemplo, cozinhando para aqueles que não teriam tempo de preparar a ceia? Realizando compras para aqueles que teriam compromissos até a véspera do Natal? Embrulhando presentes, criando cestas de Natal diferenciadas, criando decorações de mesa, ajudando a organizar a vida de alguém? Comprando e revendendo produtos com grande demanda?

Qual será o medo que impede as pessoas de empreenderem? Se for algum tipo de medo de rebaixamento social ou desvalorização de sua experiência, temo reconhecer que aqueles que pensam desta forma estão voluntariamente fechando as portas para grandes oportunidades. De pequenos serviços de leva-e-traz surgem grandes empresas de logística! De modestas confeiteiras surgem concorridos restaurantes e lanchonetes! De humildes costureiras surgem cooperativas e oficinas de confecção que fornecem à grande indústria da moda!

Quando morei alguns meses no Exterior, surpreendi-me com um casal de vizinhos que aparentemente não trabalhavam, pois eu os encontrava a qualquer hora do dia em casa. Após tornar-me um pouco mais íntimo deles, fiquei sabendo que eles trabalhavam apenas quatro meses por ano, vendendo churros durante os meses quentes do verão. Trabalhavam tanto naqueles poucos meses que eram capazes de fazer uma poupança que, administrada com disciplina, os mantinha durante o ano. E, durante os demais meses, contribuíam voluntariamente com crônicas para o jornal do bairro. Ou seja, eram considerados intelectuais naquela comunidade, sem o menor preconceito quanto à qualificação (ou falta de) de seu trabalho de verão.

Muitas vezes, a preocupação e a perda de nosso tempo com a administração de pequenos gastos ou com a procura de soluções paliativas cegam nossos olhos e impedem que percebamos as oportunidades que passam por nossas vidas diariamente. Por que não pegar um empréstimo para pagar mercadorias que serão vendidas com lucro, ao invés de usá-lo simplesmente para cobrir a falta de caixa e presentear o sistema financeiro com lucros maiores ainda? Há muita energia humana sendo gasta para tapear os problemas, enquanto poderia estar sendo usada para criar soluções. A oportunidade de empreender, muitas vezes, está dentro de nós mesmos, basta agir.

Gustavo Cerbasi¹


Ao som de 'Paris, Texas' - Gotan Project
Degustando Café com Licor de Amarula
Imagem: 'Man opening wallet full of American currency' - Siri Berting



¹Gustavo Cerbasi é consultor financeiro, professor dos MBAs da Fundação Instituto de Administração e autor dos livros "Filhos inteligentes enriquecem sozinhos", "Casais inteligentes enriquecem juntos" e "Dinheiro – Os segredos de quem tem".

sábado, 10 de novembro de 2007

Crime prostitucional

Miniconto

Os carros passam vagarosamente. Elas empinam ainda mais o bumbum. Rebolam, literalmente. As mini-mini-saias sobem. É madrugada. O semáforo abre. Um carro continua parado na esquina. A loira olha; se aproxima dele, projetando-se na janela. Os seios por pouco não se mostram. De longe, muito longe, observo. O sinal fecha. Vermelho. A morena, provocante, se aproxima. As duas em posturas sedutoras na janela do importado. Verde. Amarelo. Um trio indeciso. Elas, assustadas, se afastam. Dois tiros. Elas caem. O carro, vagarosamente, se distancia. O semáforo se fecha. Luzes vermelhas. Sirenes. Tarde demais.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Baby Jane' - Rod Stewart
Degustando Jack Daniel's
Imagem:'Noites patagônicas' - Sérgio Patagônia

domingo, 4 de novembro de 2007

Sobre a Guerra

Curtas

Quanto mais me incitam à guerra e ao consumo de vida humana, maior impotência tentam me incultar. Refugo, no entanto, Senhores. Debato, esperneio, rasgo-me se preciso for, mas não levantarei minha mão se não for para levantar alguém ou para acariciar um rosto que chora.

Soldados!, Guerrilheiros!, Presidentes!, Ditadores!, Líderes!, farei amor no meio da guerra, já que querem a guerra, e não o amor.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Sunday Bloody Sunday' - U2
Degustando Flores Comestíveis

sábado, 3 de novembro de 2007

Sobre a distância

Curtas

Longe é um lugar que não existe dentro de mim.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'O sol' - Jota Quest
Degustando Sprite Estupidamente Gelado

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Tempos Idos

Poesia


Desenfreado desencronto
Encontrava-nos cada vez mais
E nos encontrando todo dia
No café
No almoço
À noitinha
E na madrugada
Distanciávamos.

Juntos, infinitamente distantes,
Morríamos de saudade um do outro
O outro e um de anos atrás
Na praça
Na igreja
À sós
E na casa
Amávamos.

Um esquadro, uma tela,

Empalhada em cores-pastéis
Nosso canto, nossa história
Do mesmo jeito de anos passados
Repousa, adormecido, nosso amor.

Procuro pela indiferença, não a encontro.
Só enxergo a vaidade, o orgulho, o rancor
E muita dor não tratada.
Busco remédio, encontro-o.
E já não estás por perto.
Mas estou certo de que guardado

Respira o nosso amor.

Tempos áureos – belo!
Hiato de tempo – maldito e necessário.

Tempos Idos – por certo!
Tempos Idos? – perto e imaginário.

Ismael Alexandrino



Ao som de 'Sedução' - Ido Alves
Degustando Trufas de Morango
Imagem: 'Divorced Family' - Carla Golembe