Café Alexandrino - O lado aromático da vida

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Carta de Reconciliação

Carta
“A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontros pela vida.” Encontrei-te, Gérbera, – tímida, porém cantante – no meio de tantas outras há aproximadamente cinco anos. Havia um tom bonito em suas pétalas, um discreto sorriso em nossos rostos, havia muito brilho no olhar. Encantei-me, quis te conhecer, apaixonei-me e te amei. A vida – uma aventura singular – com suas facetas debaixo de propósitos divinos (todos!)aprontou-nos. E nos desencontramos.

Tímida, ensinou-me a amar-te com delicadeza. Sutil e doce, fez-me sonhar, imaginar-nos a dois um “pra sempre” que nunca acaba. Vivemos neste tempo todo momentos agradabilíssimos, ricos, prazerosos, de euforia, cheios de histórias interessantes para contar para os filhos – tão sonhados! Inegável. Vivemos percaussos também, é fato, principalmente nos últimos meses, culminando com nossa dolorosa separação. Vivemos, no entanto.

Há tempos eu não te fazia surpresas, há algum tempo deixei de te encantar. Desacelerei o coração, estacionei o amor. Mas encantamento, hoje, é o que mais tenho. Empolgação, ânimo, paixão dilacerante e amor pacificador, zeloso é o que habita em mim. E não há ninguém, pessoa alguma, sobre a qual eu possa depositá-lo a não ser em ti. Não tem porque não há quem me mereça como tu, não tem porque não conheço pessoa tão valoroza. Distinta. És distinta. Provaste-me isso nos últimos dias, lição após lição, conversa após conversa, atitude após atitude. E o amor que habita em mim, novamente entrou em erupção. Sou um Etna em plena atividade jorrando lavas de amor, carinho, paixão, cuidado, bem-querer. Bem-te-querer.

Sei plenamente, Gérbera, que te feri, machuquei-a, traí seus sentimentos, arranhei sua confiança. Sei de tudo isso. O fiz, não sem dor, acredite. Dói-me mais ainda saber que o fiz. Mas não sei porquê. Insanidade, talvez. Espírito por demais aventureiro. Espírito humano, demasiadamente humano. Espírito errante, errei.

Perdoe-me. Nunca foste merecedora disso. Merecias plumas e algodões. Dei-te, muitas vezes, alfinetes que traspassaram seu corpo e hoje dão pontadas agudas em meu peito. Angustio-me. Rasgo-me por inteiro.

Imagino que ainda me amas; imagino que ainda sonhas comigo, imagino que tu sentes algo – ainda que adormecido, pequeno (ou grande até!) – de bom e gostoso por mim. Ressentida, fechas o semblante, tentas descontar algo, sarar sua dor. Compreendo-te.

Ah!, Gérbera,...quaisquer palavras minhas seriam parcas diante do que gostaria de te expressar. Não consigo transcender a tal ponto. “Amo-te tanto, meu amor, o humano coração com mais verdade. Amo-te como amigo e como amante...” e estou certo que “De tudo, ao meu amor, serei atento antes, e com tal zelo”.

Há muito amor aqui dentro, há muito amor por ti, há muito amor que quero te dar. Sem reservas. Só preciso que reconcilies comigo e esqueças o passado recente sem ressentimentos.

As flores (gérberas) que acompanham esta carta vão plantadas, não tolhidas em um buquê. Não quero que elas murchem; ambas formam um casal belo. Esse par de gérberas que te envio, Gérbera minha, são a poesia de nós dois.

Te amo muito.

Ismael Alexandrino


Ao som da frase "A gente estava tão feliz nesse dia!"
Degustando Algodão Doce
Imagem: 'Chocolate heart on a pink gerbera daisy flower for you' - Vanessa Pike-Russell

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Na esquina

Poesia
Ignoras-me
Desde aquele minuto
Depois do lapso
Daquele café
Às dezesseis.

Sabia que existia
Uma ironia por entre
Seus dentes brancos
Uma malícia repousando
Nessa sua pintinha na face.

Mas tu tens a perder
Sem muito sabor, é verdade,
Mas tem.
Eu, não.
Já perdi antes do café.
E não estou certo
Se desgostei da perda.
Não sinto remorso,
Mas dói-me não sei bem porquê.

"Porquês" me afligem
Sabias?
Sempre os chamo,
Mas não tenho tamanha destreza
Em respondê-los.
Porque tem "porquês" que são porque são.

Talvez saiba o porquê:
Perder dói. E ponto.
Interrogação
Exclamação
Final
Reticências...
Ponto-de-vista à parte, pode ser.

Incongruências de um devaneio, certamente.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Devolva-me' - Adriana Calcanhoto
Degustando Halls de Melancia
Imagem: 'Mi esquina favorita' - Silvia Maria Salto


segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Sobre coisas importantes da vida

Curtas

Na vida, amo e dou muita importância às coisas simples; não às pequenas.

Ismael Alexandrino

Ao som de Canto de Pássaros
Degustando Café Preto

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Poeminha proibido

Poesia

Falas-me de um proximidade subjetiva
Te sentes abrigada, acolhida;
Entendo-te.
Anseio, no entanto, pela objetividade
Do seu toque em minha pele ansiosa.
Às vezes, temo que me percebas
Percebas-me por demais ansioso
Receio que vejas o nudismo de minha'lma
E se afaste, vire as costas.
Então policio-me, disfarço.
Mas percebes, sei que percebes
Percebes a ligeireza do meu sorriso
Quando te vê a poucos metros
Mesmo que estática e n'outro mundo.
Contemplo-te absorto em pensamentos
Puros e serenos
Lascívos e efusivos
Desejo-te sem muitas explicações
Amo-te no meu silêncio tímido
Sem balbuciar cientificismos
Quero-te por te quero.
Tão somente!
Mas piso pé por pé
Para que não te assustes(tanto!)
Para que não sofras(mais!)
Não mais do que a vida
Já te reservou sem avisos prévios
E hoje te achas com feridas abertas
Clamando por um cuidado único
Impossível às mãos de um cirurgião qualquer.
Posso me sentir feliz
Por te sentires próxima?
Posso abrigá-la?
Posso aconchegá-la?
Posso abrigar cada um de seus sonhos adormecidos?
Posso aconchegar cada gota de sentimento pingado?
Posso ter-te infinitamente enquanto durarmos?
Calo-me.
Observo-te esperançoso, feliz
Não pela certeza da posse
Mas pela certeza do sorriso no olhar
E, para mim que o amo,
Suficiente para seguir sonhando
Com uma desventura alheia
E uma aventura eterna de nós dois.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'From this moment' - Shania Twain
Degustando Cioccolato Caldo by Fran's Café
Imagem: 'Para uma moça, com uma flor' - Ismael Alexandrino