Um
conhecido texto de Rubem Alves foi bastante lido em 2011 e 2012. Intitulado
"Ostra feliz não faz pérola", a crônica que também deu nome a um
livro do autor faz uma analogia da nossa criação no dia-a-dia ao modus
operandi das ostras.
O
título é auto-explicativo. Ele defende que as ostras que fazem belas pérolas
são aquelas fechadas, tristes, ensimesmadas. As alegres, abertas, comunicativas
com o que as cercam, não produzem jóia alguma.
Em
2011 e 2012, muitos amigos me perguntaram porque eu havia diminuído tanto –para
não dizer parado – de escrever textos. Quem me conhece bem, sabe como me é
prazeroso o processo da escrita. E como me dói não produzi-los.
Aproximando-me
do texto de Rubem, certamente estive feliz nos últimos dois anos. No amor,
então, pacifiquei. Por demais até. Encontrei uma pessoa ímpar, companheira,
amável, e me casei. Acomodei. Corri perigo.
Destoando-me
do texto de Rubem, certamente estive morto nos últimos dois anos. No trabalho,
percorri caminhos que muitos gostariam de percorrer, mas se eu pudesse não
tê-los percorrido, assim teria feito. Hoje percebo que fora necessário. Planos
de Deus, alguns dizem. Teimosia minha, acredito. Corri atrás do vento, em torno
do "rabo", girei tanto, que cauterizei a mente. Mais do que corri
perigo. Morri.
Toda
felicidade e toda morte são cômodas. Por isso deixei de fazer pérolas. Fiquei
feliz demais em alguns aspectos, morri em outros. E em ambos, acomodei. Só que
qualquer acomodação faz assentar poeira em cima, ou resíduos no fundo do poço –
lugar em que cheguei.
Tudo
necessário! Assim como o são a intermuda dos artrópodes, para desembocar na
muda ou ecdise posteriormente, agora, muda-se o estágio. Balança-se a poeira do
semblante e da bunda, revolvem-se os resíduos.
Muda-se
de cidade, muda-se de emprego, mudam-se as condutas, traçam-se novos planos,
retomam-se os sonhos. Recomeça-se.
Ostras
felizes podem até não fazer pérolas, mas ostras mortas também não.
Ismael
Alexandrino
Ao som de 'Por
enquanto' - Cássia Eller
Degustando Suco de
Lichia