Café Alexandrino - O lado aromático da vida

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Um minuto

Miniconto

Ouço risos. Irreais. Há descontração; inexiste alegria. Sua alma sofre. E eu me calo. Sinto sua dor. Sofrido, contorço-me, agonizo-me. Minhas mãos estão atadas, meus pés estão atados, meu coração está se desatando. Aos poucos, é fato. Mas perceptível.

Ouço choro. Reais. Seu coração chora. E eu engulo mais saliva que de costume, uma saliva salgada. Também choro. Mas não escutas, não quero que saibas o que passa na intimidade do meu âmago. Para ser realmente sincero, eu quero. Mas, ao saber, temo que se apaixones mais, e sofra.

Não ouço nada. O silêncio do meu coração covarde, agonizante, grita. Suspiro. Já posso sentir a boca ressequida. Esgotaram-se as lágrimas. Turva-me a visão. Minha cabeça pulsa, meus braços pulsam, minhas pernas pulsam. Sinto que minha pele é pequena, quase não contém meu corpo. Vejo estrelas rodando. São estrelas? Vejo escuridão também. Já é noite? Pessoas caminham agitadas. Ululante, tento gritar, pedir socorro. Sem êxito.

Entra na sala uma moça de cabelos longos, pretos, bastante liso. Parece-me familiar. Meus olhos se acalmam. Ela sorri, aperta minha mão. Tento abraçá-la sem saber nem o porquê, mas percebo que há uma mangueira transparente conectada em meu braço. "Deve ser soro", penso. Onde estou, meu Deus?

As outras pessoas saem da sala. Ela senta ao meu lado, cochicha-me algo. Sorrio. Tento abraçá-la novamente. Acordo no vazio do meu quarto solitário.

Ismael Alexandrino


Ao som de "Wonderful tonight" - Michael Bublè e Ivan Lins
Degustando Sanduíche Subway
Imagem: Escótomas