Café Alexandrino - O lado aromático da vida

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Crescer se aprende

Crônica


Alguns peixes têm uma característica extremamente interessante: são capazes de crescer de acordo com o tamanho do ambiente em que vivem. Assim, se estão num pequeno aquário, medem alguns poucos centímetros, enquanto que, se estiverem numa represa ou num lago, podem medir duas, três, quatro vezes mais.

Seguindo este mesmo comportamento, algumas árvores, quando plantadas em pequenos vasos, não crescem muito, ficam limitadas no tamanho. Ao passo que aquelas plantadas onde o espaço e a quantidade de terra são abundantes, tornam-se robustas e com frondosas copas verdejantes.

O ser humano, como parte da natureza, também tende a crescer de acordo com o ambiente em que vive. Não me refiro, tão somente, ao crescimento físico, mas sim às peculiaridades que o diferencia de todos os outros seres viventes. Por aí perpassa o desenvolvimento intelectual, emocional e espiritual.

Os peixes, bem como as árvores, são obrigados a aceitarem as limitações de seus próprios mundos. E se assim não fosse, não resistiriam. Ou seja, o fazem para o próprio bem deles. Ao homem, no entanto, foi dada uma grande liberdade de estabelecer a fronteira dos seus sonhos e os limites do seu mundo.

Desta forma, se somos um peixe maior que o aquário em que fomos criados ou se, porventura, somos uma árvore maior que o vaso em que fomos plantados, em vez de limitarmos nosso crescimento e nos adaptarmos a eles, deveríamos repensar nosso estado. Ainda que a adaptação inicial fosse melindrosa, desconfortável e até mesmo dolorosa, talvez fosse interessante buscarmos o oceano ou, quem sabe, uma pastagem verdinha do tamanho do horizonte.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'É preciso saber viver' - Titãs
Degustando Suco de Uva
Imagem:'Campos de Canola' - Joice

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Eu sei

Música

Eu sei, tudo pode acontecer
Eu sei, nosso amor não vai morrer
Vou pedir aos céus você aqui comigo
Vou jogar no mar flores pra te encontrar

Não sei porque você disse adeus
Guardei o beijo que você me deu
Vou pedir aos céus você aqui comigo
Vou jogar no mar flores pra te encontrar

You say good-bye, and I say hello
You say good-bye, and I say hello

Serginho Moah e Fernando Pezão


Ao som de 'Eu sei' - Papas da língua
Degustando Chá de Erva Doce
Imagem:'Porteira' - Dario Trachta

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Finitude

Poesia


Há vezes
que a vida acaba
pela falta
de um suspiro
profundo;

Às vezes,
num profundo
suspiro.

Ismael Alexandrino



Ao som de 'O que é, o que é' - Gonzaguinha
Degustando Frapê de Pêssego
Imagem: 'Fim de Tarde' - Sandra Novis

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

A Pequenina

Poesia

Estacionou-se um sorriso
Infantil
Calando-se um grito
Vital.

No quarto frio,
Fios, tubos, corre-corre,
Apertos no peito,
Adrenalina
Sopro artificial
E nenhum sinal.

Apertos nos peitos presentes
Adrenalina
Sopro artificial
E nenhum sinal.

Apertos, apertos,
Nós na garganta
Adrenalina
Sopros, sopros
Apertos no peito
Gotas de suor
Na busca de um sinal.

Apertos nos peitos presentes,
Lágrimas nos olhos ausentes,
Suspiros existenciais...

...sobre aquele corpinho
De sete perfeitos
Meses de vida
– agora sem vida – ,
Chora mãe e médico
A falta de um sorriso infantil,
Chora médico e mãe
A falta de sinais vitais.

Ismael Alexandrino

Poema dedicado à Maria Luiza, 7 meses, que faleceu hoje (25-01-07) em meus braços.

Ao som de 'Tears in Heaven' - Eric Clapton
Degustando boca amarga e lágrimas salgadas
Imagem: 'Mãe e Filha' - Murilo Faria

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Serenata

Poesia

Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.

Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silêncio,
e a dor é de origem divina.

Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.

Cecília Meireles


Ao som de 'Words' - Bee Gees
Degustando Chá de Maça com Canela
Imagem: 'Serenata ao luar' - Rui Bonito

sábado, 20 de janeiro de 2007

Felizes são as crianças

Crônica

Ouvi, quando criança, uma história que guardei no coração. Porque as crianças são assim: guardam as histórias que contamos no coração. Por isso, devemos sempre estar atentos àquilo que contamos a elas.

Pois esta eu guardo até hoje. Acho que continuo criança. A bem da verdade, gosto disso. Quero continuar com espírito de criança por todos os meus anos vividos. E torço para que sejam muitos! Há poucos dias, li sobre uma senhora, tida como a mais velhinha que pisava sobre a Terra. Pisava, não pisa mais. Ela fechou os olhos definitivamente aos 131 anos de idade em casa e sem doenças aparentes. Já um pouco cansada, apenas dormiu profundamente. Deixou um filho adotivo com 86 primaveras vividas.

Digo que quero viver menino, pois acho as crianças sinceras e alegres. Já pensou ser sincero e alegre por 131 anos? Sonhos são sonhos e, um dos meus, é viver menino e morrer poeta.

Pois bem, voltando à história de que sou guardião, lembro-me dela com clareza. Diz que, certa vez, um Nazareno peregrinava e, vendo que muita gente o acompanhava, parou, se assentou e começou a falar sabiamente àqueles transeuntes. Antigamente os sábios, quando iam dizer algo, costumavam se assentar no chão. Foi isso que ele fez. A multidão estava em pavorosa, agitada, ansiosa para vê-lo, sobretudo, para ouvi-lo. Com voz mansa, ele proferiu um verdadeiro poema mais ou menos assim:

“Felizes os humildes de espírito, porque dele é o reino dos céus.
Felizes os que choram, porque serão consolados.
Felizes os mansos, porque herdarão a terra.
Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.
Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Felizes os limpos de coração, porque verão a DEUS.
Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.
Felizes os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.”

É com profundo cuidado que carrego, desde a tenra idade, esta cena marcante a mim contada. Posso imaginar cada singelo gesto.

Noutra oportunidade, também nesta época, disseram-me que o Nazareno, ao ser indagado quem seria o maior no reino dos céus, chamou uma criancinha, a colocou no seu colo e, prontamente, respondeu: “se não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus.”

Pensando bem, acho que tenho mais motivos para tentar viver como as crianças.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Aquarela do Brasil' - Toquinho
Degustando Suco de Uva com Maça
Imagem: 'Infância' - Cesar Coe

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Paradoxo térmico

Poesia


Recife, minha gente, é muito quente!
Quente mesmo, oxente, é o meu coração.
Coração que pulsa minha alma
Minha alma que, quando quente,
Quente fica vazia de alma
Alma minha tem que ser fria
Fria e aconchegada em teus braços
Braços que (só eles) a aquecem diferente
Diferente desse calor recifense
Calor recifense que só me cansa
Cansa meu corpo,
Corpo cansado,
Cansado fica meu coração
Meu coração saltitante
Saltitante em busca d’uma alma
Alma que não seja vazia
Vazia de significado
Significado que me inspira
Inspira-me e eu não transpiro
Não transpiro este suor melado
Melado salgado com gosto de sujo
Sujo e imundo, sujismundo
Sujismundo me sinto
Sinto-me mal assim
Assim longe do frio
Frio que me inspira
Inspira-me tão somente
Tão somente porque me carrega
Carrega-me para perto
Perto do teu peito
Peito com poderes único
Único capaz de deixar-me
Deixar-me nele repousando
Repousando...
... frio como estátua de gelo
Repousando...
... quente como um vulcão que dorme.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Time after time' - Dany Carlos
Degustando Suco de Maracujá Gelado
Imagem: 'Estrada para o paraíso' - Bia Boucinhas

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Mulheres

Poesia


As mulheres são terríveis.
Incríveis,
Posso até dizer.
Algumas vezes, risíveis.
Outras, temíveis.
Adoráveis quando o querem.
Amáveis se puderem.
Cheias de liques, chiliques
E de muita fantasia.
Seus tiques,
Com essa poesia,
Têm muito de comum.
Bem sei:
Das mulheres amorosas,
Suaves como rosas
Que ninam a criança.
Das mulheres coroadas de glórias,
Entradas na História.
Mas, de tudo sabendo,
Não me rendo
E continuo dizendo:
As mulheres são terríveis,
Incríveis, mas, irresistíveis.

Josué Mota

Ao som de 'Mulheres de Atenas' - Chico Buarque
Degustando Capuccino de Chocolate com Chantilly de Menta e Calda de Tangerina
Imagem: 'Sensualidade a flor da pele' - Eliamar Vasconcelos

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Apologia à cerveja do meio-dia

Crônica

Chico, poeta pernambucano que trouxe à luz do mundo a batida que emanava do mangue, já defendia: "Uma cerveja / antes do almoço / é muito bom / pra ficar pensando melhor". Como que por influência divina, ele ditou, o que já era a muito, provérbio do cotidiano, que se não fosse por desatenção de Abraão, seria o XI mandamento. Esta mera apologia, que não é uma ode por incompetência do autor, vem ao mundo com a vontade de revelar os atributos e graças que a loirinha traz no dia-a-dia de quem desfruta desse néctar.

Quanto mais gelada mais sedutora, convida ao almoço aquele que até então labutava sem descanso. A gelada do meio-dia acalma o nervoso, desperta o sonolento, sacode o preguiçoso, nutre o faminto e dá energia para o fim da jornada que está entre o amanhecer e o crepúsculo que é sempre o último de cada dia.

Melhor, mais útil e importante do que a cerveja do meio-do-dia só a do "happy-hour". Mas essa já é uma outra conversa.

Antonio Moraes Filho


Ao som de 'Maneco Telecoteco' - Zeca Pagodinho
Degustando Petra Premium
Imagem: 'Cerveja' - Ricardo Braescher