Café Alexandrino - O lado aromático da vida

terça-feira, 29 de agosto de 2006

Angústia de quem ama

Poesia

Por um momento, bateu-me tristeza,
Fiquei com o meu coração na mão.
Brotou-me sutil engasgo na garganta,
Senti uma angustiante emoção.

Por outro momento, senti que o meu
Amor ela o queria recusar.
Não quis acreditar, pois tanto amor
Senti. Não!...não acabaria ali.

Mesmo assim, me senti em suspensão...
Voltei ao meu refúgio, ao meu canto;
Conversei com meu DEUS em oração.

Enquanto o fazia, visualizei
Realidade que tanto sonhei...
Na mesa de estudo, -- só,-- cochilei.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Essa mulher' - Elis Regina
Degustando Suco de Uva
Imagem: 'Ensayo a la tristeza' - Sarelisa

segunda-feira, 7 de agosto de 2006

Elegância

Crônica


Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara: a elegância no comportamento.

É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza. É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto. É uma elegância desobrigada. É possível detectá-la nas pessoas que elogiam bem mais do que criticam. Nas pessoas que escutam mais do que falam. E quando falam, passam longe das fofocas, das pequenas maldades ampliadas no boca a boca. É possível detectá-las nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se dirigir afrentistas. Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros. É possível detectá-las em pessoas pontuais.

Elegante é quem demonstra ter interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda a secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não. Oferecer flores é sempre muito elegante. É elegante não ficar espaçoso demais. É elegante você fazer algo por alguém, e este alguém jamais saber que você teve que se arrebentar para o fazer. É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao outro. É muito elegante não falar em dinheiro em bate-papos informais. É elegante retribuir carinho e solidariedade. É elegante o silêncio, diante de uma rejeição.

Sobrenome, jóias e nariz empinado não substituem a elegância do gesto. Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, a estar nele de forma não arrogante. É elegante a gentileza... atitudes gentis falam mais que mil imagens... Abrir a porta para alguém... é muito elegante. Dar o lugar para alguém sentar... é muito elegante. Sorrir, é sempre muito elegante e faz um bem danado para a alma. Oferecer ajuda... é muito elegante. Olhar nos olhos ao conversar, é essencialmente elegante. Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural pela observação, mas tentar imitá-la é improdutivo. A saída é desenvolver em sí mesmo a arte de conviver, que independe de status social: é só pedir licencinha para o nosso lado brucutu, que acha que "com amigo não temos que ter estas frescuras". Se os amigos não merecem uma certa cordialidade, os inimigos é que não irão desfrutá-la.

Educação enferruja por falta de uso. E, detalhe: não é frescura.

Toulouse Lautrec


Ao som de 'Gentileza' - Adriana Calcanhoto
Degustando Café Preto com Raspas de Canela
Imagem: 'En Canot sur l'Epte' - Claude Monet