Crônica
Mais que sentir, medito sobre esse trecho de Brecht. Ele fala sobre perspectivas, ângulos de visão. A minha visão, a sua visão; nossas diversidades. Quando nos deparamos com um problema gerado por outra pessoa, temos duas possibilidades: ou a julgamos de súbito, ou nos colocamos no lugar dela. Não raro optamos pelo julgamento precoce, pela impressão, pelo que parece ser. É quase inevitável tomarmos partido. Somos intolerantes por natureza. E a natureza humana tende a ser má, prima pelo instinto.
A perpetuação da espécie necessita de certo egoísmo. No meio animal é comum matar o outro se preciso for para garantir o seu espaço, proteger seu território, o seu modus operandi. Esta é a expressão máxima do egoísmo. Mas dos humanos se espera civilização, condição a qual o individuo se torna um pouco maleável em prol do próximo, da comunidade, de um “bem maior”.
Tem tudo a ver com o que chamam de “amar ao próximo”. E isso só é possível na medida em que você se coloca no lugar do outro. Afinal, é difícil amar quem não se conhece. Mas você pode muito bem se colocar no lugar do outro e amar a si mesmo. Digo “pode” porque também sei que tem gente que não se ama. Aí o problema é mais grave, torna-se algo patológico, doença.
Aqui opto por falar com aqueles que já se amam. Aos que ainda não descobriram este prazer – amar a si mesmo –, sugiro (de coração) que procurem ajuda. Para ajudá-los, há os psiquiatras para os mais céticos, há os líderes espirituais para os fervorosos. E há a opção dos dois para os inteligentes.
Aos que já se amam, no entanto, estimulo-os a amarem também ao próximo, a serem tolerantes com as diferenças. Se disserem “mas eu amo o próximo! ”, gentilmente os convido: amem mais! Não precisam ser rio violento que tudo arrasta; muito menos margens agressivas que comprimem o leito, o fluir gostoso da vida.
Se forem “rios”, que sejam belos, cristalinos de alma, que lavem o mundo que o circunda daquilo que é mau. Se forem “margens”, que sejam bondosas, acolhedoras, cheias de carinho, canteiros de safras férteis.
Espero, sinceramente, que esta seja uma das suas e das minhas perspectivas, apesar das nossas diversidades.
Ismael Alexandrino
*Este texto também pode ser lido na Revista Zelo, exatamente nesta página aqui.
Ao som de ‘Imagine’ – John Lennon
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Imagem: 'Cânion do Buracão' - Caetano Lacerda