Tímida, ensinou-me a amar-te com delicadeza. Sutil e doce, fez-me sonhar, imaginar-nos a dois um “pra sempre” que nunca acaba. Vivemos neste tempo todo momentos agradabilíssimos, ricos, prazerosos, de euforia, cheios de histórias interessantes para contar para os filhos – tão sonhados! Inegável. Vivemos percaussos também, é fato, principalmente nos últimos meses, culminando com nossa dolorosa separação. Vivemos, no entanto.
Há tempos eu não te fazia surpresas, há algum tempo deixei de te encantar. Desacelerei o coração, estacionei o amor. Mas encantamento, hoje, é o que mais tenho. Empolgação, ânimo, paixão dilacerante e amor pacificador, zeloso é o que habita em mim. E não há ninguém, pessoa alguma, sobre a qual eu possa depositá-lo a não ser em ti. Não tem porque não há quem me mereça como tu, não tem porque não conheço pessoa tão valoroza. Distinta. És distinta. Provaste-me isso nos últimos dias, lição após lição, conversa após conversa, atitude após atitude. E o amor que habita em mim, novamente entrou em erupção. Sou um Etna em plena atividade jorrando lavas de amor, carinho, paixão, cuidado, bem-querer. Bem-te-querer.
Sei plenamente, Gérbera, que te feri, machuquei-a, traí seus sentimentos, arranhei sua confiança. Sei de tudo isso. O fiz, não sem dor, acredite. Dói-me mais ainda saber que o fiz. Mas não sei porquê. Insanidade, talvez. Espírito por demais aventureiro. Espírito humano, demasiadamente humano. Espírito errante, errei.
Perdoe-me. Nunca foste merecedora disso. Merecias plumas e algodões. Dei-te, muitas vezes, alfinetes que traspassaram seu corpo e hoje dão pontadas agudas em meu peito. Angustio-me. Rasgo-me por inteiro.
Imagino que ainda me amas; imagino que ainda sonhas comigo, imagino que tu sentes algo – ainda que adormecido, pequeno (ou grande até!) – de bom e gostoso por mim. Ressentida, fechas o semblante, tentas descontar algo, sarar sua dor. Compreendo-te.
Ah!, Gérbera,...quaisquer palavras minhas seriam parcas diante do que gostaria de te expressar. Não consigo transcender a tal ponto. “Amo-te tanto, meu amor, o humano coração com mais verdade. Amo-te como amigo e como amante...” e estou certo que “De tudo, ao meu amor, serei atento antes, e com tal zelo”.
Há muito amor aqui dentro, há muito amor por ti, há muito amor que quero te dar. Sem reservas. Só preciso que reconcilies comigo e esqueças o passado recente sem ressentimentos.
As flores (gérberas) que acompanham esta carta vão plantadas, não tolhidas em um buquê. Não quero que elas murchem; ambas formam um casal belo. Esse par de gérberas que te envio, Gérbera minha, são a poesia de nós dois.
Te amo muito.
Ismael Alexandrino
Ao som da frase "A gente estava tão feliz nesse dia!"
Degustando Algodão Doce
Imagem: 'Chocolate heart on a pink gerbera daisy flower for you' - Vanessa Pike-Russell