Café Alexandrino - O lado aromático da vida

terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

Estação saudade

Poesia

Letra sem música
Sonho torpe
Céu marrom
Aurora sem luz
Luz sem calor
Calor solitário
Solidão amarga
Amargura insistente
Insistência em amar
Amar quem me esquece
Esquecer a quem amo
Amo sozinho
Sozinho e sem calor
Calor amargo da solidão.

Sílvio Sebastião

Ao som de 'You're in my heart' - Rod Stewart
Degustando Suco de Uva
Imagem: Joel Calheiros
Posted by Picasa

domingo, 26 de fevereiro de 2006

Freud na Sapucaí

Crônica

Cansado de teorias simplistas, retiro-me para minha casca de noz. Um universo muito restrito, pode ser. Mas confesso que o domínio público me assusta. Lamento por Freud, coitado. Fora assimilado pelo povo. Quase tudo para ele estava atrelado à sexualidade. Fora simplista e o povo gostou.


Não se tem dificuldade, principalmente em época de carnaval, em se encontrar seguidores de Sigmund. Estão espalhados por toda parte. Você entra num elevador e é indagado: "e aí, vai brincar muito no carnaval?" Não precisa ser um bom conhecedor de psicanálise, muito menos da premissa do seu pai, para entender subconscientemente o "brincar" dos freudianos. Queria poder brincar de fato, sem ser psicanalisado. Ficaria assustado? Sim. Possivelmente olhando para todos os lados com medo de tomar uma garrafada na cabeça cheia de água ou urina,ou até mesmo tomar um soco letal. Diante de tudo isso, ficaria sim assustado. Mas não pensem que estou, senão com um asco tremendo da vulgarização da teoria freudiana.

Lamento pelo povo brasileiro, coitado. Contenta-se com frases fecundadas pelo ócio elaborativo que até Nossa Senhora duvida das intenções. "O Brasil é o país do futebol!", "O Brasil é o país do carnaval!", "A única coisa ruim no Brasil é a fome!"....e por aí segue o simpósio da massa. Mas agora é a vez do carnaval! Cortemos verba do pão, pois o circo está em alta! Mais uma vez lamento. Desta feita, até me atrevo a lembrar aos hedonistas que a "comida" (estou sendo contaminado pelo povo. Até aqui as aspas estão me protegendo da vulgarização) pode acabar em duas semanas.

Um indelével sentimento está a me afligir. Trata-se de um desgaste percussiante; dizem que é uma música. Não sei bem o que é, confesso. Estão todos de cócoras à beira de uma garrafa, outros mandando um tal Serginho ir não sei aonde, um dizendo que não sabe fazer poesia e manda todos "se fuderem", e uma, mais exaltada, "quebrando o barraco". Deve ser mais sigmund freudianos. Só pode ser, soa tão pueril! E pior: o volume alto e ressonante na avenida está quebrando minha casca de noz ...

Quebrou! Agora estou no meio do povo, no carnaval, na avenida,....totalmente contaminado. Tenho que gritar, senão, não serei ouvido. Mas gritar o que? Só me resta ser simplista: USE CAMISINHA!

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Samba da Benção' - Vinícius e Moraes
Degustando Água de Côco
Posted by Picasa Imagem: 'Carnaval Dancer' - Anne Karing

sábado, 25 de fevereiro de 2006

Bula do amor ou dos amores

Discussão

Vamos falar um pouco da filologia do amor?

E por quê tal proposta?

É que vejo que até o amor nós já não sabemos mais o que é!

Assim, todos os dias, vejo as almas confundidas, desejando ter para dar o que nelas não existe, e, também, chamando de amor aquilo que é ainda instinto primal, e não o desenvolvimento do ser, até chegar ao verdadeiro amor.

Muita gente me escreve querendo soluções para seus problemas de amor. Eu, porém, sou apenas mais um irmão andando e aprendendo, no caminho, o que seja "o Caminho sobremodo excelente" do amor. Assim, não é um especialista quem fala, mas apenas um homem que também que ser maduro em seu amor.

Aliás, quem acha que já é maduro no amor?

Ora, este tal está morrendo e não sabe, visto que o amor jamais acaba também no que tem a nos ensinar!

Vamos, então, o mais pedagogicamente possível, dar uma olhada nessa "Bula do Amor". Quem sabe isto possa nos ajudar a todos!?

No amor partimos em um movimento ascendente, indo-se da libido, para a paixão, e para a compaixão. É a "mesma energia psicológica" que ascende e nos atravessa, indo do básico e infantil ao que é adulto e maduro.

Assim, muitas vezes, os problemas sexuais surgem em razão de se misturar as formas de amor.

Vejamos os níveis do amor:

Amor Pornéia (porneia)

Em grego, há diferentes palavras para estas etapas do amor. A primeira etapa é Pornéia (porneia), o amor voraz e devorador, o amor do bebê por sua mãe, o amor de consumo. ?Amo o outro, portanto como-o?. Este amor é muito lindo em um bebê. Mas é bem menos bonito em um senhor de 60 anos que só quer "comer e devorar". A Pornéia é uma forma de amor que precisa ser respeitada e que ocorre em um momento de nossa evolução. Para crescer, temos necessidade de nos nutrirmos do outro. Mas fazer disso um "comer o outro" como se fosse "comida", faz mal às referencias de outras formas de amar, as quais, só crescem em nós se "pornéia" ficar em seu lugar: no chupão do peito da mãe ou da mulher que se ama, sem consumo carnívoro, pois é com afeto.

Amor Pathé e Manía ( Pate, Mania)

As palavras seguintes, em grego, são Pathé e Manía (Pate, Mania).Outro dia li Ovídio em seu livro "A arte de amar" (está nas livrarias dos aeroportos), que de fato é a arte de evitar tornar-se amoroso. Isto porque para os antigos gregos e romanos, estar amoroso era uma doença. Sim, era uma possessão. "A arte de amar" de Ovídio é a arte de evitar cair neste estado de possessão psicológica; o que, na radicalidade proposta por ele, cria mais cinismo do que defesa contra os surtos de loucura apaixonada...!

Traduzimos a palavra Pathé por paixão e ela está na origem da palavra patologia. É interessante verificar que, na tradição grega, algumas formas de amor são formas de possessão, de Manía, como por exemplo: o maníaco-depressivo. A paixão faz-nos passar por estados extraordinários, maravilhosos, mas pode ser também um inferno, pelo ciúme que desencadeia.

Este amor não é de consumo, não é um amor devorador, mas é um amor de posse, de dependência e também, uma necessidade. Aqui, o amor não é um dom, é uma necessidade, uma solicitação. Há casos em que uma pessoa está namorando ou casada , mas sente a necessidade de uma outra pessoa, e até sente ciúmes se vê tal pessoa com alguém. E até comenta que "ama tal pessoa". Às vezes, o que chamamos de amor não é senão "posse", "dependência" e "necessidade". Este modo de "amor" pode gerar sofrimentos que podem até mesmo levar a pessoa a matar. Sim, assim conforme diz a voz do povo: "Matou por amor".

Na cultura ocidental, pelo número de canções e de romances tristes que ouvimos e lemos, temos a impressão de que não existe amor feliz. Todas as histórias de amor são, ao mesmo tempo, histórias apaixonadas, possessivas, ciumentas e, freqüentemente, dolorosas. É que Pathé se transforma em Manía com muita facilidade e, por vezes, enlouquece quem já é predisposto ao vício em razão da carência.

Amor Éros ( Eros)

Depois vem a palavra Éros ( Eros), que expressa não somente um amor de solicitação e necessidade, mas também de desejo. Éros era um jovem deus na mitologia grega. É ele que dá asas ao nosso "falo", ao que em nós é "fálico", à nossa necessidade e a nossa libido. Éros é já uma forma muito mais evoluída de amor. Não estamos mais no consumo que caracteriza a criança e o adolescente, mas começamos a viver uma sexualidade adulta. Um amor de uma pessoa por outra, desejando-a e maravilhando-se com ela.

Éros é o amor da beleza. Éros é o sexo alado, o sexo que encontra suas asas. Todavia, para os cristãos, a palavra Éros ficou muito próxima da palavra Pornéia. E isto tem gerado muitos problemas de natureza psicológica.

Amor Storgué

A palavra Storgué pode ser traduzida como ternura e harmonia, as quais são belas formas de falar de amor. É uma maneira de Harmonizar o seu ser com o ser do outro. Sim, porque os problemas entre os seres humanos são também problemas de "ritmo". É uma experiência muito bela harmonizar sua respiração (seu Sopro), com a respiração do outro. Quando o amor atinge Storgué, em geral, ele está chegando à maturidade e à plenitude.

Esta harmonia entre duas pessoas tem como conseqüência uma cura para o ser. Por isto os antigos chineses diziam que da harmonia entre o homem e a mulher depende a harmonia do universo. Neste ponto não estamos mais ao nível da necessidade, da paixão, nem mesmo do desejo. Estamos no mundo da harmonia e, pouco a pouco, nos aproximamos da compaixão.

Amor Philia ( Filia)

Chegamos à palavra Philia ( Filia) que é muito usada pelos cristãos. Daí vem o nome da cidade da Ásia menor: Filadélfia; cujo nome tem muito significado para os cristãos por ser o nome de uma das "igrejas do Apocalipse", e, também, por ser a palavra da "fraternidade". Esta palavra pode ser encontrada na Filo-sofia (amor à sabedoria) e em Filo-antropia (amor aos seres humanos). Em grego, distinguem-se diferentes formas de Philia.

A Philia Physiqué é o amor parental, a amizade entre parentes. O amor da mãe ou do pai pela sua criança e vice-versa. É, igualmente, o amor de irmãos. Este , às vezes, é um amor difícil, porque a inveja, a concorrência muitas vezes o destrói. Mas como alguém já disse: "...um irmão é um amigo que a natureza nos dá". Esta é uma forma de relação muito preciosa e que deve ser mantida a todo custo; isto se não houver manipulação e tentativa de abuso e seqüestro emocional.

A Philia Zeiniqué é o amor da hospitalidade, o respeito aos outros, o respeito por aqueles a quem se recebe e acolhe. Temos aqui uma qualidade de relacionamento que é diferente das relações familiares. Não há a mesma familiaridade, mas pode haver a mesma profundidade e pode mesmo ser até mais profundo do que o que acontece entre irmãos de sangue. Podemos ter amigos com quem temos relações mais íntimas que com nossos irmãos, irmãs e pais.

A Philia Etairiqué é o verdadeiro amor-amizade entre dois Egos, duas pessoas. É o amor do dar e do receber, uma relação de confiança, ajuda, parceira. E como ensinam os livros de Provérbios e Eclesiastes, aquele que tem um amigo é mais rico que aquele que tem um reino. Porque podemos viver com este amigo o que temos de mais humano. Esta é a riqueza!

A Philia Erotiqué é também uma amizade, um amor com respeito, um amor que respeita a liberdade do outro. É uma espécie de amizade-amorosa. Não é muito fácil de entender porque não é paixão, não é dependência, mas há uma qualidade de ternura, de harmonia, de grande respeito e atração que faz dela uma amizade mais profunda. Aristóteles dizia: "Um Homem e uma Mulher podem se unir ao sentirem qualquer tipo de amor, mas só permanecerão unidos se a Philia Erotiqué for o sentimento mais profundo que um tem pelo outro".

Às vezes misturamos as formas de amor. Quando Philia Physiqué se mistura com a Philia Erotiqué, há uma forma de incesto.

Quando Philia Zeiniqué se confunde com Philia Erotiqué esquece-se o respeito, à distância que se deve àquele a quem se recebe como um hóspede. Não podemos exigir do hospede uma intimidade que supõe um conhecimento maior, com partilha do seu espírito e do seu psiquismo, ou mesmo com manifestações ao nível do corpo.

Amor Énnoia

Há ainda outras palavras para designar o amor. A palavra Énnoia quer dizer dom, a doação e, às vezes, o devotamento. É uma qualidade de amor que manifesta uma grande generosidade do coração. É a libido, a energia vital que se manifesta ao nível do coração como desejo de se dar.

Amor Kháris

Kháris significa gratidão. Ter gratidão pela existência do outro. Agradecer ao outro porque ele existe e maravilhar-se pela sua existência. É um grande presente ser amado. Mas nós esquecemos desse amor que é pura gratidão, e, assim, faltamos com a gratidão. Vivemos na ingratidão. Somos como grandes bebês a quem tudo é devido, tudo é normal.

Amor Ágape (Agape)

Finalmente, chegamos à última palavra do Vocabulário grego, Ágape (Agape). Podemos traduzi-la como a graça ou gratuidade. Ambas têm a mesma etimologia. É esta gratuidade que faz a gente "amar por nada", por causa de coisa alguma e sem explicação. É porque é!

Não sei se você já viveu a experiência de amar sem Ter nada em particular para amar na pessoa. Este "amar" não parte de nossa "carência", mas sim de nossa "plenitude". Sim, esse "amar" não é fruto de nossa sede, mas sim é filho de nossa fonte cheia e que não cessa de brotar...


Amor e Relação Sexual


Como vimos a palavra amor tem sentidos bem diferentes. Não é preciso opô-los uns aos outros. Há uma criança que tem fome e sede, um adolescente que pede para ser reconhecido, nomeado, chamado... etc. Isto porque não podemos esquecer o desejo que nos habita. Somos igualmente capazes de harmonia e de ternura, e seria uma lástima nos privarmos da amizade, da troca, do partilhar, da capacidade de doação e de perdão que habita em nós. E devemos fazer também a experiência do que há de graça, de gratidão e de gratuidade em nós, pois, se assim fizermos, ganhamos a experiência do amor de Deus em nosso interior.

Somos convidados a introduzir em nossa libido, em nossas experiências sexuais, em nossas paixões devoradoras, em nosso ciúme possessivo, a compaixão.

Introduzir a graça Ágape. Fazer isso não só pela nossa felicidade pessoal, mas também pela cura de nossa sexualidade. Se vivermos no nível da harmonia e ternura, alguma coisa se relaxará em nossa libido. As relações sexuais vão mudar. E o sexo não terá mais a mesma importância "famigerada". Nesse caso, o importante será a relação do meu ser com o outro ser.

O amor é mistério. Por isto não conhecemos todas as suas matizes por livro, mas apenas vivendo. Só a experiência do amor nos permitirá visitar todas as nuances do amor. Assim, a relação sexual se tornará um local de evocação de Deus também. Porque o sexo é o local onde se encarna a vida. Por isso é algo sagrado, e não sujo; a menos que quem o pratique o faça a partir dos amores que não amam..

Infelizmente em nossa época o sexo tem se tornado um instrumento do mal e do pecado para muitos. Mas na sua origem ele é algo santo se é acompanhado por ternura e por amor que ama. Sim, se é acompanhado pelo coração e se o coração é acompanhado pela sabedoria. Neste instante o sexo se torna um ato profundamente humano e divino. Neste instante o sexo passa a ser o local da Aliança do homem com mulher e, vice-versa; e dos homens com Deus.

Estou escrevendo isto como quem escreve uma "bula" apenas para ver se, pela simplicidade, as pessoas discernem diferenciações tão importantes quanto às acima feitas; posto que é por misturá-las e não entendê-las que sofremos e fazemos sofrer sem necessidade.

Também, vendo tais níveis de amor, dá pra ver que a maioria de nós ainda está na fase primária: apenas querendo "devorar".

O objetivo de todo amor é crescer até chegar a ser Graça!

No caso do homem e da mulher, isto não mata Eros, mas apenas o fortalece.

No livro de Cantares de Salomão a mulher é amada como "querida minha, pomba minha, imaculada minha e minha irmã". Ou seja: todas as formas de amar estão ali equilibradas!

Leia tudo com calma, olhe para o seu próprio coração, e, assim, discirna seus próprios amores; posto que nada é tão opressivo quanto jurar amar com um tipo de amor que não existe em nós; especialmente quando se trata de relacionamento conjugal.

Desse modo, não fale jamais do amor que não existe em você, e não o proponha como relacionamento se ele não cresceu em sua alma ainda.

Evitar prometer amores que não existem em nós é, no mínimo, sabedoria e saúde para a alma. Pois nada é mais opressivo do que amar sem amor, ou sem a forma de amor demandada.

Pense nisto!

Nele, Que é Amor, todo Amor, e, por isto, é seu Criador e Inventor em nós,

Caio Fábio



Ao som de 'Amor I Love You' - Marisa Monte
Degustando Café Preto com Canela
Posted by PicasaImagem: 'O Nascimento de Vênus' - Sandro Botticelli

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

Vivendo e amando

Poesia


E a vida é assim mesmo...
O erro acontece
Para que o acerto seja louvado,
Os obstáculos existem para que possamos superá-los e crescer,
As derrotas vêm para nos fazer valorizar as vitórias -- que também são muitas.
E eu e você, não obstante,
Seguimos nesse ritmo...
Quando precisa, estou contigo sempre.
Quando preciso, você está sempre ao meu lado dando-me forças
para caminhar quando meus passos se mostram cansados.
Por sermos assim, quero sempre segurar a sua mão
E poder lhe levantar quando se achar caída
Consolar-lhe quando seu espírito se encontrar abatido
Confortar o seu coração se sua alma estiver chorando
Compartilhar com você o meu vigor e gastá-lo ao seu favor
Compartilhar minha alegria e a sinceridade do meu sorriso
Acreditar nos seus sonhos e cultivar o privilégio de sonharmos juntos
Transmitir-lhe perseverança e segurança
para que os sonhos (todos) possamos realizar
Porque a vida é assim mesmo e seguimos nesse ritmo...
Nascendo, renascendo e vivendo.
Vivendo consoante o amor que pulsa em nossos átrios.
E o nosso é único, singular
-- intangível à compreensão de simples mortais.
Mas vivido e vivenciado na sua forma mais sublime e plena
Que vai sendo lapidado a cada cena
E, cada uma, é uma cena real de amor.
Pois sem esse nosso amor, nossa vida não existiria
E assim continuamos aprendendo a viver e amar cada vez mais
Pois o viver só se aprende vivendo
E o "amar se aprende amando".

Ismael Alexandrino


Degustando Chá de Camomila
Ao som de 'Esquadros' - Adriana Calcanhoto
Posted by PicasaImagem: 'Casal Alexandrino no Castelo de Brennand' - Ismael Alexandrino

domingo, 19 de fevereiro de 2006

As chaves da sua vida

Conto

Alfredo nunca foi lá de acreditar nessas coisas de cigano, cartas, tarô e leituras de mão não. Sempre foi muito racional, o que era para acontecer acontecia mesmo e pronto. Mas, uma vez, angustiado por andar tão triste, decidiu procurar um oráculo para ver se conseguia alguma ajuda para melhorar desse estado.

Chegando ao oráculo ele disse:
-- Queria saber por que eu ando tão triste e angustiado e como eu posso fazer para não sentir mais nada disso.

O oráculo respondeu dizendo:
-- Eu não estou aqui para dar respostas. Eu estou aqui para fazer você perceber o que está errado com você.

O oráculo então se levantou pedindo que Alfredo fizesse o mesmo.
-- Eu tenho aqui um molho de chaves. Cada uma abre uma dessas cinco portas. Vá abrindo-as na seqüência até a última e observe e sinta bem o que há dentro de cada uma.

Alfredo então abriu a primeira porta. Parou ali mesmo observando o que se passava ali dentro. Era como se fosse uma projeção de um filme onde estavam seus pais conversando. Eles diziam:
-- É difícil lidar com Alfredo. Ele vive mentindo pra gente. Nunca conta a verdade, sempre só pensa nele, é muito egoísta. Simplesmente não dá para conversar com ele.

Triste por ver tudo aquilo e sabendo que aquilo tinha fundamento, Alfredo fechou aquela porta e foi à porta seguinte. Quando abriu-a viu novamente uma projeção de imagens, como que um filme, só que dessa vez mostrava seus amigos conversando. Eles diziam:
-- Rapaz, num sou muito chegado no Alfredo não. O cara é muito invejoso, acha que tudo dele é o melhor e tal. Sem falar que é todo orgulhoso, se acha sempre o tal, que os outros é que deviam sempre ir procurar ele... Gosto disso não.

Outra vez chateado por escutar o que os outros falavam dele, Alfredo se dirigiu à terceira porta. Novamente a abriu e observou a projeção que estava passando. Era uma mistura de cenas com amigos e com sua família. Só que, diferente das outras portas, nessa Alfredo encontrou apenas projeções de cenas boas, felizes. Eram cenas em que Alfredo realmente estava sendo amigo, companheiro, verdadeiro e carinhoso; muitas vezes ele perdoava os outros até, não tinha aquele orgulho com que ele estava acostumado a se armar não. Eram todas cenas que, enfim, mostrava Alfredo em harmonia, feliz com ele mesmo e com sua vida.

Enxugando ainda algumas lágrimas enquanto esboçava já um sorriso tímido, Alfredo fechou a porta e se dirigiu à quarta e última porta. Procurou a chave e abriu-a. Para sua surpresa não havia ali naquela sala nenhuma projeção de imagens. Era apenas uma ante-sala com uma saída para a rua. Estranhando aquele ambiente, Alfredo passou a vista procurando encontrar alguma coisa. Viu aos seus pés uma carta. Abriu-a e leu-a. Dizia:

'Alfredo:

Como disse no início, não iria lhe dar nenhuma resposta, mas apenas fazer você perceber o que estava errado com você. Tudo aquilo que você viu aqui aconteceu mesmo, tanto as conversas de seus pais como a de seus amigos. Filmei tudinho para que você pudesse ver aquilo que você plantou e raciocinasse sobre o que colheu com cada momento desses, tanto da primeira como da segunda porta. Mas também fiz questão de filmar passagens boas que você viveu fruto das coisas boas que você plantou em cada momento de felicidade como esses que você viu na terceira porta. Deixo as chaves aí com você, cabe a você agora escolher quais portas você quer abrir para a sua vida. Sim, a saída está aí na sua frente, já terminou nossa sessão e acho que você encontrou resposta para as questões que você veio. Agora é com você!
Ass. Gabriel, seu Anjo da Guarda'


Ricardo Gurgel


Ao som de 'Crash in to me' - Dave Matthew Band
Degustando Suco de Uva
Posted by PicasaImagem: 'Oráculo' - Luis Ayala

domingo, 12 de fevereiro de 2006

Amante macabra

Poesia


Dulcíssima morte, liberdade-mor,
Em teu ornamentado sepulcro caiado
Repouso serenamente minha eternidade.
Encontro-te gélido e pálido,
Em teu peito, enfim, aqueço-me,
Depois de tantos calafrios
Que me provocaste.
Sinto gozo neste teu abraço
Dotado de ciúme ardente
Jurando nunca me abandonar.
Na intimidade não te mostras arredia;
Dá provas de fidelidade incondicional.
Comete injustiça quem te maldiz,
Pois és remédios para muitas,
-- senão a maioria --,
Das amarguras que a vida
-- aquela vadia -- me causou.
Em dias hodiernos, és o meu refúgio,
Em ti posso acalentar meu pranto.
Pranto este que a vida
-- aquela vadia desvairada -- me causou.
Abandonou-me em lágrimas no meio do caminho
E em teus braços, ó morte,
Para sempre me entregou.

Ismael Alexandrino

Ao som de 'À morte' - Nicole Borger
Degustando Café Expresso Platinum
Posted by PicasaImagem: 'La morte' - Seneca

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

Julieta

Conto


Em março de 2004, caiu do céu o que eu tanto queria - um cachorro. Uma cadelinha, mais precisamente. Maria Julieta, a mais linda e alegre de todas!

Há pouco mais de oito semanas, Julieta começou a se comportar diferente. Seu apetite dobrou , seu abdome se distendeu, suas mamas aumentaram de volume. Ficou apática e de certa forma mais dócil.

Ontem, no final da tarde, Juju começou a ganir, ficou inquieta. Parecia sentir muita dor. Foi então que entendi que sua hora havia chegado. Deitou-se em baixo da mesa e fez de lá sua maternidade. Foram quatro filhotinhos, todos eram iguais à mãe. Eu assisti a tudo emocionada e vi Julieta cortar o cordão umbilical com os próprios dentes. Foi inesquecível!

Parir dá muito trabalho...

Rana Lira


Ao som de 'Aquarela' - Toquinho
Degustando Leite com Chocolate
Posted by PicasaImagem: 'De olho em ti' - Hugo Ticono