Café Alexandrino - O lado aromático da vida

segunda-feira, 7 de agosto de 2006

Elegância

Crônica


Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara: a elegância no comportamento.

É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza. É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto. É uma elegância desobrigada. É possível detectá-la nas pessoas que elogiam bem mais do que criticam. Nas pessoas que escutam mais do que falam. E quando falam, passam longe das fofocas, das pequenas maldades ampliadas no boca a boca. É possível detectá-las nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se dirigir afrentistas. Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros. É possível detectá-las em pessoas pontuais.

Elegante é quem demonstra ter interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda a secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não. Oferecer flores é sempre muito elegante. É elegante não ficar espaçoso demais. É elegante você fazer algo por alguém, e este alguém jamais saber que você teve que se arrebentar para o fazer. É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao outro. É muito elegante não falar em dinheiro em bate-papos informais. É elegante retribuir carinho e solidariedade. É elegante o silêncio, diante de uma rejeição.

Sobrenome, jóias e nariz empinado não substituem a elegância do gesto. Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, a estar nele de forma não arrogante. É elegante a gentileza... atitudes gentis falam mais que mil imagens... Abrir a porta para alguém... é muito elegante. Dar o lugar para alguém sentar... é muito elegante. Sorrir, é sempre muito elegante e faz um bem danado para a alma. Oferecer ajuda... é muito elegante. Olhar nos olhos ao conversar, é essencialmente elegante. Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural pela observação, mas tentar imitá-la é improdutivo. A saída é desenvolver em sí mesmo a arte de conviver, que independe de status social: é só pedir licencinha para o nosso lado brucutu, que acha que "com amigo não temos que ter estas frescuras". Se os amigos não merecem uma certa cordialidade, os inimigos é que não irão desfrutá-la.

Educação enferruja por falta de uso. E, detalhe: não é frescura.

Toulouse Lautrec


Ao som de 'Gentileza' - Adriana Calcanhoto
Degustando Café Preto com Raspas de Canela
Imagem: 'En Canot sur l'Epte' - Claude Monet

7 comentários:

Daniel D. S. Feres disse...

Olá Ismael, eu recebi a indicação de seu espaço pela Iza e desde então tenho visitado seu blog. Admiro a forma criativa como o fez e o conteudo de suas postagens.
Daniel Feres.

Anônimo disse...

Adorei o texto!
Parabéns!!!

Anônimo disse...

Interessante seu blog. Caí aqui de para-quedas quando buscava por pessoas que possuíssem interesse pela obra de C.S Lewis: Crônicas de Nárnia.

Parabéns pelo post. Acho que tenho que "ralar" muito para me tornar elegante. Porque infelizmente a autenticidade atrapalha um pouco a arte de se ser elegante. Não sei se existe maneira de uma pessoa ser autêntica sem ser ocasionalmente deselegante...

Não sei, talvez minha visão de elegância seja meio diferente da tua. Geralmente a imagem que tenho de pessoas elegantes, são de pessoas arrogantes, hipócritas, que fazem elogios falsos, que dão beijinhos e tapinhas nas costas, etc...

Eu sinceramente, detesto essa elegância toda... se o termo elegante se referir a isso que penso... acho que não gosto muito e nunca irei ser. Pois não consigo sorrir para quem não gosto.

Bem, de todo modo é assunto para refletir.

Até mais,

Simone

Anônimo disse...

Muito interessante essa crônica! As entrelinhas talvez falem mais ainda. Certa vez li que, diante de uma arrogância, não há nada melhor que a irreverência. Isso também deve ser elegante, não?
Quanto ao comentário da leitora Simone, pertinente a observação de que, não raro, tal elegância se reveste de hipocrisia ou mesmo falsidade. O liame que as separa é tênue. É bom sempre ficar de olhos bem abertos. De qualquer forma, creio não ser a esse tipo de (pseudo) elegância que se referiu o cronista. Assim, só me resta parabenizá-lo. Sucesso!


Um abraço.

Yuri Monteiro Brandão - YMB - AL.
Blog Cultural Textos & Contextos.
yurimbrandao.blog.uol.com.br ou yurimbrandao.zip.net

Anônimo disse...

Desculpe invadir seu espaço, Ismael, mas é que eu gostei do seu blog e queria indicar o meu pra você tb.
Aumente o som e visite a sala onde estão guardados os PAPIROS DE ALEXANDRIA:
Música, literatura e muito pensamento!
http://papiros.zip.net
Obs. Se quiser, podemos colocar em nossos blogs o site de cada um. Abraços

Anônimo disse...

Elegância é assunto raro. Que pena! Nada mais a declarar pois vocÊ o fez como mestre. Somente o fato de escrever sobre já demonstra a elegância por si.
Aqui tudo expira elegância a começar por vc...

bjs

boa semana

Anônimo disse...

That's a great story. Waiting for more. » » »