Café Alexandrino - O lado aromático da vida

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Cante-me

Poesia

Por obséquio,
Cante-me algo
Que me fale
De amor.
De preferência,
-- claro --,
Do teu amor,
Do teu amor por mim
De todo amor teu por mim.
Por mim, e por mais ninguém.

Faça-me o favor
De cantar em sol maior,
Mas me dê recursos,
Dê-me teus relativos altissonantes,
Tua escala diatônica
Para que, mesmo em noite enluarada,
Eu possa, sem dó natural,
Arpejá-la com destreza
E alcançar o teu alto tom
Tal qual o céu
No teu palatino véu.

Faça-me a gentileza
De aquecer minhas
Róseas pregas vocais
Com tua língua ardente,
Ansiosa para ser beijada,
Ensaiada,
Ensinada,
Domada,
Amada.
Faça-me esta sutil gentileza antes,
Para que eu possa ensaiar contigo
Um singular dueto.

Cante-me,
Pois quero tocá-la!
Tocá-la a duas mãos,
Segurando bem em tua
Cintura esbelta,
Deslizando a ponta
Dos meus dedos
Em tuas finas cordas
Afinadas num corpo esguio,
De acústica apreciável
Em ambiente fechado
E a dois,
Antes e depois.

Componha-me em ti...
Isso! Faça-me tua música solene,
Erudita,
Envolvente,
Vibrante...
Vibrante...
Vibrante...

Cante-me em teu ritmo,
No ritmo do fôlego
Que contém teu peito:
Ora devagar,
Piano, pianíssimo,
Ora rápido,
Com duas colcheias de amor por compasso.
Com direito a pausa,
Infle teus dois peitinhos macios
O máximo que puder
E, com profundo gozo,
Cante.

Cante-me!...cante-me...cante-me.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Intuição' - Oswaldo Montenegro
Degustando Capuccino de Chocolate com Chantilly de Menta
Imagem: 'Imagem'- Marta Brito Oliveira