Café Alexandrino - O lado aromático da vida

sábado, 5 de abril de 2008

Quando secar a grama

Crônica


O céu estava bem mais alegre que nos outros dias. Não havia nuvens densas, nem mesmo aqueles algodões bem branquinhos e esparsos. Mas ainda assim se precisava de um bom agasalho para aquecer o vento frio e seco. De luvas, gorro, cachecol e sobre-tudo caminhei até a estação de metrô como geralmente faço todas as manhãs.

Notei as pessoas mais alegres, empolgadas, e, muitas delas, bem menos agasalhadas do que eu. Desci em frente ao hospital, cumprindo as obrigações de rotina. Uma reunião geral com o corpo clínico, visita aos pacientes, duas cirurgias.

Mas o dia, sem dúvida, era especial. Nada de mirabolante, nenhuma data comemorativa. Mas especial. E muito, para ser bem sincero. Por quê? O amigo leitor deve estar se perguntando intrigado. Até me dá certo receio em revelar, pelo simples fato de ser algo bem comum, e o estimado leitor ficar chateado comigo. E se uma coisa que eu não gosto é contrariar quem me lê. Sim, eu valorizo quem me lê, sempre valorizei. E só escrevo pensando nesses que toleram minhas singelas palavras.

Acho que chegou a hora de eu revelar a “cereja do bolo” que coloria o dia. Ou melhor, aquecia. É, aquecia. Isso mesmo, meus queridos, aquecia. O sol, nosso astro principal da Via Láctea, resolvera aparecer! Estava lá reluzindo a todo vapor, pendurado no céu, bem bonitão, um tanto quanto solitário – é verdade –, mas cheio de charme. Não sei se você já parou para pensar na importância do sol. Não, não..., ele não serve apenas para bronzear donzelas e saradões nas praias de Copacabana, Hawai, Malibu, Cancun, Taiti. O sol é fonte primária de energia! Sem ele, a vida que nós conhecemos hoje, da forma que a conhecemos, provavelmente não existiria. Ele, como fonte primária, nutri as plantas, toda e qualquer sorte de vegetal, através da fotossíntese. E os vegetais servem de alimento para os animais, inclusive o animal-homem. E os animais (que não o homem, claro!) que se alimentam dos vegetais também servem de alimento para o homem. Mas tudo começou no sol. “The first!”, “il primo”, “el primero”, o primeiro!

Caminhei até o Parco Sempione, um majestoso parque que fica atrás do Castelo Sforzesco, em Milão. Um mimo aos olhos, um oásis, um verdadeiro convite à contemplação. O sol secara a grama da umidade costumeira, e uma multidão de jovens, velhos e crianças estavam ali, sentados em roda, outros deitados, conversando, se divertindo, num tremendo bem-estar.

Não hesitei: tirei meu casaco e o fiz de travesseiro. Fiquei longo tempo lendo bem tranqüilo um livro que havia ganhado de uma cirurgiã plástica no Brasil. Depois, meus olhos, cansados de ler, quiseram dormir. E eu não pude contrariá-los ali naquele lugar que só havia satisfação. Dormi longamente naquela grama macia, sendo acariciado por belos raios de sol que passavam por entre as folhas da árvore.

Estou certo de que em praticamente todas as cidades do mundo existe uma praça com grama verdinha, flores, e uma fonte que fica bem mais próximo de onde estamos do que se pode imaginar. Ou mesmo um parque magnífico como este que me serviu de leito. Se ainda nunca teve uma oportunidade destas, experimente sair da frente da TV ou dos corredores do shopping center da próxima vez que o sol aparecer e, enxugando o orvalho, fizer secar a grama.

Ismael Alexandrino, Milão


Ao som de 'A Summer Thing' - Zoot Sims & Bucky Pizzarelli
Degustando Chocolate Quente
Imagem:'Namorando no Paraíso' - Ismael Alexandrino

2 comentários:

Anônimo disse...

Ai ai ai, quem não ia querer estar no seu lugar?




adriana34_ssp@hotmail.com

Anônimo disse...

Estava procurando umas imagens para um blog que eu e amigas estamos iniciando. E encontrei seu blog. Achei muito interessante, porque tivemos a idéia de fazer um site de cultura e unimos a idéia de cultura e do café. Nosso endereço é: www.ocafecultural.blogspot.com
Tancy