Café Alexandrino - O lado aromático da vida

domingo, 19 de fevereiro de 2006

As chaves da sua vida

Conto

Alfredo nunca foi lá de acreditar nessas coisas de cigano, cartas, tarô e leituras de mão não. Sempre foi muito racional, o que era para acontecer acontecia mesmo e pronto. Mas, uma vez, angustiado por andar tão triste, decidiu procurar um oráculo para ver se conseguia alguma ajuda para melhorar desse estado.

Chegando ao oráculo ele disse:
-- Queria saber por que eu ando tão triste e angustiado e como eu posso fazer para não sentir mais nada disso.

O oráculo respondeu dizendo:
-- Eu não estou aqui para dar respostas. Eu estou aqui para fazer você perceber o que está errado com você.

O oráculo então se levantou pedindo que Alfredo fizesse o mesmo.
-- Eu tenho aqui um molho de chaves. Cada uma abre uma dessas cinco portas. Vá abrindo-as na seqüência até a última e observe e sinta bem o que há dentro de cada uma.

Alfredo então abriu a primeira porta. Parou ali mesmo observando o que se passava ali dentro. Era como se fosse uma projeção de um filme onde estavam seus pais conversando. Eles diziam:
-- É difícil lidar com Alfredo. Ele vive mentindo pra gente. Nunca conta a verdade, sempre só pensa nele, é muito egoísta. Simplesmente não dá para conversar com ele.

Triste por ver tudo aquilo e sabendo que aquilo tinha fundamento, Alfredo fechou aquela porta e foi à porta seguinte. Quando abriu-a viu novamente uma projeção de imagens, como que um filme, só que dessa vez mostrava seus amigos conversando. Eles diziam:
-- Rapaz, num sou muito chegado no Alfredo não. O cara é muito invejoso, acha que tudo dele é o melhor e tal. Sem falar que é todo orgulhoso, se acha sempre o tal, que os outros é que deviam sempre ir procurar ele... Gosto disso não.

Outra vez chateado por escutar o que os outros falavam dele, Alfredo se dirigiu à terceira porta. Novamente a abriu e observou a projeção que estava passando. Era uma mistura de cenas com amigos e com sua família. Só que, diferente das outras portas, nessa Alfredo encontrou apenas projeções de cenas boas, felizes. Eram cenas em que Alfredo realmente estava sendo amigo, companheiro, verdadeiro e carinhoso; muitas vezes ele perdoava os outros até, não tinha aquele orgulho com que ele estava acostumado a se armar não. Eram todas cenas que, enfim, mostrava Alfredo em harmonia, feliz com ele mesmo e com sua vida.

Enxugando ainda algumas lágrimas enquanto esboçava já um sorriso tímido, Alfredo fechou a porta e se dirigiu à quarta e última porta. Procurou a chave e abriu-a. Para sua surpresa não havia ali naquela sala nenhuma projeção de imagens. Era apenas uma ante-sala com uma saída para a rua. Estranhando aquele ambiente, Alfredo passou a vista procurando encontrar alguma coisa. Viu aos seus pés uma carta. Abriu-a e leu-a. Dizia:

'Alfredo:

Como disse no início, não iria lhe dar nenhuma resposta, mas apenas fazer você perceber o que estava errado com você. Tudo aquilo que você viu aqui aconteceu mesmo, tanto as conversas de seus pais como a de seus amigos. Filmei tudinho para que você pudesse ver aquilo que você plantou e raciocinasse sobre o que colheu com cada momento desses, tanto da primeira como da segunda porta. Mas também fiz questão de filmar passagens boas que você viveu fruto das coisas boas que você plantou em cada momento de felicidade como esses que você viu na terceira porta. Deixo as chaves aí com você, cabe a você agora escolher quais portas você quer abrir para a sua vida. Sim, a saída está aí na sua frente, já terminou nossa sessão e acho que você encontrou resposta para as questões que você veio. Agora é com você!
Ass. Gabriel, seu Anjo da Guarda'


Ricardo Gurgel


Ao som de 'Crash in to me' - Dave Matthew Band
Degustando Suco de Uva
Posted by PicasaImagem: 'Oráculo' - Luis Ayala

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