Café Alexandrino - O lado aromático da vida

domingo, 3 de setembro de 2006

Amante

Poesia



Tu só me queres devasso?
Por acaso, é o que almejas?
Queres sugar do meu âmago
Tudo que foi construído
Ao longo de anos e anos
De sonhos e idealizações?
Que lucro terias, Pequena,
Senão a devassidão na noite
E, ao amanhecer, a solidão?

Até quando devasso me queres?
Até escorrer todo desejo
Em gotículas de suor
Por entre teus seios macios?
Até tremular freneticamente
As nádegas em chamas
Com pausas abruptas de calafrios?
Até o último suspiro úmido?

Que te fazes assim?
Por que anseias que eu esteja
Liricamente em baldo, sem verso,
Sem qualquer feição de amor?

Mereces-me, realmente,
Somente pela noite, em profunda escuridão.
Ao acordares, te encontrarás em pele nua
Absorta em traidora lascívia,
Revestida de amargura,
Desprovida de amor,
E abraçada com a solidão.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'A carne é fraca' - Martinho da Vila
Degustando Vinho do Porto com Queijo Gouda
Imagem: 'Amante' - Alfonso Prellwitz

4 comentários:

Anônimo disse...

Finalmente voltando a postar!! Estávamos com saudades de seus belos textos!! Abraço Ricardo Gurgel

Alfonso Prellwitz disse...

Parabéns alexandrino
Gostei de como vc escreve

Alfonso

Pollyana disse...

Não conhecia esse lado tenso e cru da sua poesia... Gostei muitíssimo...

Anônimo disse...

Não comentar positivamente um texto desse jovem poeta é deveras uma arte; luto com meus dedos, que teimam em digitar elogiosamente; sempre sucumbo diante de tanto refinamento, lucidez e leveza poética. Parabéns, meu querido!