Café Alexandrino - O lado aromático da vida

domingo, 9 de março de 2008

Bruma

Miniconto


É tarde. Cedo para se despedir com um adeus. E sofro. Clamo por uma história real. Vivo um sonho. A vida é um inferno? A eternidade é o céu? Talvez o seja; mas o presente também é eterno! E o céu de hoje, onde está? Não o vejo. Densas nuvens tentam assustar-me. Ignoro-as. Ressentidas, molham-me. Lavo-me da fuligem infernal.

É cedo. Tarde demais! Já não a vejo do lado. Corro para a porta trancada. Esqueci-me que a janela não tem trancas. O vento frio certamente aquecera seu corpo mais que eu. Matreiro, levou-a para longe de mim. Ressinto-me. Choro.

Já é hora. Levanto-me indisposto para o trabalho. Prefiro o ócio nostálgico do meu cachimbo. Demito-me por telepatia. Não saio de casa; cansei de viver lá fora. Preciso viver o interior do interior do interior, onde a morte – paciente – dorme. Que horas a morte acordará? Depois das oito, imagino. Mas oito décadas me serão suficientes? Talvez. Apresso-me, no entanto, em dizer que te amo.


Ismael Alexandrino, Milão



Ao som de 'Desafinado' - Tom Jobim

Degustando Capuccino

Imagem:'Cartão Postal - Bruma' - Ismael Alexandrino

Um comentário:

marcos disse...

Como diria Amélie Poulain durante seu Fabuleux destin: "tempos difíceis para os sonhadores". Eis aqui mais um oásis neste deserto....

Abraços ao exemplo Ismael.