Crônica

O Brasil é um país sujo. Não raro, também é fétido. Não me refiro à sujeira de caráter dos gestores e governantes, muito menos à corrupção política impregnada na corja eleita e tida – por eles e pelo povo – como normal, natural, já esperada. Refiro-me à sujeira física, fácil de ser detectada aos olhos de quem vê e ao nariz de quem cheira. É sujo, tão somente, porque tem lixo onde não era para ter. E isso acontece, basicamente, porque o brasileiro tem um peculiar espírito suíno, é muito mal-educado e tem péssimos hábitos.
Semana passada, eu caminhava pela calçada no bairro de Boa Viagem, onde moro em Recife, e quase fui alvejado na cabeça por uma lata de cerveja. Um "distinto" cidadão (sem noção dos deveres de um) dirigindo uma camioneta Grand Cherokee abriu o vidro do seu blindado e, simplesmente, jogou a latinha na calçada. Pelas silhuetas dentro do carro, percebia-se que ele estava com a sua família ou, talvez, a família da amante. O fato é que tinha pelo menos duas crianças dentro do carro vendo aquela cena, aprendendo, na prática, a lição de como ser porco.
Canso de ver cenas como a descrita todo santo dia, de segunda a domingo. Quando as vejo, dá uma imensa vontade de sair correndo atrás de quem fez isso, pegar a latinha e enfiar goela abaixo. Isso, porque sou altamente pacífico. Se eu não fosse, eu corria e enfiava. No entanto, apenas fico na imensa vontade... e no lamento de saber que verei tais cenas repetidas vezes por dia todos os dias. Limpei meus pés do que espirrou em mim, abaixei, peguei a lata e a joguei na cesta de lixo.
O engraçado é que esses mesmos "cidadãos" se acham no direito de reclamar dos governantes pela péssima drenagem da cidade, em que basta uma chuva de cinco minutos para todas as ruas estarem alagadas. Claro! Pois os esgotos estão todos entupidos de latinhas de cerveja, papéis de balinha, copos descartáveis, extratos bancários, bandeirolas, canudinhos, folders de supermercado, cartazes de propaganda, santinhos de políticos, máscaras de fantasias de idiotas.
E no quesito "porcaria de brasileiro" não há distinção de classes. Todas desempenham muito bem. Os ricos jogando restos de bebidas, embalagens de mp3, baterias de celular. Os pobres deixando suas montanhas de estrumes na praia, atrás das árvores, e o peculiar cheiro de urina nas muretas da cidade. E os filhos crescem aprendendo muito bem a lição de como viver sem ver a sujeira ao redor, nem sentir o cheiro dos seus dejetos diários. Cada qual com a sua respectiva renda e embalagem.
Um ensinamento que corrigisse esse mau hábito deveria começar em casa – a famosa educação de berço. Também seria interessante, talvez, estender o ensino nas escolas, promovendo aulas educativas sobre o tema, estimulando os alunos a lerem sobre como aproveitar aquilo que descartamos. Se bem que não seria fácil ter aderência na prática da leitura. Afinal, o exemplo que se tem do representante máximo da nação tupiniquim é a célebre frase "é muito chato ter que ler". Chato é ter um presidente pós-graduado em MOBRAL.
Sempre que me propuseram algo muito grandioso e com soluções mágicas, hesitei. Não que eu não pense grande, não é isso. Ao contrário, sempre me disseram que sonho alto demais, que beiro a utopia. Sonhador eu sou mesmo, admito. Sempre fui. Utópico não. Excetuando os milagres – em que acredito –, sou mais afeiçoado às coisas possíveis de realização no dia-a-dia, individualmente. Não sou daqueles que para aderir a alguma causa precisa haver panelaço, agitação e o povão reunido com bandeiras e gritaria.
Sendo assim, o que proponho é algo bem simples: jogue lixo no lixo, seu porco!
Ismael Alexandrino
Ao som de 'Alagados' - Paralamas do sucesso
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Imagem:'Lixo' - Suellen Maciel