Café Alexandrino - O lado aromático da vida

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Falta calor e sabor na internet

Crônica


A internet ainda me frustra. Claro que hoje minha vida seria mais difícil sem ela. Não restam dúvidas de que ela me traz inúmeras facilidades. No entanto, as coisas fáceis nem sempre são as melhores. E a internet deixa a desejar. Explico, rapidamente, ao caro leitor: sou sinestésico.

Tudo se resume nesta minha confissão. O mundo virtual só consegue estimular minha visão e audição. Infelizmente, os computadores ainda não exalam cheiros, gosto, nem nos sensibiliza o tato de forma apurada. Se bem que já ouvi falar que tão logo alguns computadores vão liberar cheiro a partir de um cartão contendo inúmeras essências, assim como os cartuchos de tinta atuais. Desta forma, quando se entrar, por exemplo, num site de perfumes, sentirá as diversas fragâncias, podendo escolhê-las sem ter de sair de casa. Não diferente, ao entrar num site de cafés, o cheiro dos grãos torrados poderão ser facilmente percebidos. Mas...e o gosto? Ainda sim não serei saciado.

Eu preciso sentir o gosto. Rubem Alves – grande escritor e contador de estórias –, diz que o cientista conhece as coisas com a cabeça; os sábios, com a boca. Apesar de a medicina ser uma realidade na minha vida diária, acho que não tenho vocação para cientista. Nem quero ter. Os cientistas são frios, matemáticos, estatísticos. Posso constatar isso cada dia mais. Pouco entendem das coisas do coração, principalmente do coração alheio. E isto, porque muitas vezes não escutam o que a boca do paciente diz, e, em não o fazendo, não usam a própria boca em favor do outro. E, por isso, erram nas condutas...cada vez com mais freqüência.

Diante de uma dor de cabeça, logo prescrevem um analgésico potente. Conhecem a cabeça das pessoas pelas fórmulas bioquímicas, e pela cabeça deles. Sobra ciência. Falta sabedoria; falta sapiência. O analgésico diminui a liberação de prostaglandinas, e a dor, momentaneamente, passa. Mas o analgésico não muda os hábitos de vida, não tira preocupações, muito menos estresses. E mudar hábito de vida, dirimir preocupações, aliviar estresses requer saber ouvir, requer saber falar. Requer tempo.

Tempo?! O que é isto? Diriam alguns, espantados. Ora, tempo é aquilo que passa rápido e você não vê. Como não vê, diz não ter para praticar exercícios físicos, não ter para ouvir o seu filho, para sua esposa, para seu marido, para estudar, para curtir a vida, para passear, para apreciar uma boa música, para tomar café feito no fogão a lenha. E, definitivamente, não ter para ficar à toa, fazendo absolutamente nada, contemplando o ócio, já que isso é coisa de gente que tem tempo sobrando.

Pois eu tenho tempo sobrando. Sempre tive. As prioridades que às vezes mudaram. A minha prioridade atual é ficar fazendo quase nada, deitado numa rede, comendo um biscoito de queijo feito num forno de barro, na roça. Para completar, acrescento um café com grãos torrados e moídos na hora, bem quentinho, feito num fogo preguiçoso de uma fornalha acessa com gravetos.

Uma prioridade dessas, por mais desenvolvido que seja, o mundo virtual não aplaca. Aquele cheiro da fumaça que sobe em volúpias, aquela liga do biscoito que só os de fazenda, com muito queijo, têm. O balançar da rede...

Penso que a internet precisa de mais sábios, e menos de cientistas. Os cientistas só vêem, observam e pensam; não sentem cheiro, não percebem o gosto. Definitivamente, não compreendem o que eu digo.

Ismael Alexandrino


Ao som de 'Jardim da Fantasia' - Renato Teixeira e Pena Branca & Chavantinho
Degustando Biscoito de Queijo com Café Preto
Imagem:'Biscoito de queijo caseiro' - Ismael Alexandrino

5 comentários:

K disse...

é... esse gosto pela vida me leva a construir uma casa no interior, para sentir exatamente isso, o sabor das coisas, tempo para ver uma andorinha voar, ver um avião passar, correr pelo verde da grama, um sonho. Mas agora tão perto da realidade para mim. Te entendo e te apoio no post. Os loucos não entendem, mas nosso coração entende, não é?
beijo, querido

Kari disse...

Confesso que fiquei com uma vontade enorme de me balançar numa rede, degustando um cafézinho...

É, a internet ainda não pode não dar tantos prazeres assim, mas, do jeito que as coisas andam, quem sabe um dia? Ou não...
Talvez algumas coisas nunca sejam substituidas e nem precisem ser...

Beijo

Anônimo disse...

Concordo com o post acima, quando diz que há coisas que nunca serão substituídas e nem precisem ser...

Imagina se a internet já nos oferecesse esses recursos; Teríamos uma vida baseada no artificial, no supercial. E nossos filhos? Jamais conheceriam o prazer de sentir o cheiro de um café torrado na hora... De terra molhada que só o interior tem...

Tenho certeza de que jamais o homem, mesmo que seja o mais inteligente, poderá reproduzir essas sensações com perfeição... Afinal, esses prazeres da vida fazem parte da natureza, que é perfeita, e só alguém perfeito para criá-la.

E viva às coisas simples que a vida nos oferece... Porque aí está a felicidade!

Beijo...

Anônimo disse...

Fala, Ismael,

Estou decepcionado. Como é q um cara inteligente feito tu vai torcer logo pro Corinthians?

abraço.

Lauren disse...

VErdade!!
Sentidos precisam viver!

Excelente seu café!!!!!!!!!!!!!!!
Beijos