Café Alexandrino - O lado aromático da vida

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Manhã

Conto


Cinco da manhã. Como de costume, Álvaro acorda.

Mais um dia. Da janela, hoje acredito que vá chover por volta das dez horas. Logo se levanta e após tomar banho vai preparar o café. Melancia, manga, iogurte, cuscuz, me esqueci de comprar ovos! Também pudera, acabei a faxina da casa seis e meia da noite, tomei banho, jantei e fui dormir. Eu como cuscuz com carne. O café é degustado devagar e mais lenta ainda é a lavagem dos pratos após. Enxugadas as mãos, vou ver se colocaram o jornal na minha porta. Mais um assassinato e a seleção de vôlei ganha de novo. Alguém poderia pensar que os jogadores são todos assassinos. Que primeira página estúpida e sarcástica. Vende-se apartamento tipo estúdio com sessenta metros quadrados por setenta mil, aceitamos troca. Seria uma boa, pelo menos economizaria tempo na faxina e poderia ler mais. 81 3332 4567. Acho que está muito cedo, deixa-me ler logo esta carta que chegou. Prezado Sr. Álvaro, o serviço de e-mail continua disponível para o senhor fazer o cadastro. Um feliz Natal. As felicitações eu aceito, mas se eles conhecessem um pouco mais do que meu nome, veriam que um e-mail não tem a mínima lógica. E a manhã foi sendo regada com muita música e poucas palavras.

Vou comer lasanha mesmo. Telefone! Alô? Álvaro, sabe quem está falando? Oi Rodrigo. Ainda reconheces minha voz! É o costume do passado. Só liguei para desejar feliz Natal. Para você também. Um abraço, tchau. Acertei que ia chover, mas que Rodrigo ia ligar é querer muito de mim. Foi bom, só assim me lembro de comprar novas luzes de Natal. E a tarde se resumiu à ópera de Carmem, Otelo e alguns cochilos.

E novamente o telefone. É hoje! Alô? Por favor, gostaria de falar com o senhor Álvaro. Não precisa engrossar a voz Marcelo, tudo bom? Álvaro, depois de todo esse tempo você ainda continua surpreendendo. Acho que a surpresa foi maior da sua parte. Feliz natal, meu amigo, sempre penso muito em você. Para você também, Marcelo. Tchau.

Pensar, pensar, pensar... não acredito que as pessoas pensem tanto e não façam nada. A atitude não pensada é ruim, mas acredito que o pensar sem ação seja pior. O mundo todo pensa, e olha como ele está.

E mais algumas ligações aconteceram naquela noite regada por uma taça de vinho e muitas estrelas.

Nove horas, já está tarde e não estou me sentindo bem. Vou dormir. E com as sandálias sem sair do chão e a mão esquerda apoiando na parede do corredor ele caminha.

Oito horas da manhã as luzes continuavam a piscar e colorir a casa. Álvaro, deitado, agora dormia sem suspirar. E naquele dia, e no outro, e no outro não houve mais ligações, até o vizinho perceber algo estranho e chamar o bombeiro, que retirou o corpo solitário, que teve um enterro mais solitário ainda.

João Antonio Ribeiro

Ao som de 'Faust' - Franz Liszt/Filarmônica de Berlim
Degustando Nega Maluca
Posted by PicasaImagem: 'Paisagem' - Antônio Bandeira, 1964

8 comentários:

Anônimo disse...

Ficou mto triste, João :(
Não gosto de coisas tristes :(
Mas gosto de seus contos pq vc escreve mto bem ;)
Bjus pra vc ...

E Isma, roubei um poema teu pra botar no meu flog...
Vê lá: www.fotolog.net/feiby
Bjus pra vc tb :D

Ludmilla Balduino disse...

Conheço a Paola.
Também gostei daqui. Abraços

Viscondi disse...

Como sempre. 10. Ler você é um prazer imenso.
Um abraço fraterno.

Anônimo disse...

Finalmente um cybercafe no blog! Parabéns! Sedutor www.conquistarmulheres.com

Anônimo disse...

Olá Ismael,
Gosto crônicas e contos curtos, textos que no remetem à vida cotidiana, seus flagrantes, trivialidades, banalidades e riquezas "esqucíveis" que preenchem o dia-a-dia. Me fez lembra o dircurso final de "Roy" (acho que era esse o nome dele), replicante do Blade Runner, falando do que já havia vivido e visto e levaria com ele.
Obrigado pelo café estava delicioso.
abraços.

Anônimo disse...

Olá Ismael,
Gosto crônicas e contos curtos, textos que no remetem à vida cotidiana, seus flagrantes, trivialidades, banalidades e riquezas "esqucíveis" que preenchem o dia-a-dia. Me fez lembra o dircurso final de "Roy" (acho que era esse o nome dele), replicante do Blade Runner, falando do que já havia vivido e visto e levaria com ele.
Obrigado pelo café estava delicioso.
abraços.

Anônimo disse...

Gosto crônicas curtas, textos que no remetem à vida cotidiana, seus flagrantes, trivialidades, banalidades e riquezas "esqucíveis" que preenchem o dia-a-dia. Me fez lembra o dircurso final de "Roy" (acho que era esse o nome dele), replicante do Blade Runner, falando do que já havia vivido e visto e levaria com ele.
Obrigado pelo café estava delicioso.
abraços.

Anônimo disse...

Gosto crônicas curtas, textos que no remetem à vida cotidiana, seus flagrantes, trivialidades, banalidades e riquezas "esqucíveis" que preenchem o dia-a-dia. Me fez lembra o dircurso final de "Roy" (acho que era esse o nome dele), replicante do Blade Runner, falando do que já havia vivido e visto e levaria com ele.
Obrigado pelo café estava delicioso.
abraços.