Conto

Mais um dia. Da janela, hoje acredito que vá chover por volta das dez horas. Logo se levanta e após tomar banho vai preparar o café. Melancia, manga, iogurte, cuscuz, me esqueci de comprar ovos! Também pudera, acabei a faxina da casa seis e meia da noite, tomei banho, jantei e fui dormir. Eu como cuscuz com carne. O café é degustado devagar e mais lenta ainda é a lavagem dos pratos após. Enxugadas as mãos, vou ver se colocaram o jornal na minha porta. Mais um assassinato e a seleção de vôlei ganha de novo. Alguém poderia pensar que os jogadores são todos assassinos. Que primeira página estúpida e sarcástica. Vende-se apartamento tipo estúdio com sessenta metros quadrados por setenta mil, aceitamos troca. Seria uma boa, pelo menos economizaria tempo na faxina e poderia ler mais. 81 3332 4567. Acho que está muito cedo, deixa-me ler logo esta carta que chegou. Prezado Sr. Álvaro, o serviço de e-mail continua disponível para o senhor fazer o cadastro. Um feliz Natal. As felicitações eu aceito, mas se eles conhecessem um pouco mais do que meu nome, veriam que um e-mail não tem a mínima lógica. E a manhã foi sendo regada com muita música e poucas palavras.
Vou comer lasanha mesmo. Telefone! Alô? Álvaro, sabe quem está falando? Oi Rodrigo. Ainda reconheces minha voz! É o costume do passado. Só liguei para desejar feliz Natal. Para você também. Um abraço, tchau. Acertei que ia chover, mas que Rodrigo ia ligar é querer muito de mim. Foi bom, só assim me lembro de comprar novas luzes de Natal. E a tarde se resumiu à ópera de Carmem, Otelo e alguns cochilos.
E novamente o telefone. É hoje! Alô? Por favor, gostaria de falar com o senhor Álvaro. Não precisa engrossar a voz Marcelo, tudo bom? Álvaro, depois de todo esse tempo você ainda continua surpreendendo. Acho que a surpresa foi maior da sua parte. Feliz natal, meu amigo, sempre penso muito em você. Para você também, Marcelo. Tchau.
Pensar, pensar, pensar... não acredito que as pessoas pensem tanto e não façam nada. A atitude não pensada é ruim, mas acredito que o pensar sem ação seja pior. O mundo todo pensa, e olha como ele está.
E mais algumas ligações aconteceram naquela noite regada por uma taça de vinho e muitas estrelas.
Nove horas, já está tarde e não estou me sentindo bem. Vou dormir. E com as sandálias sem sair do chão e a mão esquerda apoiando na parede do corredor ele caminha.
Oito horas da manhã as luzes continuavam a piscar e colorir a casa. Álvaro, deitado, agora dormia sem suspirar. E naquele dia, e no outro, e no outro não houve mais ligações, até o vizinho perceber algo estranho e chamar o bombeiro, que retirou o corpo solitário, que teve um enterro mais solitário ainda.
João Antonio Ribeiro

Degustando Nega Maluca

8 comentários:
Ficou mto triste, João :(
Não gosto de coisas tristes :(
Mas gosto de seus contos pq vc escreve mto bem ;)
Bjus pra vc ...
E Isma, roubei um poema teu pra botar no meu flog...
Vê lá: www.fotolog.net/feiby
Bjus pra vc tb :D
Conheço a Paola.
Também gostei daqui. Abraços
Como sempre. 10. Ler você é um prazer imenso.
Um abraço fraterno.
Finalmente um cybercafe no blog! Parabéns! Sedutor www.conquistarmulheres.com
Olá Ismael,
Gosto crônicas e contos curtos, textos que no remetem à vida cotidiana, seus flagrantes, trivialidades, banalidades e riquezas "esqucíveis" que preenchem o dia-a-dia. Me fez lembra o dircurso final de "Roy" (acho que era esse o nome dele), replicante do Blade Runner, falando do que já havia vivido e visto e levaria com ele.
Obrigado pelo café estava delicioso.
abraços.
Olá Ismael,
Gosto crônicas e contos curtos, textos que no remetem à vida cotidiana, seus flagrantes, trivialidades, banalidades e riquezas "esqucíveis" que preenchem o dia-a-dia. Me fez lembra o dircurso final de "Roy" (acho que era esse o nome dele), replicante do Blade Runner, falando do que já havia vivido e visto e levaria com ele.
Obrigado pelo café estava delicioso.
abraços.
Gosto crônicas curtas, textos que no remetem à vida cotidiana, seus flagrantes, trivialidades, banalidades e riquezas "esqucíveis" que preenchem o dia-a-dia. Me fez lembra o dircurso final de "Roy" (acho que era esse o nome dele), replicante do Blade Runner, falando do que já havia vivido e visto e levaria com ele.
Obrigado pelo café estava delicioso.
abraços.
Gosto crônicas curtas, textos que no remetem à vida cotidiana, seus flagrantes, trivialidades, banalidades e riquezas "esqucíveis" que preenchem o dia-a-dia. Me fez lembra o dircurso final de "Roy" (acho que era esse o nome dele), replicante do Blade Runner, falando do que já havia vivido e visto e levaria com ele.
Obrigado pelo café estava delicioso.
abraços.
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