Café Alexandrino - O lado aromático da vida

quinta-feira, 17 de maio de 2007

A Bela Azul

Crônica

Como a Terra é bela! Certos estavam os teólogos e astrônomos antigos em colocá-la no centro do universo! Os astrônomos modernos e os geômetras se riram da sua ingenuidade e presunção... Ora, a terra, essa poeira ínfima, perdida em meio a bilhões de estrelas e galáxias centro em torno do qual todo o universo gira?

Mas eles, cientistas, não sabem que há duas formas de determinar o centro. Pode-se determinar o centro com o cérebro e pode-se determinar o centro com o coração. O cérebro mede o espaço vazio com réguas e calculadoras para assim determinar o seu centro geométrico. Mas para o coração o centro do universo é o lugar do amor.

Para o pai e a mãe, qual é o centro de sua casa? Não será porventura o berço onde seu filhinho dorme? E para o trabalhador na roça, cansado e coberto de suor, o centro do mundo não é uma fonte de água fresca? Naquele momento, tudo o mais, que lhe importa? Chove e faz frio. A família inteira se reúne em torno da lareira, onde o fogo crepita. Ali se contam estórias...E sabe o apaixonado que o centro do mundo é o rosto da sua amada, ausente...

O centro do universo para os homens que vivem, amam e sofrem nada tem a ver com o centro geométrico do universo dos astrônomos.

Assim sentiu Deus... Dizem os poemas da Criação que, terminada a sua obra, seus olhos se voltaram não para o infinito dos céus vazios mas para a beleza da Terra. Olhou para o jardim, para suas árvores, pássaros e regatos, e sorrindo disse: "É muito bom!" Sim. É bom porque é belo. A Terra é o centro do universo porque é bela. E a beleza nos faz felizes.

Recebi de um amigo, via Internet, uma série de fotografias da Terra, tiradas de um satélite. Vinha com o nome de "A Bela Azul". Que lindo nome para a nossa Terra! Porque é com a cor azul que ela aparece. Lembrei-me de um verso de Fernando Pessoa: "... e viu-se a Terra inteira, de repente, surgir, redonda, do azul profundo". O filósofo Nietzsche era um apaixonado pela Terra. Dizia que era uma deformação do espírito, num dia luminoso, ficar em casa lendo um livro quando a natureza está lá fora fresca e radiante. É possível imaginar que ele, que proclamou a morte de Deus, tenha secretamente eleito a Terra como seu objeto de sua adoração.

Mas agora anunciam os cientistas que A Bela Azul está agonizante...

Rubem Alves


Ao som de 'Raindrops Keep Falling On My Head' - B.J. Thomas
Degustando Barra de Cereal e Suco de Goiaba
Imagem:'A Bela Azul' - Ismael Alexandrino, a bordo, navegando no mar azul de Goiás

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