Café Alexandrino - O lado aromático da vida

domingo, 6 de maio de 2007

LUTO: Ao Mestre Enéas Carneiro

Homenagem Póstuma

Em 05 de novembro de 1938, nascia um dos maiores homens que este país já conheceu.

Tive o privilégio de ser seu discípulo, seu aluno de medicina, mesmo que brevemente, quando este ministrava – brilhantemente – seu conceituado curso de "Eletrocardiograma" no Rio de Janeiro.

Há muito, eu já o admirava como professor universitário, político exemplo de honestidade, e formador de opinião. Com o convívio pessoal, passei, também, a admirá-lo como pessoa, como ser humano, que se preocupa com o outro, com o seu irmão. Muitos pensavam, talvez pelo tom de voz enérgico e a forma enfática e expressiva dele falar, que ele fosse agressivo ou autoritário. Mas, ao contrário, ele era extremamente pacífico, educado, generoso, e gentil.

Ele amava o conhecimento, amava o Brasil e amava os brasileiros. Angustiava-se com a miséria e com a condição subumana de vida dos seus compatriotas, e dos indivíduos que pereciam por fome, ou por falta de cuidado digno. Tantas vezes o vi esbravejar contra essa condição deplorável de vida. Ele sentia a dor do outro. Condoia-se.

Portador de um caráter ilibado, de uma ética inquestionável, e de uma moral irretocável, procurou dar o melhor de si naquilo que se meteu a fazer, naquilo a que se dedicou. Com formação em medicina, física, matemática e militar, e com estudos na área de filosofia, antropologia, robótica, lógica, geopolítica e ciências sociais, se mostrou como um pensador nato. Agraciado com uma mente brilhante, alegrava-se em compartilhar aquilo que aprendeu com os outros. Em 1998, quando, numa entrevista, lhe informaram que grande parte da população o via como "inteligente e brilhante"
, comentou: "Não é um atributo pelo qual eu tenha mérito nenhum. Foi Deus quem me deu. É como beleza física. Ninguém tem mérito por ser bonito".

Mesmo depois de acometido com uma doença grave e profundamente debilitado, procurava exercer as suas atividades com diligência e otimismo, então como político eleito para a câmara federal.

Militou na política, procurando sempre ser coerente com sua fundamentação ideológica. Inúmeras vezes foi mal-interpretado. Outras, até ridicularizado. Sobretudo, por não fazer o tipo populista ao expor suas opiniões, mesmo aquelas mais polêmicas. Era autêntico, doía a quem doer, e não negociava suas convicções, não traía a sua consciência.

O Brasil, sem dúvida, perde um grande homem, um estandarte, um exemplo de garra
que saiu do Acre aos 9 anos de idade, órfão, para morar no Rio de Janeiro, estudar e sustentar sua família. O país perde um exemplo de determinação, de disciplina, de altruísmo, e de tantos outros adjetivos de qualificação positiva. Eu, no entanto, perco um mestre, um colega, um referencial... Eu perco um amigo.

Fica, para a família Ferreira Carneiro, meu gesto de apoio, de compaixão, de condolências.

Fica, também, meu choro contido, de quem sente profundamente uma perda irreparável.

Fica, sobretudo, o meu reconhecimento sincero, o meu respeito, a minha admiração, a minha homenagem àquele que, para mim, será sempre o imortal Enéas Carneiro.

Em luto,
Ismael Alexandrino


Degustando Lágrimas
Ao som de 'What a wonderful world' - Louis Armstrong
Imagem:'Ismael Alexandrino, Professor Dr. Enéas Carneiro, Drª. Roberta, Dr. Daniel Alexandrino, Dr. Wander, em julho de 2004.' - Ismael Alexandrino

4 comentários:

Anônimo disse...

Querido Ismael,

aquele bordao ´Meu nome é Enéas` é fácil ser lembrado, imagino entao para quem teve algum contato com ele, e ainda por cima conhecendo o lado humano, o qual vc diz, foi tao altruísta.

Fica o exemplo de vida a ser seguido, pessoas assim merecem homenagens mil, e nada, nada de tristeza!

Anônimo disse...

Te entendo bem... é uma tristeza de dar gosto.

Difícil ter que enfrentar essas coisas na vida, mas viver é mesmo como escalar uma montanha, alguns nem chegam a subir. No caso do Sr. Enéas, ele está agora subindo mais uma delas, e será mais uma que ele enfrentará com bravura, com certeza.

Que ele siga em paz, pois chegou a hora dele descansar.

À família, à você, minhas condolências...

K disse...

Querido, sabe o que me faz sorrir? saber que foi um homem que lutou, cresceu e se posicionou na vida, foi e é conhecido e admirado. Creio que ele está feliz. Quantos de nós queremos "ser alguém" lutamos, esmorecemos, mas continuamos. Feliz daqueles que conseguem cumprir seu objetivo, não é? Sorria por ele. um grande beijo, saudades

Gui disse...

Com os olhos cheios de lágrimas lamento profundamente a perda do nosso Professor... não consigo dizer outras palavras a não ser essas...