Café Alexandrino - O lado aromático da vida

sexta-feira, 4 de novembro de 2005

Cardioterapia

Poesia


Não quero livros que me falem friamente
De um coração doentio,
Hipertrofiado,
Hipofuncionante,
Com ventrículo dilatado
pulsando errante.
Cansei dessa conversa técnica,
do bisturi afiado,
do ponto simples,
até mesmo de um Donati bem dado.
Não preciso mais que me falem
De um coração de quatro câmaras,
Isquêmico,
revascularizado,
Cansado da lida,
que viveu toda sua vida
na mesmice de não ser bem cuidado.
Não quero saber de válvulas insuficientes,
Não quero simplesmente válvulas de escape.

Quero a essência,
o âmago,
o epicentro,
o sentido...
e o busco muito amiúde!
Para muitos, busco um conhecimento rude.
Mas, chega de uma complexidade de domínio público!
Quero livros que me falem do que não sei
De uma particularidade ímpar,
Daquilo que um dia sonhei.
Quero algo empírico, experimentado,
Um conhecimento próprio,
Nada que venha muito pronto,
Estatisticamente moldado.
Não se trata, todavia, de existencialismo da moda,
Busco a simplicidade não anatômica.

Meu coração pode até parar por um instante,
Desde que todos também parem para ouvir a sua voz
Pois estou com vontade é disso...
de sair declamando poesia,
olhando nos olhos,
expressando-me em cada verso,
ensaiando as palavras,
vendo o relampejo de olhares assustados,
que cheios estão de pensamentos fugazes,
tal qual a bruma que passa,
mas, em seu passar,
momentaneamente pára,
e mesmo rápido, não latente, inebria,
e vai indo...indo... e contagia,
alvoraça a alma do andante,
norteia o itinerante , e em mim,
rasga o peito de um coração amante!

Ismael Alexandrino

Ao som de 'Chão de Giz' - Oswaldo Montenegro
Degustando Café com Leite e Canela
Posted by PicasaImagem: 'O Grito' - Edvard Münch, 1893

2 comentários:

Anônimo disse...

Que Café mais acolhedor! Não ausência de reais espaços que nos 'aconcheguem' vamos nos aproximando virtualmente, aproximando nossos espíritos
de outros igualmente belos e repletos de essência contagiante,
desprendindo, dentro do possível de necessidades corporeas... não que está não seja importante, mas existem almas clamando por ar, liberdade, verdade e sentido.
Não sei se pelo vício do café, se pelo atendimento ou pelo conjunto da obra, mas certamente voltarei,
para novos cafés ou um bate-papo, um observar e refletir.
ABRAÇOS APERTADOS.

Anônimo disse...

HAHAHAHA fiquei surpreso ao ver que alguém havia "postado" em meu blog. Há muito que deixaram de escrever, por isso, continuo o trabalho, talvez como uma válvula de escape da bendita moral que me assola, mas também para me fazer valer e lembrar daquilo que passa, e do que puder obter empiricamente de tais momentos.Muito obrigado.

Agora, vamos ao que interessa... Conheci seu blog hoje, e, sinceramente, está de parabéns! Não há melhores palavras do que aquelas ditas por Ronaldo Faria:
"Parabéns pela 'casa".
Gostei muito do post "Cardioterapia", achei brilhante, e do conto "Depois da festa, vem o café", de uma beleza rara.Simples, entretanto, ainda assim, de uma aparência majestosa.
Ainda não pude ler os outros posts, mas assim que puder o farei.

Estarei de volta para outros sinais... forte abraço

Felipe