Café Alexandrino - O lado aromático da vida

quinta-feira, 10 de novembro de 2005

O vestido

Conto



Vermelho. Não totalmente vermelho, mas com traços brancos, azuis e alguns complementos rendados. O tamanho é variado, mas ele nasceu para ser longo como uma noite de São João. Vou adiantando que ele foi usado como programado: no dia certo, no tamanho certo para a pessoa certa, e depois fora guardado para servir de lembrança, ou quem sabe de quebra-galho. Essa segunda opção se tornou a mais propícia há alguns anos (a dona não mais se lembrava da época certa daquele vestido dobrado). O improviso foi feito.

Uma nova dona, com tamanho diferente, largura diferente, idade diferente e bem mais encabulada. E o vestido fez sua parte (claro que com alguns retoques da antiga dona, mas o suficiente para dançar sem preocupação). Ela estava linda. A festa com suas cores, comidas e a música que não parava. Isso era o mote para nova dona e seu vestido vermelho girar pelo arraial.

Lembrando outras ocasiões, tentei fazer com que Ela e o vestido seguissem os meus passos na dança, mas, mostrando vida própria, Eles tomavam outro rumo, e o descompasso era evidente aos meus olhos e das pessoas em volta.

Reclamei, fiquei chateado sem os outros perceberem e sentei. Ela continuava a rodar. E vinham comentários aos meus ouvidos de que Ela era linda, que o vestido ficou ótimo e que eu estava de parabéns... e mesmo eu concordando e sorrindo, interiormente eu pedia para não dizer isso a mim, mas a Ela e seu vestido. Eles tinham vida própria, e eu não era responsável por aquela aparição. Continuei admirando, enquanto o trio não cansava de tocar sucessos...

O amanhecer anunciara o fim daquela parceria.

Hoje é dia de festa, e o vestido continua dobrado. Não existe uma nova dona que o desamasse e, mesmo se a tivesse, com certeza ele teimaria em caber nas medidas, no passo, nos comentários. Hoje, percebo que o vestido não tem tanta vida assim como eu imaginara naquela noite. Hoje, aquela dona está distante, e o vestido não serve mais de quebra-galho. Hoje, ele somente está guardado para o que primeiramente foi proposto : servir de lembrança.

João Antonio Ribeiro

Ao som de 'Que nem jiló' - Luis Gonzaga
Degustando Café com Leite com Pamonha
Posted by PicasaImagem: Vilarejo - Fulvio Pennacchi

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Alex, que belo lugar para um cafezinho, hummm! Adorei receber teu convite. Demorei é verdade, mas estava viajando e fora da net. E esse vestido? O que dizer desse texto? Que amei! Senti um prazer imenso em percorrer cada palavra. O vestido está guardado, mas por certo, servirá para alguém um dia - é só esperar... beijo meu e ficarei um pouco mais a deliciar-me com as letras e emoções das tuas postagens.
Anne.
http://www.anne_voce.blogger.com.br