Café Alexandrino - O lado aromático da vida

quarta-feira, 16 de novembro de 2005

Tempo

Conto



E foi logo após o suspiro de Sérgio que Rayca bateu a porta e seguiu em direção ao carro. Ele, como de costume, assim permaneceu com os olhos vagantes buscando nas estrelas talvez uma nova morada.

Ao entrar no carro, Rayca quietou-se e não precisou esforço para o corpo tomar posse de si e desencadear soluços e lágrimas que ela tentava conter. Estava indefesa. E foi esse sentimento que a fez fugir dali e talvez da vida. Se ele pensa que o silêncio vai me tirar do sério está muito enganado.

Enquanto o trânsito e Rayca se tornavam um turbilhão só , a respiração preguiçosa agora era acompanhada pela Missa de Bach no apartamento. Os olhos fechados e a luz tênue eram a
oposição de uma cidade-grande vista pela varanda. E numa das encruzilhadas estava Rayca. Assustada e exausta, se perdera pouco a pouco diante dos próprios olhos. Flashes de anúncios passavam como que se tentando formular uma hipótese do que realmente acontecia. Ela, afogada em suas próprias palavras nem de longe lembrava àquela mulher seca e ríspida de ontem e sempre.

Descalço, só se ouvia o ranger da madeira cada vez mais perto da cama desarrumada e fria.

Rayca de súbito percebeu que o carro a levara ao passado. A casa vazia e desbotada de muro baixo verde de musgo a fez abrir a porta do jipe. Passo a passo as pernas a levavam atrasando o percurso do pensamento , mas quando chegou ao portão percebeu que já não tinha as chaves. Quanto tempo.

O corpo quente agora esquentava o colchão que cedia ao peso da carne.

Que abandono absurdo. Rayca, de joelhos, peço pelo menos um fim, qualquer que seja.

Ao se levantar com os olhos-sangue ela retorna ao carro na contramão dos sonhos .

Sérgio dorme.

O carro no piloto automático revela a angústia pelos tempos idos.

O Apartamento é escuridão e ausência.

Rayca chega e não perturba o ambiente. Sem espaço na cama, ela pega o travesseiro e se deita no sofá. Sorri , quando a dor te torturar...

João Antonio Ribeiro

Ao som de 'Noites Cariocas' - Jacob do Bandolim
Degustando Café Mocha
Posted by PicasaImagem: 'Casa' - José Leonilson

5 comentários:

Anônimo disse...

Ismael que bom que você voltou,é sempre muito bom vir aqui te ler;vim também agradecer a sua ida ao Caminhando.Obrigada.
Beijo

Anônimo disse...

Adorei os novos textos..vcs estavam inspirados mesmo..Estou ficando viciada em tomar chocolate aqui...Beijos e parabéns a página tá muito interessante.

Anônimo disse...

Que blog bonito, q ue coisas deliciosas. vc chega quando estou in do.. desistindo das letras.
mas torno ao teu café, mesmo enquanto procuro outra pintura para minha casa.

te beijo
Nefertari

Anônimo disse...

Delícia de blog! :-)

Anônimo disse...

piriquital!! Ficou massa o texto visse, uma viagem ! Abraço!