Conto

O conto sempre me cativou e foi sobre esse fascínio que escrevi meu primeiro conto intitulado "Canto Cativo". Por causa dele fui escolhido para a antologia regional depois de um mês de abandono da poesia. A minha nova paixão não agüentou os cinco prêmios do segundo filho, que se chamava "A fábrica de vidro".
Essas duas frustrações foram responsáveis por uma semana de confinamento num estúdio do outro lado da cidade onde resolvi pela primeira vez me aventurar nas melodias da gaita enferrujada de meu pai. De onde não se saía mais som, surgiu o CD instrumental do ano. Duzentas mil cópias vendidas e muita recusa de minha parte para turnês e aparições em público.
A música expulsei pela janela. (naquele momento vazio, não cheguei a cogitar a idéia de dançar. Sou tímido e quero continuar admirando Barishinikov.)
Com o dinheiro do CD comprei um apartamento num bairro afastado e depositei o resto na conta de minha mãe.
Hoje sou pintor. Não sinto mais necessidade de sair de casa (a comida me chega todo dia pela manhã junto com meus pincéis e tintas). As janelas vivem fechadas, mas aqui dentro meus quadros de paisagens e figuras humanas substituem o mundo lá fora. Vivo uma vida silenciosa e sem cheiro, embora meus olhos não reclamem das pessoas e flores antes nunca vistas e admiradas.
A minha mão e meu corpo estão exaustos (a minha mente exige muito). Já não quero mais compreender Fausto. Estou cansado de não decepcionar. Estou cansado de não viver.... Um único tiro na têmpora foi suficiente.
João Antonio Ribeiro

Degustando um Café Preto com poucos cristais de açúcar

Um comentário:
oi Ismael. Pelo jeito a produção anda a toda no teu café hein?
Fausto invertido....ou quase isto....gostei mas achei intrigante e forte.
Beijos e boa semana
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