Café Alexandrino - O lado aromático da vida

sábado, 26 de novembro de 2005

Reencontro

Conto


E o restaurante pareceu-me uma grande cartola e ela a nova surpresa que aparecia agora ao público (quem me dera que a platéia se resumisse a mim). Olhos cansados, embora o brilho permanecesse o mesmo, ou maior estivesse - o que é pior. Os cabelos de um colorido incerto e a pele com uma tenacidade abrandada, encoberta por um luto falso vinha em minha direção. De olhos fechados poderia descrever o vai-e-vem da carne negra em seu caminho. Mas o que mais me chamou a atenção foi o sorriso ( grande demais para o que eu me recordava). E isso me causou estranheza. Sem perceber-me, ela saiu. Meu corpo cansado frustrou meus pensamentos fugidios que a seguiam agora pelas ruas.

Resolvi pedir mais uma cerveja (talvez para fingir que nada havia acontecido). Depois fui para casa onde Rilke me esperava ansioso por causa do jantar. Aquele grande sorriso não saia da minha cabeça. E isso me causava angústia. Por que naquele momento a sós os lábios tão escancarados? Para que tanta exuberância? Para quem àquela janela doce se abrira? E acordei na manhã seguinte com Rilke lambendo meu rosto. Já eram dez horas e ele estava com fome.

Uma semana depois, fui novamente ao restaurante na esperança de reencontrar aquele sorriso agora mais tímido. E dentre vários lábios os dela não estavam lá, mas dentro de mim já me encobriam a face.

E esse ritual de ida e frustrações continuou por várias semanas.

Hoje faz um ano que aquele grande sorriso aqui apareceu, e agora ele me encobre todo. Hoje me arrependo de não tê-la seguido(talvez para pedir perdão e carinho, ou para perguntá-la o porquê daquela feição). Hoje faz onze anos que nós nos separamos por minha vontade e desespero dela.

João Antonio Ribeiro


Ao som de 'Chega de Saudade' - Vinícius de Moraes e Tom Jobim
Degustando Cerveja Preta
Posted by PicasaImagem: 'Casario'- Manoel Martins

4 comentários:

Anônimo disse...

eu procuro lábios que não encontro e que sei que anda pela cidade, toma cervejas dantes degustadas por nós dois e não encontro...
não me livro, não me liberto da prisão que é aquele para de olhos...
te beijo

nefertari

Anônimo disse...

suave...você é suave..
gosto disto...
me fez feliz por me deixar ler você....
eu volto..
adoro café...

Anônimo disse...

Adorei, os novos textos...estão ficando cada vez melhores. Beijos

Luise disse...

Que delícia de café! Adorei.