Café Alexandrino - O lado aromático da vida

domingo, 13 de novembro de 2005

Quando eu fui buscar você

Conto



Não sei se você percebia, mas você voava alto. Eu gritava seu nome e nada de me escutar. Chamava, chamava e você só queria saber de voar. Parecia uma fada. De todas as formas pensei no que fazer. Pensei em subir numa asa de borboleta, mas talvez ela não agüentasse o peso da minha dor. Pensei em subir nas asas de um avião. Foi quando me veio que ele andava rápido demais e poderíamos nos desencontrar. Vaguei nos recôncavos das minhas idéias, tentando procurar um meio que eu pudesse te buscar.

Entrei num corredor branco em que as pessoas me olhavam assustadas. As paredes brancas pareciam refletir a face daquela gente que ficava por ali. O ar frio parecia ter resfriado o coração do pessoal e eles me olhavam sem entender o que eu fora fazer. Uma senhora de olhar singelo veio correndo ao meu encontro chorando e implorando que eu a ajudasse a encontrar você. Eu a tranqüilizei e pedi que ela acalmasse, pois eu viera para te buscar.

Sentei junto àquela senhora e folheamos algumas páginas de um velho diário para saber qual era o seu plano. Numa daquelas linhas eu tive a luz. Você me lembrara da minha condição de anjo e, como tal, eu também poderia voar. Mais que depressa tirei minha vestimenta e abri minhas asas. Voltei correndo por aquele corredor e quando cheguei de fora, te vi bem longe entre as nuvens. Você sorria bastante, enquanto se lambuzava com as nuvens de algodão doce.

Sem demora alcei vôo rumo ao céu. Era minha primeira missão como anjo. O vento batia forte em meu rosto, mas minhas asas fortes batiam firmes em sua direção. Assim que cruzei os morros de uma baía, já pude te ver melhor. Lembro bem como foi bonito seu sorriso e quão doce o seu olhar quando me viu aproximando. Nunca vou esquecer como foi apertado aquele abraço. Estava ansiosa para me mostrar coisas bonitas num jardim que d'antes já havia me descrito. Desta vez também tinha alguém sentado num banquinho, mas não conseguimos vê-lo. Então você pegou na minha mão puxando-me para brincar com suas peraltices naquela imensidão de ruas de ouro. Era realmente muito bonito e reinava uma paz indescritível naquele lugar. Mas eu não podia demorar ali, pois havia ido te buscar. Muita gente confiara em mim e o olhar daquela senhora clamava-me para que eu te encontrasse e a levasse novamente para ela.

Passeamos um pouquinho e seus olhos brilhavam tanto que deixava todo aquele céu azul. Foi aí que descobri porque o céu era daquela cor. Olhamos para baixo e só havia nuvens carregadas; tão carregadas que não víamos a cor do mar. Num vôo angelical sobrevoamos a tempestade. Você ainda me lembrou daquele dia que havíamos dançando por ali a Valsa dos Anjos. Olhei bem dentro dos seus olhos e repeti que estava ali porque te amava muito e havia prometido que nunca ia te abandonar. Naquele instante você, convicta, repetiu que nosso amor para sempre faria sentido.

Quando passávamos perto do sol sentimos um calor profundo que aqueceu sem igual o nosso corpo e o nosso coração. Então te chamei para descermos rápido a fim de aquecer o coração frio daqueles que ficaram me esperando. Como estávamos bastante suados, combinamos que também mergulharíamos no mar a fim de nos refrescarmos.

Abraçamos firme e descemos em queda livre. Assim que passamos por aquela tempestade e que seus olhos contemplaram o mar, já pude notar que ele ficara azul novamente. Em poucos minutos chegamos e aquecemos o coração daquelas pessoas. Foi emocionante ver o sorriso delas. Arrepiei.

Então as deixamos todas ali felizes se abraçando, sorrindo de corações aquecidos e fomos nos refrescar no mar. No momento que você mergulhou, as ondas de imediato se acalmaram como que te reverenciando. Ficamos submersos alguns instantes e quando voltamos à tona, você estava um pouco diferente e me beijou demoradamente. Foi nesse dia que descobri o que era o amor e que, em se tratando de amor, era possível um anjo amar uma sereia.

Ismael Alexandrino



Ao som de 'Segredos' - Frejat
Degustando Café Orgânico
Posted by PicasaImagem: Parque Ushuaia - Marcelo Melo

Um comentário:

Anônimo disse...

Aqui é a Bel do Borboletras...
Obrigada pela visita ... descobriu como meu blog ? Desculpa mas sempre pergunto isso na primeira vez que alguém aparece pela primeira vez ...
Beijinhos ,
Bel .